Desafio global: o futuro do crescimento em 2024

Fórum Econômico Mundial destaca a urgência de inovação, inclusão e sustentabilidade para revitalizar o crescimento econômico.

Por Nathalia Ribeiro em 10 de abril de 2024 6 minutos de leitura

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Foto: Ciaran McCrickard/ World Economic Forum via Flickr

A economia mundial, incluindo a do Brasil, entrou em uma fase de estagnação. Esta é uma das conclusões do relatório “O Futuro do Crescimento 2024”, elaborado pelo World Economic Forum (WEF) e divulgado pela Fundação Dom Cabral. O resultado é especialmente inquietante devido aos resultados pouco satisfatórios observados em quatro indicadores fundamentais para avaliar a qualidade do crescimento econômico, tendo em vista o impacto direto na qualidade de vida e no progresso das sociedades. 

Frequentemente medido através do Produto Interno Bruto (PIB), o crescimento econômico refere-se ao aumento na produção de bens e serviços ao longo do tempo em um país. Mas, além de quantificar o valor das as atividades econômicas de uma nação, esse indicador também tem uma perspectiva qualitativa, já que muitos dos produtos e serviços gerados atendem necessidades essenciais, como alimentação e moradia, até avanços mais complexos, como tecnologias médicas e segurança pública. 

É a partir desta perspectiva que o relatório foca na qualidade do crescimento econômico mundial, concentrando-se em entender a natureza e a direção dele. Assim, os 12 pilares abordados no relatório de Competitividade Global, que vinha sendo divulgado desde 1979, foram reduzidos para apenas quatro neste novo documento: inovação, inclusão, sustentabilidade e resiliência. No estudo deste ano, foram monitoradas 107 nações.

Desafios do crescimento econômico 

Relatório 2024 – World Economic Forum

O levantamento indica que a maioria dos países não está crescendo de maneira adequada a longo prazo. Isso significa que eles não estão sendo sustentáveis ​o suficiente. Muitos estão lutando para manter sua pegada ecológica dentro dos limites ambientais necessários e todos precisam avançar.

Além disso, os países têm dificuldade em ser inovadores e em lidar com problemas globais que surgem. Dificuldades para acompanhar os novos desenvolvimentos e melhorar seu crescimento são desafios em comum. Quem consegue lidar melhor com essa questão são, predominantemente, os países mais ricos, com altos PIBs e PIBs per capita. Exemplos incluem a Suíça, com uma pontuação de 80,37, seguida por Singapura (76,43), Suécia (74,92), Dinamarca (73,40) e Estados Unidos (74,09). Na outra ponta estão Iêmen (17,98), Angola (17,97) e Congo (21,88). O Brasil, por sua vez, obteve uma pontuação relativamente modesta de 41,81 em inovação.

Leia também: As lições dos países mais inovadores para um futuro sustentável

Por outro lado, há boas notícias em alguns aspectos. Alguns países estão indo bem em termos de inclusão. Isso significa que eles estão conseguindo incluir todas as pessoas nos benefícios que a economia cria. Outro ponto positivo é a resiliência, o que significa que algumas economias estão se saindo bem em lidar com choques e se recuperar deles.

De modo geral, as pontuações médias globais dos quatro indicadores, em uma escala de 0 a 100, são as seguintes: Inovação (45,2), Sustentabilidade (46,8), Resiliência (52,8) e Inclusão (55,9). Segundo a Dom Cabral, esse resultado indica um amplo espaço para crescimento e desenvolvimento em várias economias ao redor do mundo. “Nesse sentido, os países devem se dedicar ao fortalecimento de suas economias, investindo em inovação, políticas inclusivas, práticas sustentáveis e na resistência de seus sistemas econômicos”, disse em comunicado.

O Brasil no contexto da transformação digital

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Em um cenário geral, o Brasil apresenta pontuações abaixo da média mundial nos pilares de inovação (41,8 contra 45,2), inclusão (55,31 contra 55,9) e resiliência (52 contra 52,8). No entanto, destaca-se positivamente no pilar de sustentabilidade, com uma pontuação de 56 em comparação à média mundial de 46,8.

Dessa forma, o relatório revela uma série de desafios e oportunidades para o Brasil, principalmente, em termos de inclusão e desenvolvimento econômico. O país obteve uma nota zero no critério de igualdade econômica e 18,3 em distribuição de renda, ressaltando a necessidade urgente de uma distribuição mais equitativa de riqueza, renda e acesso a serviços financeiros. Embora tenha havido avanços, como a implementação do PIX e a introdução da moeda digital Drex, a exclusão financeira persiste, destacando a importância de medidas para promover maior inclusão digital e acessibilidade ao sistema financeiro.

Além disso, a capacidade de atendimento emergencial de saúde recebeu a pontuação de 16,7 e treinamento para profissionais em meio de carreira, 13,8. Esses números ressaltam a necessidade premente de desenvolver talentos e investir na qualificação da mão de obra.

O mundo está testemunhando um crescimento exponencial na adoção de tecnologia em diversos setores, o que requer habilidades específicas e atualizadas por parte dos profissionais. Embora haja uma discussão significativa em torno de inteligência artificial (IA) e ferramentas como o ChatGPT, há uma lacuna quando se trata de investir na qualificação da mão de obra. De acordo com os especialistas envolvidos no relatório, são os talentos humanos que impulsionam a inovação, a criatividade e a adaptação às mudanças. No entanto, muitas vezes, o foco excessivo na implementação de tecnologia pode obscurecer a importância de investir nas habilidades e no desenvolvimento dos indivíduos.

A baixa nota atribuída ao Brasil em treinamento para profissionais ressalta a urgente necessidade de implementar estratégias de upskilling (ensino de novas competências) e reskilling (reciclagem profissional). Essa questão já havia sido destacada em um relatório anterior sobre o Futuro do Trabalho, conduzido pela Fundação Dom Cabral (FDC) em colaboração com o Fórum Econômico Mundial (WEF) em 2023. De acordo com esse estudo, 44% das habilidades dos trabalhadores brasileiros passariam por mudanças nos próximos cinco anos, e 60% da força de trabalho necessitava de treinamento para se adaptar às transformações do mercado.

O novo relatório reitera essa preocupação e destaca a importância das empresas adotarem uma agenda proativa de upskilling e reskilling para se ajustarem ao ambiente em constante transformação da revolução digital. O comunicado enfatiza que, se essa questão não for abordada de forma eficaz, a lacuna de qualificação da mão de obra persistirá, comprometendo o desenvolvimento econômico e a competitividade do país. 

O Brasil nota 100

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Apesar dos desafios enfrentados, o Brasil apresenta aspectos positivos destacados no recente relatório, principalmente no indicador Resiliência. O país obteve notas máximas, 100, em dois importantes itens: recursos hídricos e produção agrícola. Essas pontuações elevadas refletem a capacidade do Brasil em contornar eventos que poderiam afetar o fornecimento de recursos essenciais, contribuindo para as suas resiliências econômica e social. 

O Brasil também recebeu uma nota significativa de 97,5 em acesso à eletricidade na zona rural, indicando progresso nesse aspecto. Segundo a Fundação Dom Cabral o País se beneficia da diversificação de sua matriz energética e dos investimentos em energias renováveis, o que o posiciona de maneira vantajosa diante das crescentes tendências de transição energética e descarbonização. Esse aspecto é crucial para enfrentar os desafios ambientais e econômicos globais, destacando o país como um líder em iniciativas sustentáveis.

Além disso, o Brasil se destaca na infraestrutura de telecomunicações, que oferece potencial para impulsionar negócios, promover inclusão e sustentabilidade. A análise destaca a boa presença de capital e a ampla cobertura de rede móvel como pontos fortes, indicando um ambiente propício para o desenvolvimento econômico e social através da conectividade.

Três pilares para o crescimento econômico no Brasil

O documento destaca três pontos-chave que devem ser abordados para construir uma agenda de crescimento futuro para o Brasil, com a colaboração de instituições públicas e privadas. Primeiramente, a necessidade de fortalecer a propriedade intelectual para absorver avanços tecnológicos. Comparativamente, o Brasil tem registrado um número significativamente menor de patentes e marcas em comparação com outras nações como os EUA, Japão e Coreia do Sul. 

Em segundo lugar, é importante promover uma maior inclusão no sistema financeiro. De acordo com o documento, estratégias adotadas pela Suíça oferecem importantes lições que podem ser aplicadas em maior escala no Brasil. Isso inclui a alocação de maiores recursos públicos para a educação básica e o estabelecimento de um amplo sistema de ensino técnico que facilite a entrada de jovens no mercado de trabalho. Ao investir na educação desde a base, o Brasil pode criar um ambiente mais inclusivo e preparar melhor sua população para enfrentar os desafios econômicos e sociais. 

Por fim, é fundamental adotar uma agenda focada no upskilling e reskilling para garantir a adaptação ao novo ambiente da transformação digital. Com as macrotendências digitais moldando o cenário empresarial de forma significativa, as habilidades necessárias para manter a competitividade e operar eficientemente estão passando por mudanças substanciais. Para o Fórum Econômico Mundial, investir na capacitação dos trabalhadores não apenas impulsionará o crescimento econômico, mas também promoverá uma sociedade mais inclusiva e preparada para enfrentar os desafios do futuro.