Multipropriedade: a economia circular chega à posse de imóveis

Modelo de multipropriedade, que permite o compartilhamento da posse de imóvel, cresce nas cidades brasileiras.

Por Redação em 26 de junho de 2023 3 minutos de leitura

multipropriedade

A multipropriedade é uma tendência crescente no Brasil, e não só nas cidades turísticas.  O modelo permite que várias pessoas comprem o imóvel de maneira fracionada, dividindo os custos e a propriedade da casa. 

Com o aumento da economia compartilhada e do home office, a prática deixou de ser apenas um negócio para aqueles que querem dividir uma casa de férias, para ser uma opção possível e mais barata de se morar. Para as cidades, principalmente turísticas e pacatas, fora de temporadas, a multipropriedade pode trazer possibilidades ao reduzir a ociosidade dos espaços.

Regulamentado no Brasil em 2018, o modelo vem ganhando força. Desde 2022 houve um aumento de 39.5% no valor geral de vendas de multipropriedades no Brasil. O número do relatório mais atual da consultoria em real estate Caio Calfat mostra que há apetite por este tipo de modalidade entre os brasileiros.

Mas o que é multipropriedade?

De acordo com o Código Civil brasileiro, a multipropriedade “é o regime de condomínio em que cada um dos proprietários de um mesmo imóvel é titular de uma fração de tempo, à qual corresponde a faculdade de uso e gozo, com exclusividade, da totalidade do imóvel, a ser exercida pelos proprietários de forma alternada”.

Leia também: Serviços imobiliários digitais podem trazer inovação para setor de construção

De maneira simples, o modelo é um sistema que permite um imóvel ter vários proprietários. Normalmente, um empreendimento deste tipo costuma ter de 26 a 52 cotas, que dão direitos a um tempo de uso específico do imóvel – as 52 frações são equivalentes às 52 semanas do ano. Cada fração é uma escritura diferente, que o dono pode vender, alugar ou até repassar em herança.  

Ao deter uma cota, o investidor recebe o direito de ficar no espaço pelo tempo proporcional à parcela que comprou. O uso compartilhado é regulamentado por um cronograma e agendamento prévio de uso dos espaços por parte dos multiproprietários. 

Em entrevista ao Valor Econômico, o sócio do Gran Paradiso Campos do Jordão Resorte, Luciano Dutra, afirmou que um dos pontos positivos do modelo é evitar o desperdício por parte das famílias e manter os imóveis ocupados. “Entre os pontos mais importantes do modelo multipropriedade está a possibilidade de baixar o investimento no imóvel, em comparação com a aquisição de um imóvel de forma comum, tendo em vista que haverão outros proprietários”, disse Dutra.  

Veja também o episódio 36 do podcast Habitability: Reinventando o futuro – novas maneiras de consumir

Tecnologia e a multipropriedade

multipropriedade

Novas tecnologias, como o blockchain, têm a chance de tornar o sistema de quotas de uma propriedade mais fácil. A partir da tokenização dos imóveis, as diversas escrituras das frações ficam registradas na rede de maneira segura e em mais frações do que as atuais. 

Leia também: Giovanni Cordeiro: como iremos morar em 2040?

O criptoativo representaria as cotas, que poderiam, inclusive, ser divididas entre dois proprietários. Nos smart-contracts, o registro dos direitos de possibilidade de uso, obrigações de reforma ou não reforma, entre outras decisões compartilhadas são armazenadas digitalmente.

Tempo de novos hábitos

“Esse formato é muito importante para as cidades porque gera uma recorrência de visitas muito grande, o cliente cria um vínculo com o lugar. Além disso, fomenta toda a cadeia econômica, desde bares, restaurantes, bebidas e transporte, por exemplo, e acelera as vendas”, afirmou Fernando Fonseca, sócio da ABL Prime, empresa goiana que investe em multipropriedades na região sul do Brasil, em entrevista ao jornal O Popular.

O sistema de multipropriedade funciona como se, no lugar de comprar o lugar físico, as pessoas investissem no tempo que vão passar ali. Não é a toa que o modelo é mais propagado em grandes redes hoteleiras e de resorts, que observam mais e mais a necessidade de colocar o tempo, e não o lugar, como um dos seus principais produtos. Afinal, em uma destinação turística, as horas e dias aproveitados ali é um dos fatores de maior peso para os clientes.

Leia também: Primeira vila para “nômades digitais” do Brasil será montada na praia de Pipa (RN)

Ao deslocar o olhar do físico para o temporal, o modelo faz o setor imobiliário e de moradia se aproximarem cada vez mais do conceito de economia compartilhada.  “O conceito de multipropriedade já traz um questionamento em si sobre os padrões de consumo atuais e novas formas de compartilhar bens e experiências”, afirmou a diretora e fundadora da NotToScale Architecture, Valetina Mion, em entrevista à Gazeta do Povo.

Um exemplo claro dessa relação entre mudança de padrões e a multipropriedade está nos nômades digitais. “A internet possibilitou o crescimento de profissões viajantes ou daqueles considerados ‘nômades digitais’ e do movimento ‘work in nature’, de trabalho home office ou na natureza. A multipropriedade está conectada com essas tendências já que também permite o intercâmbio de residências com outros proprietários de frações de imóveis ao redor do mundo”, explicou o diretor da Amazon Fun Parks, Alvise Migotto, em entrevista ao Bahia Jornal.

Veja também o podcast: Economia circular – pilares e práticas