Ruínas Maias mostram redes urbanas hiperconectadas (de 3 mil anos atrás) 

Construções foram descobertas em ruínas maias na Guatemala e apontam para passado e futuro das cidades latinas.

Por Redação em 6 de julho de 2023 3 minutos de leitura

ruinas maias

Na Guatemala, ruínas maias mostraram uma rede hiperconectada de mais de 400 cidades ligadas por quase 200 quilômetros de estradas. O detalhe? Essas construções datam de 3 mil anos atrás. As informações mudam não só o que se escreveu sobre o passado da América Latina como também apontam para como se construir um futuro ancestral.

Para chegar aos dados, cientistas vasculharam os solos da selva remota de El mirador, no sul da Guatemala utilizando o Lidar. A tecnologia de mapeamento a laser, que é também usada para a pesquisa de carros autônomos, calibrou o rastreamento de 2 mil quilômetros quadrados da floresta, a partir das ruínas de Tikal.

O que foi encontrado ali foi uma rede de 417 cidades hiperconectadas, com construções variadas, desde pirâmides até canais de irrigação. Os cientistas dizem que essa extensa rede de cidades, junto com sofisticados complexos cerimoniais e infraestrutura agrícola sugerem que a antiga civilização maia foi tão avançada e sofisticada quanto os seus “contemporâneos” das civilizações grega e chinesa.

Rede de estradas na Guatemala

Reprodução: National Geographic

Em entrevista ao National Geographic, o arqueólogo Marcello Canuto, da Universidade de Tulane, que participou do projeto, afirmou que as construções encontradas eram impressionantes. “Era uma civilização que literalmente estava movendo montanhas”, sugeriu Canuto. Foram encontradas quadras de jogos de bola, instalações de engenharia hidráulica, como reservatórios, represas e canais de irrigação.

Tais construções datam de mil anos antes da pirâmide de Yucatan, no México, conhecida atualmente como o principal monumento da civilização maia. Algumas das principais estruturam datam de 1 mil antes de Cristo, o que derruba a teoria de que os maias eram apenas caçadores e coletores, como afirmou um dos pesquisadores do projeto, o arqueólogo da Universidade de Idaho, Richard Hansen.

As cidades maias eram conectadas por uma rede de 180 quilômetros de estradas e de calçadas, algumas medindo cerca de 40 metros, elevadas em até cinco metros de altura. Arqueólogos acreditam que, pela extensão, os caminhos eram altamente transitados, usados também para o comércio. 

“Eles são o primeiro sistema de superestradas do mundo que temos”, disse Hansen, em entrevista para a CNN.  “O que é incrível (as calçadas) é que elas unem todas essas cidades como uma teia de aranha… que forma uma das primeiras sociedades estatais do Hemisfério Ocidental”.

Megalópole dos maias

Em 2018, dados preliminares das pesquisas com o Lidar mostraram um pouco mais de 61 mil estruturas construídas na região da Guatemala e do sul do México. Com isso, os cientistas calcularam que, antes mesmo do século I, viviam por ali entre 10 milhões e 15 milhões de pessoas, em uma densidade populacional só vista em cidades modernas.

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“Ressalto também que a escala e a onipresença das construções, bem como a manipulação realizada por eles na paisagem natural, são surpreendentes. Estas informações nos ajudam a entender como eram altos o nível de trabalho e a interdependência socioeconômica na sociedade maia”, afirmou Canuto, em entrevista para a BBC.

Para suportar essa quantidade de gente, os maias recorriam à agricultura intensiva e modificavam o ambiente ativamente. Pesquisa feita em 2018 localizou 306 quilômetros quadrados de terrenos cultivados em terraços, algo que corresponde a 17% do território que a floresta guatemalteca ocupa hoje.

Ruínas maias: passado e futuro

Saber que existem tecnologias esquecidas é importante quando pensamos em construir o futuro. As estradas são um exemplo prático. Muitas passavam por terrenos alagados e por cenários adversos do tempo. No topo das estradas mais elevadas havia uma espessa camada de reboco branco, o que ajudaria a aumentar a visibilidade durante a noite. 

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“Eles não tinham nenhum animal de carga na região maia… e não estamos pensando que eles tivessem veículos com rodas nessas estradas, como estradas romanas, como carruagens ou outros enfeites, mas eles foram definitivamente construídos para as pessoas interagirem, se comunicarem e provavelmente viajarem entre locais”, disse Canuto para a CNN.

O declínio da civilização maia também mostra que os contemporâneos têm muito a aprender com a América Latina ancestral. A teoria mais forte sobre o fim da pungência da civilização maia está, exatamente, nos efeitos da extrema alteração do meio ambiente. Estudo realizado pela Universidade de Cambridge e pela Universidade da Flórida estimam que houve um longo período de estiagem na América Central por volta do ano 1000 depois de Cristo, muito provavelmente, proveniente dos desmatamentos.

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