Rejuvenescendo a cidade: o poder oculto dos espaços verdes
Estudo revela como os espaços verdes podem manter as pessoas mais jovens e aponta para a importância do planejamento urbano sustentável.
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Redação em 25 de agosto de 2023 4minutos de leitura
De acordo com a mais recente revisão das Perspectivas de Urbanização Mundial pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2018, aproximadamente 55% da população mundial já reside em áreas urbanas. No entanto, esse número é apenas o ponto de partida para um cenário que tende a se intensificar até 2050, quando estima-se que cerca de 68% da população global estará vivendo em centros urbanos. Nesse contexto de rápida urbanização, os espaços verdes enfrentam o risco de serem negligenciados, apesar das evidências científicas que comprovam seus benefícios para a saúde.
A proximidade de áreas verdes não apenas contribui para um ambiente com ar mais limpo e a redução das taxas de mortalidade e doenças cardiovasculares, mas também pode desempenhar um efeito de “rejuvenescimento”. Um recente estudo publicado na revista Science Advances revelou que essas áreas naturais têm a capacidade de retardar o envelhecimento biológico. As pessoas que residem perto desses espaços verdes são, em média, 2,5 anos mais jovens biologicamente em relação àquelas que não têm esse privilégio.
“Nosso estudo mostra que estar perto de um espaço verde causou algumas mudanças biológicas ou moleculares que podem ser detectadas em nosso sangue”, disse a professora de medicina preventiva da Feinberg School of Medicine da Northwestern University e pesquisadora do estudo, Lifang Hou, em entrevista ao The Washington Post.
Espaços verdes pode reduzir a idade biológica
Os cientistas buscaram desvendar a relação entre a exposição contínua a áreas verdes e o processo de envelhecimento. Para isso, eles acompanharam um grupo de mais de 900 participantes em quatro cidades dos Estados Unidos ao longo de duas décadas, comparando as mudanças biológicas relacionadas à idade com a proximidade de espaços verdes onde essas pessoas residiam.
Para mensurar o envelhecimento biológico, os pesquisadores utilizaram o DNA do sangue, realizando uma análise molecular minuciosa. Eles observaram pequenas mudanças no funcionamento dos genes associados ao envelhecimento, permitindo medir a idade biológica de cada indivíduo ao longo do tempo.
De acordo o estudo, a idade biológica de uma pessoa, que pode ser influenciada pelo estilo de vida, pode apresentar um quadro mais envelhecido do que sua idade cronológica real. Essa discrepância pode acarretar um maior risco de desenvolvimento de condições de saúde relacionadas à idade, tais como câncer, doenças cardiovasculares ou Alzheimer.
“A idade biológica é grandemente afetada pelas escolhas diárias que fazemos, como nossos hábitos alimentares e níveis de atividade física. Em outras palavras, está diretamente relacionada ao nosso estilo de vida. Essa constatação coloca uma forte ênfase na importância de adotarmos práticas saudáveis em nosso cotidiano para preservarmos a saúde e evitar complicações no futuro”, disse Hou.
No entanto, a pesquisadora destaca que a responsabilidade não está exclusivamente nas mãos de cada indivíduo. O estudo ressalta a importância do ambiente em que as pessoas vivem, como os bairros e comunidades, para determinar a saúde biológica. Medidas coletivas, como melhorias nos ambientes urbanos e acessibilidade a espaços verdes, também são cruciais para promover um envelhecimento saudável da população em geral.
Veja também o episódio 23 do podcast Habitability:
Impacto das áreas verdes na saúde
Através de imagens de satélite, a equipe de pesquisadores avaliou a proximidade das casas dos participantes em relação à vegetação e parques. Em seguida, esses dados foram analisados em conjunto com amostras de sangue coletadas nos anos 15 e 20 do estudo, permitindo determinar a idade biológica dos indivíduos.
A equipe utilizou modelos estatísticos para avaliar os resultados, controlando outras variáveis, como educação, renda e fatores comportamentais, incluindo o tabagismo, que poderiam influenciar os resultados.
As descobertas revelaram que as pessoas cujas casas estavam cercadas por 30% de espaço verde em um raio de cinco quilômetros apresentavam, em média, uma idade biológica 2,5 anos mais jovem em comparação com aquelas cujas casas tinham apenas 20% de cobertura verde.
Verde para todos?
O estudo identificou que o benefício não foi distribuído de maneira igualitária. Pessoas negras com maior acesso ao espaço verde tinham, em média, apenas um ano biologicamente mais jovem, enquanto as pessoas brancas apresentavam uma redução de três anos na idade biológica.
De acordo com os membros da equipe, há a necessidade de realizar mais estudos para compreender de que maneira as pessoas podem ser beneficiadas pela vegetação e quais outros fatores sociais podem influenciar nesse contexto.
Neste cenário, em entrevista à agência France Presse, a principal autora do estudo, Kyeezu Kim, pós-doutoranda na Feinberg School of Medicine da Northwestern University, explicou que outros fatores podem afetar a extensão desse rejuvenescimento.
O estresse, a qualidade do espaço verde circundante e até mesmo a infraestrutura de apoio social, sob a ótica de políticas públicas, são aspectos que podem desempenhar um papel importante. Por exemplo, parques ou áreas verdes negligenciadas, especialmente em comunidades menos favorecidas socialmente, podem não atrair o mesmo número de frequentadores. Isso pode levar a um menor aproveitamento dos benefícios para a saúde apontados pela pesquisa, resultando em uma distribuição desigual dos efeitos positivos.
Explorando a conexão entre saúde e planejamento urbano
Segundo os pesquisadores, os próximos passos do estudo envolvem uma análise mais aprofundada da ligação entre espaços verdes e resultados específicos de saúde, já que ainda não está totalmente claro como exatamente a proximidade da vegetação pode reduzir o envelhecimento biológico. No entanto, a pesquisa recentemente publicada representa um primeiro passo crucial em direção a mudanças importantes no campo da saúde.
“Acreditamos que nossas descobertas têm implicações significativas para o planejamento urbano, especialmente no que diz respeito à expansão da infraestrutura verde, a fim de promover a saúde pública e reduzir as disparidades de saúde”, conclui Kim.
A pesquisa abre novas possibilidades para compreender como a natureza e os espaços verdes podem influenciar positivamente a saúde das pessoas. Com base nos resultados obtidos até agora, políticas urbanas e sociais podem ser melhor orientadas para garantir o acesso equitativo a áreas verdes e incentivar seu uso frequente pela população.
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