A partir da restauração de áreas degradadas, startup brasileira de reflorestamento PlantVerd busca promover transformação socioambiental.
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Nathália Ribeiro em 14 de novembro de 2023 5minutos de leitura
Antônio Borges (Foto: Divulgação)
Embora as grandes cidades sejam importantes no impulsionamento do crescimento econômico global, paradoxalmente, elas são também fontes de degradação ambiental. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), as áreas urbanas são responsáveis por cerca de 75% do consumo mundial de energia e mais de 70% das emissões globais de gases de efeito estufa. Além disso, a expansão urbana tem desencadeado a invasão acelerada de habitats naturais. Em entrevista ao Habitability, Antônio Borges, diretor-executivo da PlantVerd, conta como o reflorestamento em áreas degradadas é uma das formas de tentar equilibrar essa relação.
Formado em direito, Borges redirecionou sua carreira ao perceber a expressiva quantidade de multas ambientais que grandes empresas acumulavam e, principalmente, pequenos produtores. Assim, transformou o reflorestamento em negócio (e propósito de vida). “Havia uma ampla lacuna relacionada às compensações ambientais. Muitas empresas obtinham a licença ambiental, mas enfrentavam dificuldades para realizar suas compensações, o que nos levou a adentrar na esfera do reflorestamento. Nosso objetivo, portanto, é auxiliar as empresas e indivíduos a concretizar suas compensações de maneira ambientalmente responsável, atendendo às exigências dos órgãos”, explica.
Desde sua fundação em 2013, a PlantVerd contabiliza mais de 2 milhões de mudas plantadas, 1.428 hectares de áreas degradadas que foram recuperadas e 47.608 kg de carbono neutralizados, contribuindo também para a redução dos custos associados ao reflorestamento no Brasil.
Plantio mecanizado, expertise humana
Para atender à demanda em grande escala e reduzir os custos associados ao reflorestamento, a PlantVerd incorpora práticas de plantio mecanizado. Contudo, Borges ressalta que a mão do homem continua sendo crucial para garantir o sucesso das operações.
Segundo ele, nem sempre a aplicação do plantio mecanizado é viável, uma vez que as características específicas do terreno podem limitar sua eficácia. Por isso, cada projeto demanda uma abordagem única, levando em consideração múltiplos fatores, como topografia, composição do solo e peculiaridades ambientais.
“Desenvolvemos um plano personalizado para cada local, utilizando sementes nativas da região e implementando práticas de tratamento adequado do solo. Esse enfoque resulta em mudas mais robustas, diminuindo tanto o risco de mortalidade quanto os possíveis prejuízos financeiros”, salienta.
Oportunidades sociais
Se a intervenção humana é crucial para o sucesso do reflorestamento, a recíproca é verdadeira na forma como Borges incorporou a dimensão social ao compromisso ambiental do seu negócio. A cada projeto contratado, a PlantVerd abre as oportunidades de emprego para indivíduos que tenham passado pelo sistema prisional, além dos analfabetos. Segundo o executivo, 60% do seu quadro de colaboradores são compostos por indivíduos frequentemente marginalizados da sociedade.
“Precisamos abordar a questão da justiça climática também. As pessoas em situação de vulnerabilidade econômica muitas vezes enfrentam dificuldades em contribuir para a preservação ambiental, pois lutam para atender às necessidades básicas de sobrevivência, como alimentação”, ressalta Borges.
Para ele, reverter a situação demanda investimento em três pilares: educação para os colaboradores e seus filhos, salário digno e habitação adequada. “Ao fornecer esse tripé, com acompanhamento ativo desse processo de aprendizagem e treinamentos para capacitar os funcionários, buscamos uma transformação significativa na vida dessas pessoas que enfrentam privações”.
Reflorestamento sustentável, frutos e legado
Em parceria com o governo estadual de São Paulo, a PlantVerd participou do projeto da Nova Tamoios por meio do Programa Nascentes – iniciativa lançada em 2014 com o propósito de facilitar a recuperação de matas ciliares e terrenos degradados e baratear os custos associados a esse processo. O resultado: 50 hectares de área reflorestada e a criação da lei Ativo Verde, uma modalidade de crédito ambiental integrada ao Programa Nascentes.
Dentro do programa, empresas como a PlantVerd e organizações ambientais não precisam mais aguardar que outras empresas as procurem para fazer suas compensações ambientais. Em vez disso, elas podem começar a realizar as ações de restauração ambiental, como reflorestamentos, e inscrever as iniciativas em uma espécie de catálogo de projetos.
Dessa forma, quando um empreendedor se encontra na necessidade de efetuar uma compensação ambiental, ele tem à disposição diversos projetos que já passaram por aprovação e foram registrados pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente. Essa abordagem simplifica o processo para o empreendedor, pois elimina a necessidade de desenvolver um projeto do zero. “No Programa Ativo Verde, é essencial compreender os critérios e requisitos para a aprovação de projetos de restauração florestal. Esses padrões orientam a implementação eficaz dessas iniciativas e fortalecem a colaboração entre os setores público e privado nessa promoção da conservação e preservação ambiental”, diz Borges.
Os projetos envolvem o plantio de espécies nativas e outros serviços ambientais, como a remoção de pragas, contribuindo para a preservação e o enriquecimento de ecossistemas. A responsabilidade da empresa com a área reflorestada é concluída quando a floresta atinge a capacidade de sustentar-se autonomamente, sem intervenções, indicando que a região pode prosperar por conta própria. Estágio denominado “abandono de solo”.
Indicadores como a altura média das árvores, de dois metros, e cobertura de copa, assegurando que a área forneça sombra e viabilize o nascimento de mata, assim como a presença de regenerantes – plantas que surgem naturalmente sem intervenção direta – e a diversidade de espécies, são critérios que evidenciam a capacidade de a natureza seguir sua trajetória de forma autônoma.
Unindo propósito e resiliência para transformar comunidades
Para Borges, simplesmente plantar árvores não é o suficiente. É preciso que todos tenham um propósito claro que una e inspire o mundo. “Na área ambiental, notamos várias causas nobres sendo realizadas, mas muitas vezes de maneira desconexa. Todos os setores precisam trabalhar para enfrentar a inevitabilidade dos impactos das mudanças climáticas e, em vez de evitar, tornar-nos resilientes a essas transformações”.
Além de se dedicar ao plantio e restauração de áreas por meio do uso de espécies arbóreas nativas, a startup também atua em projetos que envolvem a contenção de erosão, a construção de canais e bacias hidrográficas, a revitalização de nascentes e a preservação da vegetação ao longo de rodovias e em aterros.
“Esse propósito serve como uma bússola para diversas iniciativas, abrangendo desde a plantação de árvores em Áreas de Preservação Permanente (APP) até a criação de construções mais resilientes, impulsionando uma economia mais circular e resistente, e até mesmo abordando desafios demográficos trazidos por urbanistas”, pontua.
O ponto de partida para tal foi desenhar um mapa da resiliência. “Compreendemos as forças da natureza, principalmente os rios voadores (volumes de vapor de água que vêm do oceano Atlântico e precipita sob a forma de chuva na Amazônia) que afetam nossa região e reconhecemos a importância da Amazônia para manter esse equilíbrio”. A partir desse levantamento, foram determinadas as áreas-chave de atuação, como a região de Piracicaba, Capivari, Jundiaí, Campinas e Cantareira, no estado de São Paulo, responsável pelo maior abastecimento de água do país.
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