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Carbono incorporado na corrida por um planeta descarbonizado
Medir, gerir e inovar para reduzir o carbono incorporado da construção civil é estratégico frente ao desafio global de conter as mudanças climáticas.
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Redação em 27 de setembro de 2023 5minutos de leitura
Na corrida pela descarbonização do planeta, a minimização do carbono incorporado nas edificações é uma das medidas que não deve ser negligenciada. De responsabilidade compartilhada e imperativa, as ações começam já na fase de projetos, passando pela escolha de materiais com baixo teor de carbono até seus métodos produtivos por meio de práticas com menor impacto ambiental. Tudo com o intuito de reduzir a pegada de carbono da construção civil.
O termo “carbono incorporado”, também conhecido como “carbono embutido” ou “pegada de carbono dos materiais de construção”, refere-se à quantidade de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa liberada durante todo o ciclo de vida de um material de construção, desde a extração da matéria-prima até a fabricação, transporte, construção, uso, manutenção e, eventualmente, o descarte ou reciclagem.
Em outras palavras, o carbono incorporado representa a soma das emissões de gases de efeito estufa associada a todas as etapas do processo de produção e uso de um determinado material de construção.
De acordo com o United Nations Environment Programme (Unep), o setor da construção responde por uma parcela significativa, chegando a até 30%, de todas as emissões de gases que contribuem para o efeito estufa. Essas emissões são decorrentes de uma série de atividades, incluindo mineração, processamento, transporte, operações industriais e a combinação de produtos químicos. Dentre os gases liberados, destacam-se o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e o ozônio (O3). Quando lançados na atmosfera, esses gases absorvem parte dos raios solares e redistribuem energia na forma de radiação na atmosfera, contribuindo para o aquecimento do planeta.
A redução do carbono incorporado geralmente envolve a escolha de materiais de construção mais sustentáveis, a minimização do desperdício e a busca por práticas de construção mais eficientes, a exemplo da construção modular.
Carbono incorporado e carbono operacional
Enquanto o carbono incorporado diz respeito ao processo de construção, o carbono operacional engloba as emissões de dióxido de carbono geradas durante o período de utilização de um edifício, incluindo fatores como o consumo de eletricidade, sistemas de aquecimento, resfriamento e outras atividades relacionadas à sua operação ao longo do tempo.
Se você não pode medir…
“Se você não pode medir, não pode gerenciar”. Uma das frases mais famosas de Peter Drucker, considerado o pai da gestão moderna, resume bem a importância das métricas. E quando o tema é redução de impacto ambiental, não é diferente. Avaliar o carbono incorporado na construção é uma abordagem essencial para entender o impacto de um edifício sobre o meio ambiente ao longo de seu ciclo de vida e, a partir disso, elencar prioridades para atuar de forma mais eficiente. Isso envolve a quantificação das emissões de gases de efeito estufa associadas aos materiais de construção e ao processo de construção. Isso porque os números podem variar bastante em diferentes cenários. Um material que é sustentável em um lugar, por exemplo, pode ser menos ecológico em outro, devido à disponibilidade local e à logística.
Um método padronizado para realizar essa medição é a Avaliação do Ciclo de Vida Ambiental (ACV), que cobre desde a extração de materiais até o descarte, fornecendo números que mostram o impacto e permite comparar produtos similares. Por exemplo, a Universidade de Bath, no Reino Unido, calculou a energia presente nos principais materiais usados globalmente.
Para facilitar ainda mais a avaliação, existem ferramentas e softwares especializados, como o EC3 (Embodied Carbon in Construction Calculator) e o SimaPro, que possuem bancos de dados de ciclo de vida que podem ser usados para estimar as emissões de carbono.
Somando as emissões de carbono associadas a todos os materiais e componentes do edifício, é possível obter o carbono incorporado total do projeto.
Em conjunto com informações precisas como base, as avaliações podem ser usadas para tomar decisões informadas ao longo do ciclo de vida, incluindo a escolha de materiais mais sustentáveis, bem como a otimização do design e da construção.
O Material Baseline Report 2021, do Carbon Leadership Forum, e o Embodied Carbon Primer, elaborado pela London Energy Transformation Initiative (LETI) são referências nesse sentido ao fornecerem estimativas detalhadas das emissões de carbono associadas a diferentes categorias de produtos de construção.
Estratégias para reduzir o carbono incorporado
Outra estratégia crucial para combater as emissões de carbono na indústria da construção é a busca constante por inovação em materiais e tecnologias. Um exemplo emblemático é a produção de aço, que representa aproximadamente 8% das emissões globais de dióxido de carbono, de acordo com o estudo Desafio de Descarbonização para o Aço, da consultoria McKinsey.
Outro relatório da consultoria demonstra como dois materiais aparentemente iguais em termos de aparência e preço podem ter níveis muito diferentes de carbono incorporado. Por exemplo, uma viga de aço 100% reciclada produzida com energia renovável tem um impacto muito menor do que uma viga de aço virgem fabricada em forno a carvão, mesmo que ambos tenham características técnicas semelhantes.
Comprometida em reduzir suas emissões em 70% até 2030, a Dinamarca adotou regulamentações de construção rigorosas que estabelecem metas ambiciosas para a redução do carbono incorporado em edifícios. Essas normas são apoiadas por políticas parlamentares que se aplicam tanto a edifícios grandes como a construções de menor escala, estabelecendo limites rigorosos para as emissões de CO2.
O Parlamento dinamarquês também aprovou uma das mais altas taxas do mundo sobre as emissões de gases de efeito estufa em quase todos os setores, que será implementada gradualmente a partir de 2025.
A nível global, 46 países já implementaram algum tipo de taxa sobre o carbono, cobrindo cerca de 22% das emissões globais de gases de efeito estufa. Na região escandinava, todos os países adotaram um imposto de carbono, com a Suécia liderando com uma taxa de 114 euros por tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), excluindo outros gases além do CO2.
A expectativa é que essas iniciativas levem à redução de 4,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono até 2030, em atendimento à agenda global da ONU, e 1,3 milhão até 2025. De acordo com o anúncio oficial, isso colocaria a Dinamarca no caminho certo para atingir sua meta de redução de emissões até 2030, comparado aos níveis de emissões de 1990.
Outra abordagem eficaz para a redução das emissões de carbono envolve a extensão da vida útil dos edifícios através de reciclagem de prédios e preferência por fornecedores que divulguem informações transparentes sobre o impacto ambiental de seus produtos, através de documentos como as Declarações Ambientais de Produtos. Com múltiplas abordagens e a participação de todos os agentes, o carbono incorporado pode dar espaço para um planeta descarbonizado.
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