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Smart construções: a obra como uma linha de montagem
Módulos pré-fabricados têm potencial de reduzir em 50% o tempo total de obras e já estão sendo colocados em prática tornando realidade as smart construções, diz diretora de produto e inovação da Resia.
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Camila de Lira em 1 de agosto de 2022 5minutos de leitura
Nada de smart homes, chegamos na era das smart construções: obras que custam menos tempo, matéria-prima e mão de obra. Em troca, ganham mais flexibilidade e produtividade. Por meio da automatização e da construção modular, o futuro, que antes parecia utópico, já está sendo edificado e vai chegar em breve para mudar as fundações do setor de construção civil, no que depender da Resia – incorporadora da MRV&CO que atua exclusivamente no mercado de locação de imóveis nos Estados Unidos.
Em entrevista exclusiva ao Habitability, a diretora de product development and innovation da Resia Selma Rabelo contou como a companhia quer transformar a operação da incorporadora em uma montadora de edifícios e como a tecnologia está ajudando isso a se tornar realidade, dando corpo às smart construções. “Criamos um mindset de pensar na obra como uma linha de montagem, e não como um espaço apenas para construção in loco”, disse a diretora.
“A construção ficou atrás de todas as indústrias em ganho de produtividade no último século. Apenas a manufatura aumentou a produtividade 16 vezes nos últimos 10 anos, enquanto a construção não cresceu nem três vezes, comenta Selma. A automatização e a tecnologia vêm para suprir esse gap e aumentar a produção do setor.
Mindset do setor automobilístico nutre a essência das smart construções modulares
Ter o mindset de linha de montagem depende de dois fatores. O primeiro é o design, que traz embutido a tecnologia. E é aí que entra o “pod”, como a Resia chama seus módulos pré-construídos. “O pod é como se fosse uma caixa pronta com um espaço que foi todo montado em fábrica e é encaixado quando as fundações do apartamento estão prontas”, explica Selma.
“O paralelo é forte com a produção automotiva. A produção de veículos já tinha superado a questão da fabricação com segurança há muito tempo. Eles deixaram de criar tudo na fábrica e passaram apenas a montar os carros. Existe toda uma cadeia de fornecedores de peças de automóveis”, comenta a executiva. Ao montar os veículos, as fabricantes ganharam em tempo e em produtividade. E é o que a Resia espera com os pods.
Segundo Selma, a expectativa é que a construção modular diminua em 51% o tempo total da obra da Resia. Apenas os pods serão responsáveis por uma queda de 28% no tempo total do serviço. A Resia, atualmente, tem pods de banheiros, cozinhas e do espaço de ar-condicionado e lavanderia. Com os módulos, a companhia tem o objetivo de montar um apartamento em 30 dias. “A Resia é mais como uma empresa que faz montagem em canteiro de obra do que constrói em canteiro de obra”, destaca Selma.
Smart construções –mudanças em cascata
Apenas construir os módulos, no entanto, não traria tanta produtividade. (Re)pensar o design dos apartamentos sob a ótica das smart construções também foi necessário. “Repensamos todos os apartamentos que construímos e chegamos a três modelos diferentes, todos eles construídos a partir de módulos parecidos”, disse Selma.
Para pensar na construção “offisite”, é preciso pensar na “repetição”. “Não adianta colocar na linha de montagem vários modelos de cozinha e de banheiros. Não ganha em produtividade. É preciso produzir o mesmo modelo, assim como as fábricas produzem os mesmos modelos de carro”, disse Selma.
Além disso, a companhia ainda está trabalhando em soluções de fachada pronta e em um “partial dry in”, ou seja, uma solução para proteger os apartamentos da água, fazendo com que os pods possam entrar mais cedo durante a obra. O que também ajuda a reduzir o tempo final de construção.
Pensar como montadora significou transformar não só o jeito de desenhar os espaços, como também a forma de se relacionar com os colaboradores. Aqueles que antes estavam acostumados a fazer toda a obra no canteiro tiveram que se adaptar aos modelos pré-prontos vindos de fábrica. Quebrar o formato tradicional de construir tudo no espaço de obra se mostrou um desafio para a conversa com os empreiteiros. “Eles tiveram que aprender como precificar o trabalho, já que tiramos parte do escopo deles. O escopo menor também funcionou em favor deles, porque eles conseguem fazer de quatro a seis projetos ao mesmo tempo e conseguem levantar mais dinheiro”, comentou a executiva.
Do banheiro para a casa
A incursão da Resia nos “pods” começou pelo banheiro. Para aqueles que trabalham com construção, o banheiro é o ponto mais complexo de se conectar a um apartamento, já que ele concentra atividades diversas e específicas, como hidráulica, mecânica e elétrica. “Fazer um banheiro era um trabalho em cadeia que, se uma parte da obra atrasasse, atrasava tudo. Isso sem contar que, por ser um trabalho sequenciado, há chances de a ação de um danificar a do outro, o que leva tudo à estaca zero”, explica Selma. Tudo isso para a entrega de um espaço relativamente pequeno.
Sob a perspectiva de uma cadeia de produção, o banheiro era um gargalo que precisava ser resolvido. Os pods de banheiro já existiam no mercado, mas eram mais voltados para a construção de hospitais e hotéis. A Resia achou uma forma de adaptá-los para suas construções e passou a testá-los em modelos 3D e depois em apartamentos.
A partir dos módulos, hoje em dia, é possível seguir levantando a obra enquanto se produz os banheiros e as cozinhas. E o principal é que a construção é feita em um ambiente controlado, o que significa que já são inspecionados e têm qualidade atestada em série. Outro ponto é que os pods podem ser feitos em paralelo com a construção das paredes, ganhando um tempo precioso para a edificação. “A obra começa mesmo antes da obra começar, porque ela já está sendo feita na fábrica”, acrescenta Selma.
Bloco por bloco, uma nova fábrica para fomentar o crescimento do setor
A incorporadora da MRV&CO que opera nos Estados Unidos recentemente anunciou que vai construir uma fábrica para construir os módulos – ou pods – dos edifícios. A fábrica terá capacidade de produzir entre 18 mil e 20 mil módulos por ano. Ganhar essa independência é essencial para o crescimento da Resia, diz Selma. “Atualmente, o mercado norte-americano produz 30 mil pods por ano, a maioria deles para hotéis e hospitais. E 30 mil pods é o que a Resia vai precisar apenas para garantir a expansão que terá até 2026”, comenta a executiva.
A Offsite Manufacture deve ficar pronta até 2024 e também vai contar com automatização. “As fábricas de pods que conhecemos ainda têm muito trabalho manual e artesanal. E isso tem justificativa, porque são indústrias que precisam fornecer para diversas empresas. Mas o que pretendemos fazer é criar a linha de produção dos apartamentos. Sairá sempre os mesmos banheiros, as mesmas cozinhas. Ou seja, o mais automatizado possível”, disse a executiva. A MRV&CO fará investimento de US$ 32 milhões apenas para maquinário da Resia Offsite Manufacture.
E + S do ESG
Além do ganho de tempo, há também o ganho relacionado à mão de obra. Em um momento em que a briga por mão de obra qualificada para as construções aumenta, especialmente nos Estados Unidos, a tecnologia é oportuna. Cálculos da Resia indicam que a quantidade de trabalhadores utilizada em cada obra deve cair em 40%.
O envelhecimento da população norte-americana, bem como a disputa com a indústria de e-commerce e tecnologia pelos trabalhadores também afeta a Resia. Para a companhia, a possibilidade de construir em fábricas é oportunidade de “competir de frente” com o mercado de tecnologia. “A solução offsite pode competir diretamente com o mercado que está cooptando trabalhadores, já que oferece condições de trabalho, teto e ar-condicionado para as pessoas”, comenta.
Do ponto de vista ambiental, os pods trazem a capacidade de reduzir os desperdícios. “Sabemos o tamanho de cada painel para os pods e já o compramos sob medida, isso diminui o lixo produzido pela obra”, disse Selma. Ela também destaca que o fato de a construção pesada ficar dentro da fábrica traz menos impactos de barulho e sujeira para a vizinhança. A construção modular é um meio da edificação utilizar materiais novos e, como no conceito de smart construções, trazer mais eficiência . A Resia, por exemplo, estuda colocar fibras sustentáveis na constituição dos pods para substituir o drywall. “O futuro da cidade e do mercado é evoluir na direção da flexibilidade e da acessibilidade. Tanto da moradia, quanto da construção como um todo”, finaliza a executiva.
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