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As lições dos países mais inovadores para um futuro sustentável
Países mais inovadores do mundo inspiram modelos de trabalho colaborativo, integração e visão de longo prazo.
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Redação em 26 de setembro de 2023 6minutos de leitura
The Novartis Pavillon, na Suiça. Utiliza energia fotovoltaica orgânica em sua arquitetura. (Foto: iart- studio for media architectures)
Diversas nações que se destacam pela inovação têm concentrado esforços na formulação de políticas e iniciativas voltadas para o aprimoramento da eficiência em múltiplos setores. Recentemente, o Índice Global de Inovação (IGI) lançou luz sobre os líderes nesse cenário. No topo da lista dos países mais inovadores encontra-se a Suíça, que se destaca por ostentar uma liderança significativa, mesmo sendo bem menor que grandes potências mundiais.
Logo em sequência, situam-se os Estados Unidos, Suécia e Reino Unido. Em comum, essas nações têm mantido um apoio constante a instituições, capital humano, pesquisa, infraestrutura e empreendedorismo – um ambiente propício ao florescimento da inovação. Haveria, então, uma fórmula para o sucesso da inovação? O que os líderes no ranking de países mais inovadores têm a ensinar ao mundo?
Países mais inovadores do mundo investem com estratégia
No cenário global da inovação, a Suíça se destaca como uma nação líder, ocupando o primeiro lugar no Índice Global de Inovação pela 11ª vez. A capacidade da Suíça de manter sua posição cobiçada entre os países mais inovadores do mundo pode ser atribuída a uma combinação única de fatores.
Muito além do país dos chocolates e relógios, o pequeno país europeu alia inovação e pesquisa, resultando em um cenário notável de patentes e desenvolvimento tecnológico. Não à toa, a Suíça já conquistou o topo do ranking de patentes por habitante no Escritório Europeu de Patentes. Somente no ano passado, as empresas suíças submeteram cerca de sete vezes mais solicitações de registro de patentes por milhão de habitantes em comparação com empresas dos Estados Unidos, especialmente no setor de tecnologia médica, que liderou a lista.
Cerca de 60% dos fabricantes suíços de equipamentos médicos colaboram com dez universidades e dois institutos federais de tecnologia. Isso impulsiona a criação de produtos avançados e inovadores, como próteses de alta qualidade desenvolvidas pela empresa Biomecanica. Ao abrir uma empresa na Suíça, eles receberam quase 50% do investimento total como apoio do governo.
Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) totalizam cerca de 3,42% do PIB, aproximadamente US$ 21,7 bilhões. No setor de tecnologia da informação, gigantes internacionais como Google e IBM operam centros de pesquisa e desenvolvimento, contribuindo ainda mais para o cenário inovador.
Como resultado, surgiram por todo o país centros de inovação – ou melhor, “vales”, devido à sua topografia singular – onde o avanço em campos específicos é fomentado e respaldado. A Suíça também se destaca com uma agência dedicada, a Innosuisse, cujo propósito é financiar a inovação ancorada na ciência. Frequentemente, o trabalho das suas universidades culmina na criação de startups promissoras, incluindo aquelas que visam trazer inovações e melhoria para os centros urbanos.
Entre essas empresas está a Climeworks, originada de uma das principais universidades de tecnologia e reconhecida por ser criadora da primeira tecnologia comercial de remoção de carbono do mundo. Expandindo as fronteiras das soluções de captura de carbono, a empresa já anunciou planos para estabelecer uma segunda unidade comercial na Islândia, almejando a remoção de até um bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera, anualmente, até 2050.
Educação como prioridade
O sucesso da Suíça em diversos âmbitos não pode ser desassociado de sua ênfase na educação. Com um sólido sistema de aprendizado que abrange desde a primeira infância até o nível de pós-graduação, o país tem se destacado internacionalmente. Esse compromisso educacional é evidenciado pela densidade de universidades de destaque, líderes globais, que formam o núcleo da busca pelo conhecimento e pela inovação. Especificamente, os dois Institutos Federais Suíços de Tecnologia – o ETHZ, em Zurique, e o EPFL, em Lausanne, – encabeçam essa jornada de descoberta e aplicação.
Nessas instituições, a pesquisa é não apenas valorizada, mas também fundamentada e aplicada. Isso se traduz em uma abordagem dinâmica que busca expandir as fronteiras do saber e enfrentar os desafios sociais e empresariais com soluções concretas. O resultado dessa sinergia é uma colaboração substancial entre as universidades e a indústria. Essa conexão se solidifica na rede das oito Universidades Suíças de Ciências Aplicadas e Artes, uma ponte que liga as instituições acadêmicas de renome com a indústria, incluindo as pequenas e médias empresas (PMEs).
Inovação especializada
Setores de inovação especializados são outro ponto de destaque no país europeu. São exemplos a Associação Crypto Valley, Drone Valley e o Vale Suíço de Alimentação e Nutrição.
Destaque no cenário internacional, a Associação Crypto Valley se dedica ao desenvolvimento global da tecnologia blockchain, que abre portas para inovações em diversas áreas, desde finanças até saúde. O aglomerado de talento e recursos na Crypto Valley confere à Suíça um papel de liderança na pesquisa e aplicação dessa tecnologia disruptiva.
Por sua vez, o Drone Valley é um ecossistema que visa acelerar o desenvolvimento de drones com aplicações específicas, como energia solar e conservação ambiental, posicionando a Suíça na vanguarda da tecnologia.
No Swiss Food and Nutrition Valley, o colaborativismo tem como objetivo revitalizar e aprimorar o sistema alimentar, abrindo caminho para soluções sustentáveis e saudáveis, fazendo frente ao desafio global de alimentar uma população crescente sem novas terras agricultáveis.
Ecossistemas de inovação
Embora esteja no topo do ranking de países mais inovadores há 11 anos, o Índice Global de Inovação deixa claro a competitividade crescente com grandes potências, como os Estados Unidos.
De acordo com a Fundação Nacional de Ciência (NSF), o Governo Federal estadunidense direcionou um montante de US$ 118 bilhões para atividades de pesquisa somente em 2017. A proporção destinada à pesquisa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano atinge 2,7%, de acordo com a Unesco. A motivo de comparação, o investimento do Brasil nesse contexto é de menos da metade desse valor, totalizando 1,3% do PIB.
Segundo a World Economic Forum (WEF), Nova Iorque conquistou o quinto lugar como uma das cidades mais inovadoras do mundo. A cidade possui estrutura o suficiente para abrigar uma vasta gama de setores e indústrias, que se conectam e geram sinergias, promovendo um ambiente altamente inovador.
De acordo com as descobertas da StartupBlink, um centro de pesquisa especializado no monitoramento do desenvolvimento de ecossistemas de inovação ao redor do mundo, a cidade de Boston ocupa uma posição notável entre os cinco principais ecossistemas globais de startups. As evidências ressaltam especialmente sua proeminência nos campos de negócios, suporte universitário e qualidade do ambiente empresarial.
Aliás, o estado de Massachusetts, lar da cidade de Boston, tem assumido o posto de epicentro na área de biotecnologia, em grande parte graças à expertise do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Com mais de 80 organizações focadas em inovação atuando em todo o campus do MIT, a região experimenta um fervor criativo impulsionado pela colaboração.
O nordeste dos Estados Unidos também se consolida como um polo acadêmico de renome internacional, abrigando instituições de grande prestígio, como o próprio MIT, Harvard, Princeton, Universidade da Pensilvânia, Yale, Cornell e Columbia.
Inovação e sustentabilidade nos países mais inovadores
A Suécia, um dos países mais inovadores do mundo que compete diretamente com a Suíça, é uma nação de pequeno porte, com pouco mais de 10 milhões de habitantes. Em 2018, Vinnova, a agência sueca de financiamento da inovação, elaborou um relatório identificando as áreas chaves destinadas a impulsionar a capacidade inovadora das empresas no país, abrangendo o desenvolvimento industrial, os setores de viagens e transporte, a promoção de cidades sustentáveis e inteligentes, a melhoria de serviços, o fortalecimento da segurança e o avanço na área da saúde.
Um dos destaques é a transição energética. A Suécia desponta como um dos líderes nesse campo: mais de 54,6% de sua energia são provenientes de fontes renováveis. Desse total, aproximadamente 39% originam-se de fontes hidrelétricas, enquanto 11% provêm da energia eólica. Em fevereiro de 2023, o país registrou recordes na produção de energia eólica, alcançando a marca de 27% da eletricidade gerada por essa fonte.
No âmbito da inovação sueca, o processo começa desde a fase de concepção de edifícios, fundamentado no conceito de “prosumo”, que considera indivíduos ou entidades como, simultaneamente, produtores e consumidores de energia. O excedente de energia gerado por residências ou edifícios, proveniente de fontes como painéis fotovoltaicos, turbinas eólicas ou biomassa, é incorporado à rede de distribuição em nível nacional ou local.
No momento, com aproximadamente 500 sistemas de aquecimento urbano espalhados pelo país, essa produção descentralizada traz a vantagem de minimizar custos de transporte e reduzir a carga sobre a infraestrutura energética.
Em um cenário global cada vez mais marcado pela competitividade, dinamismo e a necessidade urgente de responder a grandes desafios globais em termos de sustentabilidade, a inovação é um elemento fundamental, que, como ensinam os países mais inovadores do mundo, demanda foco, visão de longo prazo, persistência e colaborativismo.
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