Fachada: o elo entre o lar e o entorno

Mais que um cartão de visita, a fachada é um elo entre o indivíduo, a cidade e sua cultura, sendo um elemento capaz de promover bem-estar.

Por Nathalia Ribeiro em 22 de julho de 2025 7 minutos de leitura

fachada MRV
Foto: Divulgação/ MRV

A fachada é o cartão de visita de um empreendimento. Em prédios residenciais ela é ainda mais: é o ponto de contato entre o privado e o público, entre o indivíduo e a cidade. É onde o “meu” encontra o “nosso”. É o limite físico que diz quem somos, mas também o elo simbólico que nos conecta ao entorno.

É por isso que, mais do que uma moldura bonita, a fachada é um elemento com potência de narrativa. Ela comunica, representa e, principalmente, acolhe. Pode ser silenciosa ou expressiva, discreta ou vibrante, mas nunca neutra. Sua presença molda a paisagem urbana e influencia a maneira como habitamos as cidades.

Alguns edifícios são tão marcantes que se tornam parte inseparável da identidade urbana. Basta olhar para o Edifício Copan, em São Paulo, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro ou no colorido das fachadas do Pelourinho, em Salvador. São construções que não apenas ocupam espaço, mas contam histórias, evocam sentimentos e ajudam a reconhecer onde estamos e quem somos.

fachada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro
Teatro Municipal do Rio de Janeiro (Foto: f11photo/ Adobe Stock)

Esse entendimento também está se refletindo no mercado imobiliário por meio de um projeto da construtora MRV, que está reformulando o conceito das fachadas de suas edificações residenciais, agregando mais intenção estética e cultural a partir de referências da brasilidade e da arte urbana.

Fachadas que cuidam do bem-estar

Quando se pensa em bem-estar urbano, é comum imaginar parques, transporte eficiente ou áreas de lazer. Mas há um elemento que influencia diretamente o humor das pessoas de forma mais imperceptível: a fachada dos edifícios. Como vêm mostrando estudos da neuroarquitetura e da psicologia ambiental, a forma como as construções se apresentam para a cidade afeta profundamente o estado mental. Pesquisador da Universidade de Waterloo, o neurocientista Colin Ellard, em seu livro “Places of the Heart” (Lugares do Coração, em tradução livre) explora as respostas emocionais a ambientes urbanos. Ele constata que fachadas monótonas e sem expressão visual tendem a gerar desinteresse, sensação de opressão e até elevação do estresse em pedestres. Já fachadas bem resolvidas, com variações de cor, profundidade, textura e ritmo, despertam curiosidade, conforto visual e uma sensação maior de segurança.

fachadas coloridas da arquitetura de Recife - Pernambuco
Recife – Pernambuco (Foto: Vitoriano Junior/ Shutterstock)

Outro estudo chamado, Quantifying Emotions in Architectural Environments Using Biometrics, analisou dados de 20 pesquisas que utilizaram ferramentas como rastreamento ocular, eletroencefalografia e reconhecimento facial para medir reações emocionais diante de diferentes ambientes arquitetônicos. Os resultados reforçam que elementos como cor, textura, escala e ritmo das fachadas impactam diretamente as experiências sensorial e emocional dos indivíduos. 

Ou seja, essa percepção não é apenas uma questão de gosto. Ela tem impacto direto na forma como as pessoas se relacionam com o espaço. Ambientes urbanos que estimulam visualmente, sem sobrecarregar, promovem mais caminhabilidade, permanência, interação social e até recuperação mental. Estudos como o projeto europeu eMOTIONAL Cities e as pesquisas conduzidas no laboratório Urban Realities, da Universidade de Waterloo (Canadá), liderado por Colin Ellard, reforçam essa conexão ao utilizarem dados biométricos para mapear como o cérebro humano responde a diferentes configurações urbanas.

Em outras palavras, uma fachada bem pensada pode ser tão terapêutica quanto um banco à sombra. E quando ela dialoga com o entorno, incorpora elementos da paisagem local e se alinha à escala humana, o impacto no bem-estar se multiplica. 

Identidade e brasilidade na arquitetura urbana

A arquitetura brasileira é resultado de uma rica fusão de influências indígenas, africanas e europeias, cada uma adaptando-se às condições climáticas, materiais disponíveis e histórias locais. Desde o início do século XX, a arquitetura brasileira vem buscando uma identidade própria, que dialogue com a cultura, o clima e a paisagem do País. Na obra Modernism and National Identity in Brazil, or How to Brew a Brazilian Stew, Styliane Philippou analisa como os modernistas brasileiros dos anos 1920 e 1930, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, buscaram uma “brasilianização” do projeto moderno, unindo influências europeias e modernas ao contexto tropical e à miscigenação cultural nacional. Essa “fusão tropical” tornou-se marca registrada da modernidade arquitetônica brasileira, reforçando uma identidade nacional reconhecível internacionalmente.

Aliás, o modernismo tropical, com sua estética singular, influenciou países vizinhos como Colômbia, onde arquitetos adotaram repertórios cariocas nos anos 1950, conforme Giaime Botti documenta em estudos sobre intercâmbio arquitetônico. Isso reforça a ideia de que a arquitetura brasileira possui uma identidade regional que se projeta internacionalmente, sem perder suas raízes.

Na contemporaneidade, o campo do city branding reconhece que cidades ganham força emocional e identidade ao usar referências visuais e simbólicas autênticas. Estudos como o de Beatriz Casais e Túlia Poço mostram que estratégias de marca urbana baseadas em laços emocionais favorecem o apego e a lealdade dos moradores. Esse alinhamento entre estética urbana e memória coletiva tem evidência teórica e prática, e reforça a relevância de fachadas com identidade em projetos arquitetônicos.

A redescoberta da brasilidade na arquitetura urbana

Durante muito tempo, o padrão estético dos empreendimentos urbanos brasileiros foi marcado por uma certa homogeneidade. Fachadas neutras, paletas discretas, soluções genéricas. A busca por eficiência e padronização acabou afastando os edifícios de algo essencial: a identidade. Mas esse movimento começa a mudar.

Nos últimos anos, houve uma redescoberta da brasilidade como valor de projeto. Não se trata de um resgate ou de um revival decorativo, mas de um olhar mais atento para o que torna o país único, seja as cores, formas, texturas, materiais, paisagens e, sobretudo, narrativas. A arquitetura, quando atenta a esse contexto, deixa de apenas ocupar o espaço para, de fato, dialogar com ele.

Foto: Divulgação/ MRV

É a partir dessa premissa que a MRV reformulou as fachadas e o paisagismo de seus novos empreendimentos, buscando inspiração nos biomas nacionais e nas paisagens que moldam o imaginário coletivo de cada região.

As novas fachadas da construtora utilizam uma paleta de cores diretamente conectada à natureza brasileira: tons terrosos, verdes nativos, nuances do cerrado e da mata atlântica aparecem com sutileza. A escolha dos materiais também segue essa lógica ao priorizar elementos regionais, com menor impacto ambiental, que favorecem o uso racional de recursos e a durabilidade das construções.

O projeto é dividido em blocos temáticos, cada um inspirado em um dos seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Essa segmentação orienta não apenas o design das fachadas, mas também o paisagismo, criando conjuntos residenciais que dialogam com o entorno.

Foto: Divulgação/ MRV

A escolha das espécies vegetais, por exemplo, parte de uma lógica muito mais complexa do que a simples beleza. A construtora priorizou plantas nativas e adaptadas a cada clima, reduzindo a necessidade de irrigação e manutenção, aumentando a resiliência e favorecendo a biodiversidade urbana. Isso resulta em áreas verdes que sobrevivem melhor às condições locais e, ao mesmo tempo, reforçam a identidade do lugar.

Segundo Flávio Paulino de Andrade e Silva, diretor de produtos e projetos da MRV, essa reformulação é uma forma de dar resposta concreta às necessidades e desejos de quem escolhe morar com a marca. “O projeto representa uma evolução que traduz o nosso compromisso com a qualidade, com o cliente e com a sustentabilidade. São mais de 1,6 milhão de pessoas que vivem em um imóvel construído pela MRV. Nada mais justo que ouvi-las e trazer elementos que reflitam suas origens, seus desejos e suas realidades. Tudo isso sem abrir mão da acessibilidade e sem que nossos clientes precisem pagar nenhum valor a mais por isso”, explica.

Essa mesma abordagem guiou o paisagismo das fachadas do projeto Cidade Sete Sóis, em Pirituba, São Paulo, também da MRV. Assinado pelo paisagista brasileiro Ricardo Cardim, o projeto priorizou espécies típicas da Mata Atlântica, como as araucárias, e criou um pomar indígena com frutas nativas, como araçá e jabuticaba, que valorizam a tradição dos povos originários e das famílias brasileiras.

A arquitetura que prioriza pessoas

Foto: Marco Fine/ Shutterstock

Em escala global, cresce o entendimento de que a arquitetura urbana precisa colocar as pessoas no centro das decisões. Movimentos como o Placemaking, que valoriza o uso coletivo e a apropriação afetiva dos espaços, e o conceito de Urban Wellness, que propõe cidades mais saudáveis, seguras e emocionalmente equilibradas, reforçam a ideia de que não basta construir, é preciso criar relações entre edifícios, ruas e comunidades. Nesse cenário, as fachadas têm papel estratégico.

Na cidade de Barcelona, por exemplo, iniciativas do governo vêm transformando fachadas em instrumentos de inclusão e pertencimento, lançando um programa para remodelar 10 paredes medianeiras, inserindo aberturas, janelas e vegetação para melhorar a habitabilidade e a estética urbana, um processo que integra arquitetura ativa e inclusão por meio da vegetação. 

Outro desdobramento são as chamadas fachadas ativas, que aproximam os edifícios da cidade por meio de aberturas, usos mistos, vitrines, jardins ou mobiliário urbano. Diferentemente das fachadas cegas, que afastam e inibem, essas soluções geram vitalidade, estimulam a circulação de pedestres e promovem mais interação no espaço público. Essa iniciativa, como a ativação da base dos edifícios, pode até  transformar bairros inteiros.

Em contextos urbanos marcados por desigualdade e sensação de vulnerabilidade, a segurança também aparece como um desafio importante. A tendência de isolamento, com fachadas fechadas, muros altos e ausência de interação, tem sido uma resposta frequente, embora nem sempre eficaz. Esse tipo de design urbano defensivo pode, na prática, acentuar o esvaziamento das ruas e o distanciamento social.

Buscando romper com esse modelo, as novas fachadas da MRV, por exemplo, adotou uma solução que equilibra segurança e integração: os muros vazados. Inspirados nos tradicionais itens brasileiros, cobogós e muxarabis, essas estruturas permitem visibilidade, ventilação e contato visual com o entorno, ao mesmo tempo em que oferecem proteção física. Além de representar uma tendência estética contemporânea, essas soluções promovem leveza e conectividade urbana.

Todas essas estratégias, do Placemaking à arte nos muros, da fachada ativa às estruturas permeáveis, apontam para um novo paradigma na arquitetura habitacional. Fachadas passam a ser mais do que a face de um edifício, tornam-se interfaces vivas, capazes de acolher, proteger e conectar. E, nesse processo, ajudam a construir cidades mais humanas e resilientes.

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