Índices ESG: empresas brasileiras deixam a desejar em diversidade e clima

Pacto Global da ONU revela que metas ambientais, de gênero e raça ainda são pouco divulgadas e os índices ESG precisam melhorar.

Por Redação em 22 de fevereiro de 2023 4 minutos de leitura

A sustentabilidade passou a integrar os discursos corporativos ao longo dos anos, levando as empresas a incorporar os índices ESG em suas estratégias. No entanto, embora haja um movimento rumo à consciência ambiental, o Observatório 2030, iniciativa do Pacto Global da ONU no Brasil, mostrou que apenas duas companhias brasileiras possuem compromissos para mitigação de emissão de gases aprovado pela Science-Based Targets initiative (SBTi). 

Os destaques negativos também aparecem nos compromissos com a diversidade nas equipes, registrando baixas porcentagens no quesito de raça e mulheres, embora as organizações estejam se esforçando para mudar esse cenário.

A boa notícia é que a transparência e as políticas anticorrupção apresentaram um aumento significativo, tendo em vista uma elevação de 43,2% em 2018 para 59,9% em 2020.

O que é o Observatório 2030?

Reprodução Site Observatório

A pesquisa do Observatório 2030 utiliza uma metodologia que monitora dados públicos de 82 empresas listadas na Bolsa de Valores e que atuam no Brasil. O levantamento acontece em cinco categorias: clima, gênero, corrupção, salário digno e água.

Sendo assim, as empresas relatam seus resultados de acordo com os padrões do Global Reporting Initiative (GRI) e são participantes do Pacto Global da ONU no Brasil. Vale ressaltar que a atualização dos dados do observatório é realizada anualmente, cobrindo os índices dos anos anteriores e analisando as variações por setor e faturamento.

“O Observatório 2030 é uma iniciativa fundamental para entendermos o cenário do ESG aqui no Brasil. Sabemos o quanto é importante zerar as emissões, mas precisamos zerar em todos os escopos. Estamos vendo o setor privado brasileiro e seus e suas líderes engajados e engajadas no tema, mas precisamos avançar. E rapidamente. Por isso é tão importante monitorar o que está sendo feito e corrigir rotas”, afirma o CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, Carlo Pereira. 

Panorama dos índices ESG no Brasil

Apesar do discurso de combate às mudanças climáticas estar em alta no setor empresarial, poucas empresas analisadas são signatárias dos acordos baseados na ciência. Sendo assim, somente duas companhias tiveram pelo menos uma de suas metas aprovadas, isto significa que somente essas empresas, dentre as analisadas, adotaram metas que foram cientificamente comprovadas por meio de estudos e pesquisas. Outras 14 empresas possuem metas em aprovação.

Outro compromisso ambiental apresenta números modestos. Apenas 13 empresas analisam o risco de escassez hídrica, considerando tanto a quantidade quanto a qualidade da água. Dentro desse grupo, seis são do setor de Utilities, três são de água e saneamento e outras três são de energia elétrica, sendo as empresas deste último setor operadas por meio de hidrelétricas.

Raça e gênero

A disponibilidade de dados sobre raça e gênero ainda é escassa. Apenas 15 das 82 empresas analisadas reportam o percentual de colaboradores negros em suas equipes. Por isso, devido ao tema estar sendo amplamente debatido na agenda pública, as empresas precisam divulgar seus dados com transparência para que se possa entender a realidade no setor privado.

No que diz respeito à composição das empresas em termos de porcentagem de mulheres em todos os cargos (conselho, diretoria executiva, diretoria, gerência e coordenação), o percentual é maior nas empresas signatárias dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs). No entanto, menos da metade das empresas analisadas aderem a esse compromisso (43,9%).

Além disso, de acordo com relatório, entre 2019 e 2020, houve um aumento significativo na proporção entre o aumento salarial da pessoa mais bem remunerada e o aumento recebido pelos colaboradores. O setor de Papel, Celulose e Madeira se destaca por apresentar as maiores discrepâncias salariais absolutas entre a pessoa mais bem remunerada e os demais colaboradores. No entanto, quando ponderado pelo valor gerado e distribuído aos colaboradores, o setor de Bancos e Serviços Financeiros apresenta a maior diferença salarial.

Novas estratégias para a Agenda 2030

No ano passado, o Pacto Global da ONU no Brasil lançou a Ambição 2030, uma estratégia composta por sete grandes Movimentos que visam acelerar o cumprimento das metas propostas pela Agenda 2030 da ONU. 

Visto que o engajamento do setor privado é crucial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os sete Movimentos são: Mente em Foco, Elas Lideram 2030, +Água, Salário Digno, Raça é Prioridade, Ambição Net Zero e Transparência 100%. 

Tais iniciativas abordam questões relacionadas à saúde mental, direitos humanos, mudanças climáticas, acesso à água e anticorrupção. Até dezembro de 2022, 162 empresas aderiram aos Movimentos e se comprometeram com 247 ações em diversas áreas.

Índices ESG para além do discurso

A sustentabilidade é mais do que um simples modismo e seu valor tem sido cada vez mais reconhecido. Empresas que adotam práticas socioambientais alinhadas ao conceito sustentável possuem melhor aceitação no mercado e, portanto, têm mais chances de crescimento.

Isso se deve em grande parte ao fato de que quase 90% dos consumidores brasileiros preferem marcas que seguem práticas sustentáveis. Como resultado, essas empresas também atraem mais investidores. Logo, a implementação de índices ESG, que abrangem questões ambientais, sociais e de governança corporativa, é uma das formas de alcançar isso.

Mas é importante lembrar que esses índices não são apenas ferramentas para gerar lucro e atrair investidores. Eles são fundamentais para que as empresas possam ser agentes da mudança para minimizar impactos ambientais.