A adoção de ônibus elétricos nos centros urbanos podem tornar cidades mais limpas, saudáveis e economicamente interessantes.
Acesso a sistemas de locomoção seguros e sustentáveis para todos é uma das metas do ODS 11 – um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) – especialmente voltado para as cidades. Como uma das alternativas para contribuir para o atingimento desta meta, a troca dos ônibus a motor de combustão por ônibus elétricos modernos é uma tendência internacional, que vem se mostrando promissora.
De acordo com o relatório “Situação Global do Transporte e Mudança Climática Global” elaborado por mais de 40 organizações internacionais dedicadas a promover transportes sustentáveis e de baixo carbono, as emissões provenientes dos transportes correspondem a 14% das emissões globais. O impacto do transporte é ainda mais significativo se considerarmos que as emissões diretas de dióxido de carbono (CO2) do setor de transporte aumentaram 29% entre 2000 e 2016.
Não é à toa que a indústria de transportes tem um papel importante a desempenhar na busca por alternativas mais limpas e sustentáveis, do ponto de vista ambiental e social. Como disse o coordenador da Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), Marcus Regis, em entrevista à Exame, a eletrificação dos transportes é uma parte crucial da solução para os desafios climáticos e socioeconômicos do Brasil. Segundo ele, a eletrificação é uma forma de aumentar a confiabilidade que as pessoas buscam em um sistema de transporte público, em detrimento dos modelos movidos a combustíveis de origem fóssil.
Substituir carros convencionais por carros elétricos pode reduzir emissões e ruídos, mas não resolverá por completo o congestionamento, nem garantirá igualdade de acesso aos serviços e oportunidades. Por isso, investir em ônibus elétricos tem uma importância especial. Em um modelo urbano que ainda privilegia o uso do carro em detrimento da locomoção terrestre ou meios alternativos, eletrificar o transporte coletivo tem impactos sociais. Além, é claro, da redução das emissões de gases de efeito estufa.
De acordo com uma pesquisa do Estadão, em cidades como São Paulo, por exemplo, a adoção total de ônibus elétricos poderia reduzir as emissões de poluentes em cerca de 85%, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade do ar e para a saúde pública.
Os dados também mostram que há uma maior eficiência energética, uma vez que os motores elétricos convertem cerca de 95% da energia armazenada em impulso para as rodas, enquanto um motor a combustão comum apresenta uma taxa de conversão de apenas cerca de 35%.
A eletrificação também apresenta vantagens econômicas no médio e longo prazos. O baixo custo de manutenção dos motores elétricos, devido à sua menor quantidade de componentes mecânicos em comparação aos motores a diesel, pode representar uma economia para cidades grandes que possuem frotas com muitos veículos.
Além disso, os ônibus elétricos podem auxiliar na integração de mais pessoas aos centros urbanos, dando-lhes o direito de acesso às cidades. Por exemplo, na região metropolitana de Guadalajara, no México, 38 ônibus elétricos foram implantados para circulação em uma área da região com população carente. Os resultados superaram as expectativas.
Em menos de um ano de operação, a quantidade de passageiros quadruplicou, o que permitiu que o custo de operação fosse coberto pela própria tarifa de transporte. De acordo com Martha Martínez, da Coordenação Estratégica de Gestão Territorial do Estado de Jalisco, acredita-se que isso esteja associado a um planejamento mais preciso sobre a conexão das viagens de ônibus eletrificados.
Embora os benefícios do ônibus elétrico para as cidades sejam claros, ainda existem barreiras que dificultam sua adoção em larga escala. A principal preocupação é a autonomia do veículo, já que os ônibus elétricos são capazes de rodar até 250 quilômetros com uma carga total de quatro horas. Algumas cidades optam por carregar os ônibus em garagens, enquanto outras optam por carregar nas paradas em terminais.
Desse modo, o desenvolvimento de baterias com maior capacidade é vital para tornar o modelo elétrico mais atraente para as empresas de transporte. Uma das maneiras de tornar as baterias mais eficientes é a utilização da frenagem para recarregá-la, algo que, no entanto, ainda não é amplamente adotado. Outro obstáculo são os custos das baterias. Pesquisadores estimam que 60% do custo dos veículos elétricos estejam relacionados a elas, tornando o preço de aquisição de um ônibus elétrico superior ao da opção a diesel.
A longo prazo, entretanto, essa diferença tende a ser superada, como mostra um relatório da Universidade de Columbia, feito a partir dos dados da frota elétrica de Nova Iorque. Após 12 anos de uso, os ônibus elétricos se tornam mais vantajosos financeiramente do que os veículos a diesel. Se forem considerados também os custos da poluição para a saúde pública, o investimento se pagaria em apenas dois anos.
Apesar do alto custo de implementação, os benefícios do transporte elétrico apresentam importantes benefícios sociais, econômicos e ambientais, sendo extremamente estratégico para a descarbonização do planeta e para a construção de um ambiente urbano mais justo e equilibrado.
