Playgrounds mais verdes: uma solução climática que não pode ser negligenciada

Os EUA estão transformando pátios asfaltados em centros comunitários sustentáveis. A iniciativa é considerada uma eficaz solução climática

Por Redação em 21 de março de 2023 4 minutos de leitura

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A escola primária Shuang Wen, na Chinatown de Manhattan, nos EUA, transformou o seu asfaltado playground em um área verde e deu, assim, um passo importante em prol da sustentabilidade. Após uma reestruturação, o parque recreativo ao ar livre ganhou um campo poroso de grama, capaz de capturar quase cinco milhões de litros de água de chuva, de acordo com o Departamento de Proteção Ambiental (DEP) da cidade de Nova York.

Localizada em uma planície pluvial perto do East River, a escola já havia experimentado efeitos climáticos devastadores: o pátio ficou submerso após a supertempestade provocadas pelo furacão Sandy, em 2012. Essa, então, passou a ser uma questão urgente a ser resolvida.

Com a implantação do novo sistema de escoamento, contudo, alagamentos como este dificilmente acontecerão novamente. A estrutura criada permite que a água da chuva seja interceptada antes de alcançar uma bacia de captação, sendo naturalmente absorvida pelo solo. Isso abre uma capacidade adicional no sistema de esgoto, ajudando a reduzir as inundações.  

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Playgrounds escolares podem se transformar em parques sustentáveis

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Seguido ao replanejamento, a escola ganhou novos equipamentos de recreação, uma roda de ioga, um palco e quadras de basquete e tênis. Isso foi possível pois o novo gramado fica sobre bacias de infiltração, reservatórios capazes de reter grandes volumes de águas pluviais.

Essas bacias cobertas por plantas, combinadas a um gazebo com telhado de grama, a um jardim de chuva administrado por estudantes e a uma série de novas árvores, podem ajudar a cidade a absorver melhor a precipitação extrema, que está se tornando cada vez mais frequente e mais severa por causa das mudanças climáticas.

Para o processo, a Shuang Wen contou com o auxílio da Trust for Public Land (TPC),  que, nos últimos 30 anos, já ajudou a reformular mais de 200 pátios escolares em Nova York. As mudanças contaram com o apoio financeiro de várias agências municipais e de organizações sem fins lucrativos e incluíram a criação de espaços de lazer e de áreas sombreadas.

Em entrevista ao site Nexus Media News, Danielle Denk, diretora da Iniciativa Pátios Escolares Comunitários da TPL, avalia que encontrar uma área real disponível para construir um espaço do zero pode ser desafiador – e até proibitivo -; mas, transformar pátios escolares, cujo terreno, muitas vezes, não é bem aproveitado, é uma “estratégia realmente inteligente para a criação de parques.”

Mais áreas verdes ajudam a “oxigenar” as cidades

Em cidades densas como Nova York, onde o espaço aberto é escasso, as autoridades já estão pensando em transmutar playgrounds de escolas em “espaços verdes” de convivência. Ao redor do mundo, aliás, urbanistas, arquitetos, designers e poder público procuram soluções para tornar as cidades mais “esponjosas”

O concreto e asfalto contribuem para a propagação de ilhas de calor urbanas, aumentando as temperaturas diurnas médias em até sete graus em climas quentes. Já as áreas verdes fazem o oposto, reduzindo as temperaturas circundantes em até sete graus.

De acordo com a TPL, a maioria dos 90 mil pátios de escolas públicas nos EUA são asfaltados. Acontece que o asfalto incha quando chove ou o tempo fica úmido; quando vêm calor e sol, ele retrai. Com o solo “abrindo e fechando”, com o tempo aparecem as trincas. Além disso, pesquisadores têm observado em estudo científicos que a pavimentação das pistas, feita a partir do petróleo, emite uma quantidade severa de partículas poluentes quando exposta a altas temperaturas, luz solar e chuvas.

Além de absorver a água da chuva e refrescar, os parques podem ressocializar bairros

A criação de mais áreas verdes é a aposta de muitos para resolver uma lacuna de equidade nos EUA, pois cerca de 100 milhões de americanos, incluindo 28 milhões de crianças, não vivem a menos de dez minutos a pé de um parque ou espaço verde. Comunidades negras e de bairros de baixa renda têm ainda menos acesso a espaços verdes. 

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“Pátios escolares são uma maneira importante de criar acesso a um parque”, avalia Denk. “Quando eles estão abertos à comunidade após o expediente, podem atender a muitas necessidades.” Estudos mostram que o acesso a espaços verdes favorece a saúde física e mental .

Pesquisas, também, apontam as áreas verdes escolares como fator para um melhor desempenho acadêmico. E isso pode ser atribuído à capacidade da natureza de diminuir o estresse e a fadiga mental, aumentar a prática de atividade física e promover brincadeiras mais criativas durante o recreio . 

Educação aliada a boa ações estimula alunos aderiram à solução climática

O diretor da Shuang Wen, Jeremy Kabinoff, conta que o novo playground permitiu aos administradores criarem clubes e organizarem eventos – que antes não seriam possíveis – como programas de tênis e atletismo, uma liga de futebol e um festival de Halloween ao ar livre, que atraiu mais de 1.000 participantes no ano passado. 

Após aprenderem sobre problemas de qualidade da água, inundações na cidade, transbordamentos combinados de esgoto e como todos podem trabalhar para lidar com isso, os alunos se sentiram confiantes a ponto de ajudaram a projetar o novo pátio da escola por meio de discussões, pesquisas e votos. Segundo o diretor, eles ficaram tão entusiasmados com a infraestrutura verde quanto com os novos equipamentos do playground

Tanto que quando chegou a hora de decidirem entre expandir a área de lazer ou construir um jardim de chuva para ajudar a gerenciar as águas pluviais, os alunos escolheram o jardim de chuva (uma depressão linear preenchida com vegetação, solo e demais elementos filtrantes).

“Quando os estudantes têm a chance de fazer a coisa certa para o meio ambiente e para a sua comunidade, eles fazem essa escolha. A motivação continua, porque eles passam a se enxergar como atores ambientais que estão fazendo a sua parte em relação às mudanças climáticas”, diz Denk.