Com um número expressivo de pets no Brasil, as cidades estão se adaptando para atender as necessidades das famílias multiespécie.
Filhos de quatro patas já é uma expressão comum, que retrata uma nova concepção dos lares: as famílias multiespécies. Agora, elas podem ser, inclusive, oficializadas. O Projeto de Lei 179/2023, atualmente em análise na Câmara dos Deputados, tem como objetivo estabelecer uma regulamentação abrangente para as famílias multiespécies, apresentando propostas inovadoras que podem redefinir a relação entre humanos e animais de estimação. Caso aprovado, esse projeto poderá trazer mudanças significativas e estabelecer novos paradigmas nesse contexto.
De acordo com dados do último Censo realizado pelo Instituto Pet Brasil, em 2021, o Brasil conta com uma população expressiva de animais de estimação, atingindo a marca de aproximadamente 149,6 milhões de pets. Essa estatística é especialmente relevante ao considerarmos que a população total do País é estimada em cerca de 203 milhões de pessoas. Ou seja, em média, pelo menos 70% dos lares possuem um animal de estimação.
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O crescente número de animais de estimação e a estreita relação entre humanos e pets tornam essencial abordar o bem-estar das famílias multiespécies nas áreas urbanas, uma vez que a urbanização traz consigo desafios significativos quando se trata de proporcionar um ambiente adequado para os animais de estimação em espaços limitados das cidades.
A qualidade de vida das famílias multiespécies nas cidades enfrenta um dos maiores desafios: encontrar espaços adequados para atender às necessidades de todos os seus membros. Imóveis compactos e a falta de áreas de lazer são obstáculos comuns nos grandes centros urbanos. Nesse contexto, os tutores buscam garantir que cães e gatos tenham, no mínimo, acesso a locais ao ar livre para se exercitarem, mas essa questão também se mostra problemática.
O crescimento desordenado dos municípios tem resultado na substituição das áreas verdes pelo cinza impessoal do concreto. Esse processo impacta significativamente a vida tanto das pessoas quanto dos animais de estimação, desencadeando consequências negativas para o bem-estar de ambos.
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A ausência de espaços verdes, que desempenhariam o papel de purificadores naturais de ar, expõe os animais de estimação aos efeitos adversos do ar seco e da poluição, com cães e gatos sendo particularmente afetados durante o outono. Um exemplo disso é observado em um hospital veterinário localizado na Zona Sul de São Paulo, onde há um aumento de 40% no movimento de pacientes durante essa estação do ano. A incidência de doenças respiratórias, como bronquite, pneumonia e asma, é semelhante entre os animais e os seres humanos.
Os incêndios florestais que assolaram a região de Montreal, no Canadá, no mês de junho, provocaram uma disseminação preocupante de fumaça para várias nações, incluindo países da Europa e Ásia. No entanto, os vizinhos mais afetados por essa situação foram os Estados Unidos.
Cidades importantes como Washington e Nova Ioque enfrentaram níveis críticos de poluição do ar devido à fumaça proveniente desses incêndios, o que obrigou os tutores de animais de estimação a adotarem medidas de proteção, como o uso de máscaras em seus cachorros durante os passeios diários.
Paige Chernick, residente de Nova Iorque e tutora de um poodle Bichon chamado Charlie, ganhou destaque em um vídeo viral na internet, no qual exibiu seu bichinho usando uma máscara de cachorro com filtro. O clipe rapidamente se tornou um sucesso, alcançando mais de 1 milhão de visualizações no momento em que a fumaça laranja sinistra envolvia Manhattan.
“Comprei essas máscaras de filtro reutilizáveis para cães na Amazon no início da pandemia, quando tudo ainda era desconhecido e pensei que meus cães poderiam precisar de proteção extra”, disse Chernick ao The Post. “Eu os guardei em um lugar seguro desde então, e quando a qualidade do ar em Nova Iorque ficou perigosa por causa da terrível fumaça, eu sabia que era o momento perfeito para usá-los.”, completou ela. Felizmente, Charlie não apresentou nenhum sintoma adverso relacionado à fumaça, com exceção de uma leve inquietação devido ao menor tempo passado ao ar livre.
A preocupação com a saúde e o bem-estar dos animais de estimação tem ganhado cada vez mais destaque entre veterinários e especialistas em saúde animal. Uma pesquisa recente, divulgada pela BBC, revelou que a obesidade é uma das condições mais comuns entre os pets, conforme relatado por 73% dos veterinários consultados.
Essa tendência alarmante é ainda mais preocupante quando indicado que cerca de metade dos cães e 44% dos gatos domésticos apresentam excesso de peso corporal. Embora muitas pessoas achem adorável um animal de estimação com alguns quilinhos a mais, é importante ressaltar que até mesmo um pequeno excesso de peso pode acarretar sérias consequências para a saúde desses animais.
Diante desse cenário, fica evidente que, assim como os seres humanos, os pets também necessitam de exercícios regulares para se manterem saudáveis e felizes. É nesse contexto que os espaços ao ar livre desempenham um papel fundamental na promoção do exercício físico e da qualidade de vida de ambos.
Parques e áreas de recreação proporcionam um ambiente ideal para que os animais possam correr, brincar e explorar novos ambientes. Essas atividades não apenas ajudam a manter os pets em forma, mas também estimulam sua curiosidade natural, proporcionando um estado de felicidade e satisfação. Além disso, os benefícios se estendem aos tutores, que também podem desfrutar da interação com seus animais de estimação.
Pesquisas recentes investigaram os efeitos positivos de ter um animal de estimação na saúde física e mental. A convivência com animais de estimação pode desempenhar um papel significativo na redução dos sintomas de ansiedade, depressão e estresse, ao mesmo tempo em que incentiva a prática de atividades físicas, contribuindo para a melhoria geral da saúde.
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Um estudo abrangente realizado por especialistas do Centro de Tecnologias Cardiovasculares da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, examinou minuciosamente as evidências disponíveis sobre esse tema. Os resultados demonstraram que os tutores de animais de estimação, especialmente os que possuem cães, tendem a adotar comportamentos menos sedentários, apresentando níveis mais baixos de colesterol e pressão arterial, além de um menor risco de arritmias cardíacas. Portanto, os momentos de lazer e diversão compartilhados pelas famílias multiespécies ao ar livre promovem o bem-estar emocional tanto dos tutores quanto dos animais, reduzindo o estresse e proporcionando uma sensação de alegria e relaxamento.
Para atender às necessidades das famílias multiespécies e superar as limitações, diversas cidades estão adotando medidas para tornar-se mais pet-friendly. Santos, por exemplo, foi eleita uma das melhores cidades brasileiras para pets em uma pesquisa realizada pelo site Booking.com e publicada pela revista Exame em 2022.
No município têm sido feitos investimentos significativos na criação de espaços exclusivos para animais de estimação, além da implementação de projetos que permitem o acesso de cães às praias. Um exemplo disso é o Espaço Pet do Parque Roberto Mário Santini, localizado na Praia do José Menino. Esse espaço conta com diversas melhorias, como nova iluminação, bebedouros para os animais, áreas com grama, bancos, lixeiras e brinquedos coloridos, que proporcionam uma experiência enriquecedora para os animais. Para garantir a segurança, a entrada do Espaço Pet é equipada com uma baia de segurança composta por dois portões.
Outro destaque em Santos é o Lagoa Pet Parque, que oferece um espaço dedicado aos animais de estimação para que possam socializar e se exercitar junto com seus donos. Com uma área de 700 metros quadrados, o parque possui um percurso de agility adequado para cães de todos os portes. Além disso, é cercado por áreas verdes e dispõe de bancos para os tutores e bebedouros exclusivos para os cães.
Além de Santos, outra cidade que passou a ser reconhecida como amigável para animais de estimação é Brasília. O Governo do Distrito Federal tomou a iniciativa de adotar medidas que incentivam a criação de espaços pet-friendly na capital federal. Com isso, os espaços públicos de convivência podem ser adaptados para promover o lazer e o bem-estar dos animais.
A cidade de São Paulo, a maior do Brasil, também está se adaptando às necessidades das famílias multiespécies. O governo local até elaborou o guia “São Paulo Pet Friendly“, que fornece informações sobre parques, atrações turísticas, restaurantes, bares, shoppings, hospedagens e outros locais que oferecem estrutura adequada para atender tanto aos animais quanto aos humanos.
Já em Fortaleza, a Praça Pet Friendly, localizada no Parque Bisão, na Avenida Beira-Mar, foi inaugurada em maio para proporcionar momentos de lazer e diversão para os animais de estimação e seus tutores. O petplace da praça está equipado com uma variedade de elementos, como pneu, túnel, rampa, salto simples, gangorra e slalom pet, que oferecem atividades estimulantes para os animais.
A crescente conscientização sobre a importância de espaços adequados para famílias multiespécies está impulsionando iniciativas em diferentes cidades brasileiras. Essas ações refletem a necessidade de os espaços urbanos se adaptarem à nova concepção de família, levando em consideração as necessidades e o bem-estar de todos os membros.
