Desde 1987 programa incentiva gestão sustentável da costa marinha, com foco na preservação. Santa Catarina se destacou, com 20 praiais premiadas.
O Brasil é conhecido mundialmente pela sua beleza natural e a costa brasileira é um capitulo a parte nesse quesito. E 49 locais na região costeira – 38 praias e 11 marinas – foram além. Eles receberam o reconhecimento do prêmio Bandeira Azul pela gestão sustentável da costa marinha focada em preservação ambiental e a prática de turismo sustentável. A iniciativa, de relevância mundial, tem como objetivo elevar o grau de conscientização da população e de tomadores de decisão para a necessidade de proteger o ambiente marinho e costeiro. O programa foi criado em 1987 e, desde então, estimula as melhores práticas na gestão costeira em países de todos os continentes.
A lista dos locais certificados pelo Bandeira Azul é elaborada por um júri nacional e internacional, composto por representantes de órgãos governamentais ligados ao turismo e ao meio ambiente, além de organizações da sociedade civil. O grupo avalia critérios estabelecidos pela ONG Foundation for Environmental Education (FEE), com sede na Dinamarca, com foco na gestão sustentável da costa marinha.
Entre as características consideradas estão gestão ambiental, qualidade da água, educação ambiental, segurança e serviços, turismo sustentável e responsabilidade social, que devem ser atendidos e comprovados pelas praias e marinas anualmente. Na edição do Bandeira Azul 2024/2025, o desempenho brasileiro evoluiu em relação à temporada passada (2023/2024), quando 31 locais costeiros foram contemplados.
Entre os estados brasileiros com mais praias reconhecidas pelo prêmio está Santa Catarina, que lidera o ranking com 20 praias. Entre elas, Praia do Estaleiro e Praia de Taquaras (em Balneário Camboriú); Praia Central, Praia de Piçarras e Praia da Ponta do Jacques (em Balneário Piçarras); Praia de Quatro Ilhas, Praia de Mariscal e Praia da Conceição (em Bombinhas).
Com 12 praias, o Rio de Janeiro ficou em segundo lugar. Algumas praias premiadas são Praia Lagunar Caiçara (em Arraial do Cabo), Praia de Tucuns (em Armação de Búzios), Praia do Peró (em Cabo Frio), Praia do Sossego (em Niterói), a Praia de Itaúna (Trecho das Pedras, em Saquarema) e duas praias na capital – Grumari e Reserva.
A Bahia aparece com três: Praia do Paraíso (em Camaçari) e Praia da Viração e Praia da Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe (em Salvador). Alagoas, Ceará e São Paulo também aparecem com uma praia cada. São elas: Praia do Patacho (em Porto de Pedras), Praia do Cumbuco (em Caucaia) e Praia do Tombo (no Guarujá), respectivamente.
Entre os países sul-americanos foram contemplados pelo Bandeira Azul a Colômbia (8 praias), o Chile (3 praias) e a Argentina (2 praias).
No Brasil, desde 2011 o programa Bandeira Azul realiza workshops para apresentar informações sobre os critérios que devem ser cumpridos pelas praias e marinas para que recebam a certificação. O primeiro evento foi em Florianópolis/SC. Os workshops ainda têm como objetivo reunir gestores de praias e representantes municipais para discutir os processos de renovação e ingresso à fase piloto do programa. Também são apresentados estudos de casos e boas práticas de gestão sustentável da costa marinha que podem ser compartilhadas e replicadas nas áreas com a certificação.
Representantes do júri da premiação aproveitam para apresentar suas atividades e projetos e debater com os gestores melhorias que podem ser realizadas nos municípios. “Ao meu ver, considerando a realidade das praias brasileiras que ainda possuem diversos desafios, o prêmio Bandeira Azul é uma importante ferramenta de gestão, que estimula os municípios a aprimorarem a qualidade de suas praias”, avalia o oceanógrafo e geógrafo Luidgi Marchese.
Mestre em gerenciamento costeiro integrado e doutor em geociências com ênfase em gestão de praias, Marchese atua há 15 anos como investigador e consultor na área de gestão de praias e gestão costeira e é diretor da empresa Octo Praias, Projetos e Sustentabilidade. Ele explica que o prêmio Bandeira Azul está voltado para avaliação dos aspectos de qualidade de água, segurança, limpeza, gestão ambiental e educação ambiental. “As praias premiadas pelo prêmio Bandeira Azul apresentam diferentes níveis de qualidade relacionados aos aspectos citados, estando algumas mais avançadas que outras no processo de evolução desses requisitos básicos e necessários”.
“Considerando que a evolução da qualidade de gestão das praias é um processo integrado, que depende do uso adequado de todos os envolvidos (governo, iniciativa privada e sociedade civil), a educação ambiental dentro do programa deverá funcionar como uma importante ferramenta para mudanças comportamentais”, comenta o oceanógrafo.
A Praia de Taquaras, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, se destacou na categoria Prevenção à Poluição em razão do trabalho de conservação nos costões rochosos. Desde junho de 2023, o município mantém um projeto em parceria com pesquisadores da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), que consiste em mergulhos científicos para coletar, classificar e quantificar todo o material encontrado nos costões rochosos do estado. Por meio da iniciativa, mais de uma tonelada de lixo foi recolhida e teve destino adequado. Também foi desenvolvida uma cartilha educativa com os resultados obtidos para distribuição nas escolas municipais e uso como material didático em educação ambiental.
“O litoral catarinense é bastante recortado, naturalmente favorecendo a formação de diferentes praias arenosas. O engajamento na evolução turística dos municípios e na promoção das praias e a presença de profissionais qualificados para colaborar na gestão também são fatores que favorecem a posição de destaque de Santa Catarina na premiação”.
O Rio de Janeiro, segundo estado com a maior quantidade de praias reconhecidas, também “está despertando para essa necessidade de qualificação das praias como destino turístico”, afirma Marchese. Mas, no geral, avalia ele, “os estados que aparecem na lista do Bandeira Azul têm bastante presente a cultura de sol e praia, que estimula um esforço nessa direção, mesmo levando em consideração que os dois que lideram a lista ainda possuem muitos desafios relacionados ao saneamento básico na maioria de seus municípios”.
Leia também: Praia do bem: União Europeia abraça projeto de circularidade no Rio
