A internet 5G chegou às principais capitais brasileiras. Com a nova rede de internet móvel, chega também um certo encanto com as possibilidades da tecnologia: internet mais veloz, possibilidade de conexão com dispositivos em tempo real e tempo de resposta baixo. Mas muito além das facilidades que ela deve agregar ao usuário final, na palma da mão, o que o 5G significa para as cidades?
“As pessoas acabam achando que o 5G é somente sobre uma conexão melhor no celular, mas ele vai melhorar a vida de muitas outras formas. O objetivo das tecnologias é sempre buscar a melhora da habitação para todos”, explica o diretor líder em Tecnologia 5G da Accenture Brasil, José Marcelo Vilela, em entrevista ao Habitability. De acordo com ele, três aspectos da internet 5G impactam diretamente às cidades: dados, velocidade e latência.
As pessoas acabam achando que o 5G é somente sobre uma conexão melhor no celular, mas ele vai melhorar a vida de muitas outras formas.
Conhecido entre especialistas como “a internet do IoT”, “no 5G puro há rede para até 1 milhão de dispositivos conectados em 1 quilômetro quadrado. É uma capacidade de conectar dispositivos que vai permitir que os aparelhos de infraestrutura das cidades estejam ligados à internet em tempo real”, ilustra Vilela.
A internet 5G e o tempo real
Além da capacidade, a velocidade também chama atenção: o 5G pode ser entre 10 e 100 vezes mais veloz do que o 4G. “A velocidade é muito mais importante do que se imagina. Ela se traduz em maior número de dados trafegados em determinado período e permite que imagens com maior definição sejam trocadas rapidamente”, exemplifica o executivo.

Já a baixa latência, que é o tempo de resposta rápido, traz a capacidade dos sistemas digitais captarem e entenderem os dados quase que simultaneamente. “A latência baixa permite responder praticamente em tempo real. E vai ser possível ver a internet chegando a casos de uso que envolvem missões críticas e que dependem de reações instantâneas, como controlar o fluxo de carros das cidades”, acrescenta. “Tudo isso torna a cidade mais inteligente. O processamento em tempo real do 5G permite administrar dispositivos, como semáforos, de acordo com a necessidade atual dos veículos. É algo muito novo. Não será preciso fazer um estudo para entender se os semáforos vão ser mais eficientes em certos horários ou dias, mas, sim, controlar o tráfego a partir dos dados ao vivo. Isso vai tornar a cidade mais eficiente”, comenta o executivo.
O tempo real também significa que a detecção de quaisquer problemas ou anormalidades será mais rápida, o que dá à cidade um tempo precioso para proteger os cidadãos em caso de catástrofes. Em outras palavras: ajuda a cidade a atingir a resiliência, tão necessária em momentos de crise climática.
Segurança avança em 5G
A combinação dos três aspectos principais da internet 5G também abre portas para a melhora na segurança pública. “Câmeras conectadas a servidores poderão levar imagens de qualidade para a central, onde será possível ter sistemas de vídeo analytics em tempo real para definir se há alguma ocorrência que pode ser impedida ou na qual a polícia precisa intervir”, disse o executivo.

Tal plataforma de segurança pública parece ficção científica, mas, segundo Vilela, já poderia ser colocada em prática hoje, contando com a rede e as tecnologias existentes. “É possível coletar dados e entendê-los para agir de forma preditiva e preventiva”, explica ele, dando como exemplo uma situação de inundação: “dá para ir além da sirene de aviso. É possível ter uma ação mais rápida, que analisa os índices pluviométricos, os compara com outros dados históricos e, a partir de um cruzamento inteligente de informações, consegue calcular se poderá acontecer alguma enchente”.
Infraestrutura digital e eficiente

A área de utilidades públicas, como infraestruturas de água e energia, também serão beneficiadas a partir da chamada Internet das Coisas, ou, no termo em inglês, Internet of Things (IoT). Com devices de análise espalhados e conectados à infraestrutura urbana, por exemplo, será possível monitorar e prever problemas da rede elétrica, o que torna a manutenção urbana mais eficiente.
“Quando passarmos da energia unidirecional para a energia livre, será necessário ter dispositivos contabilizando o quanto as casas ou áreas públicas produzem de energia solar para poder vender no mercado livre. O 5G vai habilitar esse uso”, disse o executivo. O controle do uso de energia em tempo real muda a gestão pública, que vai visualizar e entender os pontos de perda ou de ganho energético. A contabilização chegará também na quantidade de carbono emitido.
Outro ponto, diz Vilela, está dentro da sala das pessoas. “O conjunto de tecnologias ligadas ao 5G torna cada vez mais possível a digitalização das casas, as chamadas smarthomes”. Mas, alerta ele, para absorver o grau de conectividade que o 5G trará, as incorporadoras e construtoras terão que entrar no jogo.“Para chegar ao futuro das cidades inteligentes, incorporadoras e construtoras vão se unir aos municípios para habilitar novas estruturas de soluções de smart city”, diz ele. É o que aconteceu nos Estados Unidos, na construção da National Landing – a primeira “smart city 5G”. As construções do bairro em duas cidades da Virgínia já contam com antenas de 5G e suportes a rede em seu interior, como dutos de cabos de fibra óptica. A partir dessa visão, Vilela prevê que as construtoras vão virar “provedores de capacidade digital”. “Serão mais do que empresas do real state. Serão empresas de tecnologia”, finaliza o executivo.