Mofo e projetos de mobilidade urbana: o que eles têm em comum?

O mofo Physarum polycephalum pode auxiliar no desenvolvimento de projetos de mobilidade urbana e ajudar a solucionar problemas de congestionamento.

Por Redação em 14 de setembro de 2022 4 minutos de leitura

projetos de mobilidade urbana

Trânsito, estresse, acidentes e engarrafamentos. É possível fazer uma lista de problemas que a má gestão da mobilidade urbana causa no cotidiano dos habitantes das grandes cidades. O aumento de frotas, a expansão descontrolada das cidades e o planejamento urbano precário se tornaram um desafio para as metrópoles, prejudicando a qualidade de vida dos moradores. No entanto, cientistas buscaram um novo grupo de especialistas para ajudar no desenvolvimento de projetos de mobilidade urbana para combater os engarrafamentos: o mofo.

Mofo como protagonista de projetos de mobilidade urbana

Um estudo realizado por uma equipe de cientistas da Universidade de Hokkaido, no Japão, mostrou que o mofo limoso (Physarum polycephalum) cresce à medida que se conecta com migalhas espalhadas. Durante o experimento, os estudiosos colocaram flocos de aveia em vários pontos de uma superfície imitando a maneira como as cidades japonesas estão localizadas ao redor de Tóquio. Até áreas de luz brilhante foram adicionadas para corresponder às montanhas e outros aspectos geológicos que os trens teriam que contornar.

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O fungo amarelo, que pode ser visto a olho nu, ao encontrar as fontes de alimento separadas, envolveu a comida e criou túneis para distribuir os nutrientes, formando um design quase idêntico ao sistema ferroviário de Tóquio. “Alguns organismos crescem na forma de uma rede interconectada como parte de sua estratégia normal de forrageamento para descobrir e explorar novos recursos com um alto grau de tolerância a falhas originadas por desconexões acidentais”, afirmam os cientistas em um artigo publicado na revista Science. “O mofo pode encontrar o caminho mais curto através de um labirinto ou conectar diferentes matrizes de fontes de alimentos de maneira eficiente”, completam. 

Como o mofo pode ajudar a construir projetos de mobilidade?

Os pesquisadores observaram que o mofo criou uma rede de malha fina que se dispersa para todos os lugares e, depois, aprimorou-a continuamente a fim de permitir que os tubos transportassem uma grande quantidade de carga, eliminando tubos redundantes.   

Com o resultado de túneis fortes e eficazes conectando toda a rede de alimentação, os cientistas pegaram emprestado propriedades simples do comportamento do mofo para convertê-las em um cálculo matemático, pois capturar a ideia desse sistema biológico no formato de regras simplificadas seria útil para a criação de redes de tráfego eficientes no mundo real.

A maneira como o fungo desenvolveu interconexões rápidas, práticas e inteligentes, passando por etapas de seleção evolutiva, deu origem a fórmulas concebidas com base em seus hábitos que podem auxiliar na mobilidade urbana por meio da construção de rotas mais eficientes para as redes de transporte. Uma demonstração clara do que a biomimética prega – a natureza como um laboratório de pesquisa e desenvolvimento.

Para os cientistas, os computadores não são bons em identificar as melhores rotas que ligam muitos pontos porque a quantidade de cálculo é demais para as máquinas. Já o modelo de adaptabilidade da rede formada pelo mofo se mostrou comparável ou superior às redes de infraestrutura das cidades. 

O estudo aponta que os padrões baseados na biologia do mofo podem aumentar a capacidade dos algoritmos, fornecendo sistemas técnicos para aplicações na estruturação da malha de transporte público e até mesmo na concepção de projetos voltados à construção de ruas e rodovias que facilitem a mobilidade urbana.

Veja também o episódio 37 do podcast Habitability: Biomimética: inspiração da natureza para um futuro melhor

Soluções para as cidades

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O uso do carro é um dos principais vilões que impedem uma mobilidade urbana mais fluida. Há, aproximadamente, 1 automóvel para cada 4,4 habitantes no Brasil, provocando congestionamentos e um deslocamento conturbado. 

Segundo o Numbeo, site internacional especializado em comparar características de cidades, 7 capitais brasileiras ocupam o ranking de cidades com o trânsito mais lento do mundo, em uma lista de 163 metrópoles.

Diversos geógrafos e urbanistas estudam formas de otimizar os projetos de mobilidade urbana nos espaços públicos. Há inúmeros projetos sobre o assunto, um deles já está em vigor em Belo Horizonte, onde foi aplicado com o intuito de atender às demandas de tráfego através da criação de ciclovia e BRT, sistemas que geram acesso mais fácil e sustentável aos locais. Existem outras soluções indicadas por especialistas como forma de melhorar a mobilidade urbana, entre elas: 

  • Ampliar áreas atendidas pelos transportes públicos;
  • Integração entre os transportes públicos (ônibus com metrô, por exemplo);
  • Incentivar a diversificação do uso dos meios de transporte, entre carros, bicicletas e ônibus;
  • Flexibilizar o horário das atividades urbanas, distribuindo-as em horários diferentes ao longo do dia.

Essas práticas podem amenizar os problemas de mobilidade urbana e se apresentarem como soluções ainda mais efetivas se combinadas com uma infraestrutura adequada, indo de encontro com a pesquisa dos cientistas japoneses. A resposta para um layout urbano ideal pode estar na natureza. Segundo os pesquisadores, eles esperam usar a descoberta para projetar redes de transporte mais eficientes e adaptáveis, uma vez que o bolor construiu sua rede sem um centro de controle que pudesse supervisionar e dirigir todo o empreendimento. Em vez disso, reforçou rotas que estavam funcionando e eliminou canais redundantes, adaptando-se e ajustando-se constantemente para obter a máxima eficiência.