Futuro da energia limpa no mar? Conheça as batatas subaquáticas

Pedras, que parecem batatas, apontam para um futuro da energia limpa no mar. Mas exploração traz riscos para meio ambiente.

Por Redação em 18 de agosto de 2023 3 minutos de leitura

futuro da energia limpa no mar
Nódulos polimetálicos submarinos da zona Clarion-Clipperton (CCZ) (Foto: ROV KIEL 6000, GEOMAR via Wikimedia Commons)

Batatas do fundo do mar guardam os minerais que podem apoiar a transição de cidades para um modelo energético totalmente carbono zero. Pedras com minerais valiosos, os nódulos polimetálicos submarinos, estão escondidos nas profundezas do oceano e despertam a atenção das indústrias que precisam de baterias. Embora explorar futuro da energia limpa no mar seja um caminho tentador, a prática traz riscos para meio ambiente.

Embora a mineração destes materiais possa guardar as chaves para o futuro, há riscos reais de destruição do ecossistema marinho.

Com o aumento do uso de dispositivos elétricos, desde veículos até pequenos dispositivos inteligentes, cresce também a necessidade de produzir minerais capazes de produzir as baterias. As baterias, por sua vez, dependem de certos metais, como cobre, cobalto e lítio, cuja existência está rareando nas minas em terra.

Em entrevista para a revista Wired, o CEO da Metals Company, Gerard Barron, apelida os nódulos de “baterias em uma rocha”. Tais pedras são envoltas de metais essenciais para a fabricação de baterias pelo mundo, como níquel, cobre e cobalto. 

Autoridades norte-americanas de geologia estimam que existam por volta de 21 bilhões de toneladas de nódulos polimetálicos apenas no fundo do oceano Pacífico. O volume é equivalente a uma possível reserva de 6 bilhões de toneladas de manganês, 270 milhões de toneladas de níquel e 44 milhões de cobalto. O que supera o volume das reservas existentes no mundo acima das águas.

Nódulos subaquáticos ou “batatas do fundo do mar”

futuro da energia limpa no mar
Esponja carnívora próxima a nódulos polimetálicos da zona Clarion-Clipperton
(Foto: National Oceanography Centre / Smartex project (NERC)/AFP)

Os nódulos polimetálicos têm tamanho de batatas e estão localizados nas profundezas do mar. Profundezas mesmo! A estimativa é que as “batatas” estejam entre 3,5 quilômetros e 6,5 quilômetros de profundidade, abaixo das planícies abissais do oceano. 

As rochas são resultado de milhões de anos de calcificação e sedimentação. Restos de animais, como dentes de tubarão e espinhas de peixes, são depositados no fundo do oceano naturalmente. Em milhares de anos, esses rejeitos se transformam em rocha. Os metais na crosta desta pedra vem a partir de iguais milhares de anos de “absorção” de minerais que existem em baixíssima concentrações no fundo do oceano.

Tal absorção só ocorre pelo ambiente de baixíssima presença de oxigênio no ambiente submarino do oceano profundo. As pedras não são novidade para o mundo científico, tendo sido descobertas em 1870. Em 1970, houve um esforço de companhias e governos para tentar captar tais minerais. Mas foram em vão, tamanha a dificuldade de chegar às zonas abissais.

Só nos últimos anos que a tecnologia marinha permitiu que a mineração submarinha voltasse a ser plausível. Com GPS e motores sofisticados, navios conseguem chegar aos pontos precisos do oceano e, então, operar os veículos até o fundo.

Os riscos da mineração submarina. Esse futuro da energia limpa no mar vale a pena?

futuro da energia limpa no mar
Foto: Reprodução / Seatools / Mining Technology & MINE Magazine

Embora tragam promessas de metais que podem aumentar a capacidade de baterias e o volume de dispositivos zero carbono, os nódulos trazem riscos reais para a maior biodiversidade do planeta, que vive nos oceanos.

“A mineração em águas profundas pode acabar tendo a maior pegada de todas as atividades humanas no planeta em termos de área de impacto”, disse o oceanógrafo da Universidade do Havaí, Craig Smith, em entrevista à National Geographic. Pesquisadores da Universidade de São Paulo apontam que os ruídos da mineração subaquáticos podem influenciar negativamente a vida marinha a distâncias superiores a 1 mil quilômetro.

Há dúvidas também sobre como a retirada de materiais que estão ali há, literalmente, milhões de anos afeta negativamente o ecossistema do local. Alterando processos de fotossíntese, trocas gasosas ou alimentação de organismos. A dinâmica da profundeza marinha é pouco conhecida por cientistas: 91% das espécies do oceano ainda não foram sequer classificadas.

A mudança da dinâmica destes espaços pode alterar o planeta como conhecemos. “Os oceanos fornecem grande parte da biodiversidade mundial, uma parte significativa dos alimentos da humanidade e o maior sumidouro de carbono do planeta. Ninguém sabe como uma incursão sem precedentes afetaria as muitas formas de vida que vivem nas profundezas abissais, a vida marinha mais acima na coluna d’água ou o próprio oceano”, afirmou a Wired.