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Mobilidade urbana: inteligência artificial é usada para imaginar cidades sem carros
Imagens geradas por inteligência artificial mostram cidades mais sustentáveis e livres de carros. Este cenário de mobilidade urbana pode se tornar realidade?
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Redação em 13 de setembro de 2022 5minutos de leitura
É difícil pensar em uma cidade onde não haja carros, caminhões e ônibus circulando. Segundo o último relatório de Emissão Veiculares da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), somente a região metropolitana de São Paulo possui, aproximadamente, 7 milhões de veículos. O documento ainda aponta que os carros são responsáveis por 72,6% da emissão de gases de efeito estufa. No mundo estima-se que existam cerca de 1,4 bilhão de automóveis ativos, embora esses números ainda estejam imprecisos em razão da dificuldade de calcular os dados em escala global. Neste cenário, alguns artistas estão utilizando a inteligência artificial, como o DALL-E, para imaginar como seriam as cidades sem carros, priorizando a mobilidade urbana com vias para pedestres e ciclistas.
É o caso do artista e músico Zach Katz, de 28 anos, que faz uso da tecnologia para visualizar versões de cidades norte-americanas livres de carros. Por meio de uma conta no Twitter, Katz publica imagens geradas por IA de ruas transformadas em ciclovias e parques.
Inteligência artificial e mobilidade urbana
A inteligência artificial DALL-E, criada pela OpenAI, forma imagens a partir de textos, muda fotos já existentes e gera novas. Usando o princípio do machine learning que, a partir de um grande volume de dados, identifica padrões e os reproduz, a inteligência artificial utilizada cria uma imagem nova por meio da difusão.
Em entrevista ao Vice, Katz disse que foi atraído pela inteligência artificial como uma forma de prosseguir defendendo a ideia de ruas mais seguras e cidades sem carros, pois já havia trabalhado anteriormente em campanhas voltadas para a mobilidade urbana. “Fiquei meio farto do pobre urbanismo deste país”, afirmou ele ao portal de notícias.
As imagens criadas são expostas também em um site oficial onde há os principais destaques dos experimentos. Nas imagens, é possível visualizar o antes e depois dos locais, mostrando cruzamentos movimentados se tornarem parques de pedestres com grama verde, flores, árvores, fontes, trilhos, bicicletas e pessoas caminhando.
Uma artista visual de Nova Iorque e ciclista, Nicole Aptekar, também utiliza a inteligência artificial para transformar paisagens urbanas digitalmente. Durante corridas matinais, Nicole tira fotos de ruas repletas de carros e, com a ajuda da DALL-E, transforma os espaços fotografados em locais sustentáveis, recriando projetos urbanos. “As imagens são tão poderosas”, disse Nicole ao Vice, pontuando sua participação em reuniões da comunidade do Departamento de Transportes e o impacto de seu trabalho na discussão. “Com algo assim, é mais fácil encontrar alternativas, espero trazê-las para as comunidades e reunir um futuro melhor.”
Mas cidade sem carros é possível?
O escritor, urbanista e estudioso do assunto J.H Crawford, defende que é possível criar cidades livres de veículos. Autor do livro “Cidade sem Carros”, Crawford diz que a ideia é atender três características: alta qualidade de vida, eficácia no uso das fontes de energia e rápida circulação de pessoas.
Segundo ele, ao retirar automóveis particulares das localidades, as cidades podem aprimorar o transporte coletivo, além das vias para pedestres e bicicletas, criando espaços verdes e mais paradas de ônibus, trem e metrô a fim de ter pontos mais próximos de todos os habitantes e otimizar a mobilidade.
“Cidades livres de carros se tornarão norma no final do século 21, devido aos contrastes de energia. Precisamos começar a nos preparar para as mudanças e essa é a oportunidade de construir um ambiente urbano ‘superior’ nunca antes conhecido”, disse o urbanista em seu site Carfree Cities.
Em entrevista ao programa The Agenda, Crawford apontou que estudos confirmam o quanto os veículos são destrutivos para a socialização nos municípios. Lugares que já modificaram a prática em suas áreas centrais, testemunharam um aumento no uso dessas regiões, com alta qualidade do meio ambiente e rica vida social. Em outra entrevista feita para a BBC, ele destacou que os locais mais populares nos municípios são sempre os espaços sem carros, como parques, praças e zonas de pedestres.
Existem cidades sem carros?
Algumas cidades ao redor do mundo estão planejando banir os automóveis de suas ruas e implantar um urbanismo sustentável. A adoção de políticas de restrição dos automóveis em áreas centrais pode ser considerado um primeiro passo para utilizar menos carros e buscar melhorar a qualidade do ar em áreas urbanas.
Em Oslo, na Noruega, houve mudanças em espaços do centro da capital. O fechamento de vias para os carros foi efetuado de maneira gradual, bem como a retirada de 700 vagas de estacionamento, que agora recebem ciclovias, bancos e pequenos parques. De acordo com o CEO da Urban Sharing Axel Bentsen, o trânsito tornou-se mais rápido e fácil desde a implementação desse novo modelo, além de as ruas estarem sempre cheias, elevando até mesmo os lucros do comércio local.
A cidade escocesa Glasgow pretende trilhar o mesmo caminho, adotando uma zona sem veículos particulares em seu centro histórico. Em contrapartida, irá investir no transporte coletivo a fim de diminuir congestionamentos e ser um local de fácil acesso para residentes e turistas.
Em Bruxelas, na Bélgica, existe um projeto que transformará o bairro Pentágono em uma zona livre de carros e com mais espaços para pessoas e ciclistas, colocando-as no foco da estratégia urbana. O objetivo é reduzir a poluição não apenas do ar, mas a sonora também.
Já em Copenhague, na Dinamarca, mais da metade da população escolhe a bicicleta como veículo para se locomover até o trabalho todos os dias, devido aos 320 quilômetros de ciclovias presentes na cidade, atingindo a menor porcentagem de propriedade de carros da Europa, de acordo com o Bussines Insider. Um exemplo de mobilidade urbana.
Enquanto isso, o objetivo de Londres, na Inglaterra, é transformar o centro da cidade em uma das maiores zonas livres de carros em qualquer capital do mundo. Algumas ruas já tem previsão de serem convertidas em espaços apenas para caminhadas e ciclismo, outras serão para ambos os grupos com a adição do ônibus. Estas terão calçadas ampliadas para que as pessoas trafeguem com mais segurança. Vale ressaltar que, para evitar a circulação de carros no centro, Londres já aplica pedágios de tráfego na região.
A caminho da mobilidade urbana: cidades sem carros pode se tornar real?
Os meios de transporte amigos do meio ambiente podem ter mais destaque em um futuro próximo, seguidos dos transportes públicos. De acordo com o estudo Mobility Futures, da Kantar, as viagens de carro particular terão uma queda de 10% nas maiores cidades do mundo na próxima década. Esta diminuição será compensada pelo aumento do uso do transporte público, ciclismo e caminhada.
A projeção revela que, até 2030, os meios de transporte ecológicos representarão 49% de todas as viagens, contra 46% para carros. O ciclismo terá um aumento de 18%, enquanto a caminhada e o transporte público aumentarão em 15% e 6%, respectivamente. O estudo aponta que os novos comportamentos de mobilidade são resultado dos projetos de infraestrutura e estratégias voltadas às pessoas.
Aparentemente, os experimentos com inteligência artificial, condiz com as ideias de grandes instituições que buscam por cidades mais sustentáveis. Zach Katz declarou que até mesmo o prefeito Ryan Sorenson, de Sheboygan, Wisconsin, enviou um tweet interessado em mapear algumas ruas e bairros da cidade.
De acordo com o músico e Nicole Aptekar, eles não esperam mudar cidades rapidamente, porém enfatizam a importância de mostrar visualmente como as cidades podem ser mais sustentáveis através de planejamento urbano efetivo e investimento, visando um futuro melhor.
Veja também o episódio 04 do podcast Habitability:
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