Floresta Vertical de Nanjing: 800 plantas e mais de 2,5 mil arbustos

Projeto de duas torres residenciais contribuirá pra redução das temperaturas dentro e fora da edificação.

Por Ana Cecília Panizza em 30 de abril de 2024 5 minutos de leitura

floresta vertical de nanjing
Foto: Reprodução/Stefano Boeri Architetti/Boeri Studio

Em pleno ambiente urbano, nasce e se desenvolve uma floresta de verdade, exuberante, vistosa, mas – curiosamente – instalada ao longo das fachadas de dois prédios altos. Essa será a Floresta Vertical de Nanjing, município da China que tem mais de 8 milhões de habitantes e que já foi capital do país. O projeto é assinado pelo arquiteto italiano Stefano Boeri, que implantou em 2014 em Milão, Itália, sua primeira floresta vertical: o empreendimento Bosco Verticale. Formado por duas torres residenciais cobertas por plantas, ele virou ponto turístico e foi premiado mundialmente. 

Dois edifícios residenciais irão compor a Floresta Vertical de Nanjing, que beneficiará não só quem irá morar no empreendimento, mas toda a cidade. Uma das vantagens desse tipo de empreendimento é o sequestro de dióxido de carbono (por meio da fotossíntese das plantas), ajudando a diminuir as consequências do efeito estufa e do aquecimento global. Outro benefício é a diminuição do calor no interior do prédio, reduzindo o uso de ar condicionado. O refresco também é percebido no entorno. 

Ao criar um ambiente verde na cidade e favorecer a regeneração da biodiversidade local por meio do plantio e cultivo de plantas em sua fachada, a Floresta Vertical de Nanjing será importante referência para a silvicultura urbana, que é o cultivo e o manejo de árvores e outras vegetações nas cidades, o que contribui para o bem-estar fisiológico, psicológico e social de quem vive em ambientes urbanos. 

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O projeto da Floresta Vertical de Nanjing foi iniciado pelo escritório Stefano Boeri Architetti em 2016. De acordo com o escritório, em publicação em março de 2024, a obra “será concluída em breve”. O empreendimento terá duas torres, que irão abrigar escritórios, museu, escola de arquitetura e espaços de recepção na cobertura. A torre mais alta terá 200 metros de altura e, a mais baixa, 108 metros de altura. Elas serão conectadas por uma base comum, de 20 metros de altura, que terá escritórios, salas para recreação e estudos, lojas, restaurantes, salas para conferências, mercado e espaços para exposição.

A floresta em números

floresta vertical de nanjing
Foto: Reprodução/Stefano Boeri Architetti/Boeri Studio

As fachadas da Floresta Vertical de Nanjing abrigarão 800 plantas (600 árvores de grande porte e 200 de médio porte) e mais de 2,5 mil arbustos e plantas rasteiras. Toda essa vegetação – de 27 espécies nativas – cobrirá uma área de 4,5 mil metros quadrados. A disposição das varandas dos prédios foi cuidadosamente estudada para acomodar o crescimento das árvores, considerando o desenvolvimento esperado de cada espécie, com monitoramento de especialistas e botânicos.

O empreendimento será a segunda floresta vertical de Boeri na China: o primeiro foi o edifício Easyhome Huanggang Vertical Forest, na cidade de Huanggang, entregue em 2021. Há projetos em andamento para implantação de florestas verticais em Dubai (Emirados Árabes) e no Cairo (Egito).  

Melhorar a habitabilidade 

Segundo o escritório de Boeri, “(…) o aumento da presença de árvores e plantas nas cidades contemporâneas contribui significativamente para absorver material particulado fino no ar – um aspecto particularmente importante em um contexto urbano densamente povoado e poluído como o da China –, mas também para reduzir as temperaturas da superfície, regular a umidade e melhorar a habitabilidade dos humanos e outras espécies vivas, com benefícios positivos para a biodiversidade e a restauração dos ecossistemas locais”. 

floresta vertical de nanjing

Segundo a arquiteta Cássia Mariano De Donato, professora de Paisagismo na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, nas cidades contemporâneas, as áreas construídas e o pouco espaço em superfícies no solo para o enverdejamento necessário ao enfrentamento das mudanças climáticas abrem frente para alternativas de introduzir mais vegetação – e a floresta vertical é uma delas. “A floresta vertical nas fachadas de construções está no radar das possibilidades e são um forte desafio”. 

Embora sejam uma das ferramentas para o enverdejamento nas cidades, elas não substituem os espaços verdes nas áreas livres (não verticais), alerta Cássia. “Essas ferramentas não podem nem devem ser utilizadas como recurso para compensação ambiental”, diz ela.  

Palmito-juçara nas alturas 

Cássia explica que a implantação de uma floresta vertical envolve multidisciplinaridade de profissionais especializados nesse tipo de projeto. E que, entre os desafios para implantar e manter uma floresta vertical, estão: calcular o peso das plantas e como a ação dos ventos impacta nisso; fazer impermeabilização, irrigação e drenagem da área verde; fornecer para as plantas nutrientes de maneira consistente e controlada; considerar insolação e umidificação para o desenvolvimento pleno das plantas.

Ela conta que há pesquisas em desenvolvimento para avaliar quais são mais apropriadas ou adaptáveis de viverem em determinadas condições de altura e de incidências solar e de ventos. E que os resultados apontam as herbáceas da família das aráceas e árvores como o palmito-juçara (Euterpe edulis), ipês (Handroanthus sp.), cambuci (Campomanesia phaea), caliandra-rosa (Calliandra brevipes). 

Campanha pela silvicultura 

O Bosco Verticale de Milão, que inspirou a Floresta Vertical de Nanjing, tornou-se símbolo de design verde e foi um marco, por ter sido acompanhado pelo lançamento de uma campanha global pela silvicultura urbana, a fim de multiplicar a presença de florestas e árvores nas cidade, utilizando soluções baseadas na natureza para combater as crises ambiental e climática, com ajuda da arquitetura e do planejamento urbano. 

Bosco Verticale (Foto: Dimitar Harizanov/Stefano Boeri Architetti/Boeri Studio)

O movimento convocou profissionais de áreas diversas: arquitetos, urbanistas, botânicos, agrônomos, silvicultores, geógrafos, paisagistas, incorporadores imobiliários, administradores e representantes de instituições e da sociedade civil.

A campanha propõe ações como: proteger e aumentar as superfícies permeáveis e verdes na cidade; criar novos parques e jardins; transformar telhados da cidade em gramados e hortas; transformar muros e barreiras urbanas em fachadas verdes; promover hortas comunitárias e implementar a agricultura urbana; usar raízes de árvores para descontaminar solos; criar uma rede de corredores verdes (avenidas arborizadas) para conectar parques, florestas e edifícios verdes; multiplicar o número de edifícios verdes e florestas verticais; criar novas florestas orbitais e bosques em torno das cidades.

Os fundadores do movimento chamam atenção para o fato de que as cidades consomem 75% dos recursos naturais do mundo e são responsáveis por mais de 70% das emissões globais de gás carbônico. Alegam que as florestas e as árvores absorvem quase 40% das emissões de combustíveis fósseis em grande parte produzidas pelos municípios todos os anos. Se depender da cidade de Nanjing, essa conta irá se equilibrar.