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Barreira consegue tirar milhares de toneladas de plástico do mar
Organização sem fins lucrativos desenvolve uma tecnologia para capturar o lixo nos rios antes que ele desabe no oceano
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Redação em 14 de março de 2023 5minutos de leitura
Em novembro de 2022, uma forte chuva caiu sobre Los Angeles, EUA, e o lixo nas ruas da cidade começou a chegar ao Ballona Creek, um rio de 15 quilômetros de extensão que flui para a baía de Santa Mônica. Normalmente, após meses de tempo seco, a tempestade deslocaria milhares de quilos de detritos, incluindo garrafas e sacolas plásticas, no oceano. Mas, um mês antes da tempestade, uma nova barreira flutuante foi instalada no final do rio, contendo os possíveis estragos.
Em dois dias de tempestade, aproximadamente 15,87 toneladas de lixo foram contidas por uma espécie de correia transportadora movida por energia solar. Em seguida, o lixo foi puxado para uma plataforma flutuante acoplada a uma barcaça, levando os resíduos para separação e reciclagem.
Nova tecnologia pode impedir que boa parte do lixo chegue ao oceano
O Interceptor é o mais recente experimento da organização sem fins lucrativos Ocean Cleanup para tentar aplacar o avanço do descarte de plástico nos oceanos. Atualmente, eles têm instaladas diferentes versões do equipamento em 10 rios ao redor do mundo. A instalação de Ballona Creek, em Los Angeles, é a primeira na América do Norte a ser testada.
O CEO da Ocean Cleanup, Boyan Slat, diz que a organização não gostaria que todos esses esforços fossem necessários, mas, infelizmente, a produção mundial de lixo plástico se encontra em constante crescimento. “Ainda existe uma enorme disparidade geográfica entre o consumo de plástico no Ocidente e nos países de renda baixa a média. Então, realisticamente, o topo do funil só vai crescer nas próximas décadas”, disse ele.
Vale lembrar que a organização sem fins lucrativos é conhecida por seus esforços em tentar remover o plástico da Grande Mancha de Lixo do Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia, que contém pelo menos 79 toneladas e é considerado o maior lixo oceânico do mundo.
Barreiras visíveis podem ajudar a criar suporte para soluções mais sistêmicas
O cenário não parece muito animador, mas os esforços para revertê-lo têm sido grandes. E a instalação de barragens não só pode trazer solução para a questão, mas também um maior questionamento e conscientização sobre o assunto. Prova disso é que após a instalação do Interceptor em um dos rios da República Dominicana, iniciou-se uma conversa bastante proveitosa sobre o lixo plástico no país.
“Ninguém estava falando sobre a questão do plástico na República Dominicana… Nós levamos o Interceptor para lá e ele se tornou um ícone local, estava em todos os canais de notícias, (em) todos os jornais, todo mundo falava sobre ele”, conta Slat. Isso ajudou a catalisar planos para uma nova infraestrutura de reciclagem local que o Programa de Desenvolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas) posteriormente instalou em comunidades de baixa renda ao longo do rio.
As barreiras podem funcionar como “lembrete” às pessoas para não jogar lixo nos rios
Em LA, onde já existe um sistema de reciclagem completo – maior do que na maioria das cidades americanas – e ter o interceptor visível em uma trilha popular para ciclismo e caminhada tem soado como um “alerta” para a população.
Mas, para isso, a organização conta com o apoio do município, que instalou uma placa perto do dispositivo para apresentar a tecnologia a quem passa pelo local. “É um início de conversa para orientar as pessoas na mudança de seus comportamentos”, diz Kerjon Lee, porta-voz do LA County Public Works.
Os países devem adotar condutas diferentes baseadas em comportamentos e condições climáticas
Apesar de todo o entusiasmo e bons resultados, Boyan Slat pontua que o dispositivo provou ser “excepcionalmente eficaz”, mas que “cada rio é único e o mesmo sistema pode não funcionar globalmente.”
Los Angeles, por exemplo, usa outras ferramentas para tentar evitar que o lixo chegue ao oceano. Mas a rede – colocada na cabeceira do rio – tem que ser esvaziada manualmente e costuma transbordar com as fortes chuvas. A instalação da barreira ajuda a capturar os resíduos que “escapam” e, quando as lixeiras estão cheias, o sistema automaticamente envia uma notificação ao operador da barcaça, avisando que o lixo está pronto para ser rebocado para um píer próximo. No local, o detritos naturais, como gravetos e folhas de palmeira, são compostados. Já o plástico e outros materiais recicláveis são reciclados.
Por outro lado, Slat exemplifica que um rio na Guatemala fica tão cheio de plástico na estação chuvosa que simplesmente não se consegue ver a água. Originalmente, a equipe esperava ter um projeto que pudesse funcionar em qualquer lugar, mas percebeu que as condições locais exigiam várias outras opções. A princípio, eles criaram uma “grande cerca” inspirada em sistemas de proteção contra avalanches, mas como ela não era forte o suficiente para conter os plásticos em uma forte tempestade, a equipe decidiu testar um novo protótipo. No entanto, ainda não existem soluções definitivas para o problema.
Interceptor permanecerá em LA por dois anos como piloto
Reprodução: Twitter – The Ocean Cleanup
Reprodução: Twitter – The Ocean Cleanup
Reprodução: Twitter – The Ocean Cleanup
Com base nos bons resultados obtidos após a tempestade de novembro, as autoridades de Los Angeles decidiram continuar testando o funcionamento do equipamento, a fim de observar que ele não terá nenhum impacto negativo na vida selvagem ou na vizinhança, inicialmente cética. Se tudo correr bem, o sistema pode se tornar permanente.
Enquanto isso, a Ocean Cleanup pretende instalar o equipamento em mais lugares, principalmente onde existem rios especialmente poluídos. Inclusive, existem planos de expansão para países como a Indonésia, onde a ONG já tem sua tecnologia instalada.
“Escalar dentro de um país onde já estamos ativos é muito mais fácil do que simplesmente entrar em um novo onde nunca fizemos nada antes. Mas faremos o possível para atender o maior foco geográfico possível”, diz Slat.
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