Projeto de terminal e parque urbano ressignificam áreas públicas

Veja como a revitalização do Terminal e Parque Urbano de São Luís (MA) rompeu os limites dela mesma para transformar o cenário urbano.

Por Redação em 11 de outubro de 2023 5 minutos de leitura

terminal e parque urbano
Foto: Meireles Junior/Natureza Urbana

O Centro Histórico de São Luís, no Maranhão, experimentou uma notável transformação por meio de um ambicioso processo de revitalização, que foi muito além da renovação física do espaço. Conduzida pelo escritório Natureza Urbana, a reestruturação do Terminal e Parque Urbano de São Luís, situados no coração do centro histórico, também teve como objetivo promover uma melhor integração com o patrimônio histórico da cidade, assegurando que a modernização não sacrificasse a rica herança cultural do local. Fechando a tríade que guiou o projeto, está a dinamização das atividades dos microempreendedores locais por meio do incentivo ao crescimento econômico sustentável da comunidade ao oferecer-lhe a oportunidade de prosperar em um ambiente revitalizado.

Tributo ao passado, rumo ao futuro

terminal e parque urbano
Foto: Divulgação/Prefeitura de São Luís

O Terminal Rodoviário, também conhecido como Terminal da Fonte do Bispo, é um marco histórico em São Luís. Inaugurado em 1986, teve o propósito de organizar e melhorar o serviço de transporte público urbano na área central da cidade. Sua importância não está apenas na sua função de terminal, mas também na sua longa história como parte integrante do cenário urbano da região.

A avenida Senador Vitorino Freire desempenha um papel fundamental como parte do anel viário que circunda a região central de São Luís, juntamente com as avenidas Beira Mar e Camboa. Embora essas vias representem uma rede crucial de conexões na cidade, identificou-se que, ao mesmo tempo, criavam barreiras físicas que separavam o Centro Histórico da cidade do Rio Bacanga, bem como dificultavam o acesso a vários pontos turísticos próximos.

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Além disso, a área em torno do Terminal Rodoviário apresentava consideráveis espaços vazios e subutilizados, resultando em uma configuração urbana dispersa. Isso ocorreu principalmente devido ao fato de muitos espaços ao longo das margens do rio terem se tornado isolados e inacessíveis, devido à interrupção do fluxo de pedestres.

Por essas razões, o processo de restauração englobou três diferentes áreas do centro da cidade: a Praça da Misericórdia, a Praça da Saudade e os arredores do Terminal Rodoviário da Avenida Vitorino Freire, uma região conhecida como Fonte do Bispo.

A motivação inicial para esses projetos de revitalização surgiu da preocupação em relação a aproximadamente dois quilômetros de orla que circunda o Terminal e o Parque Urbano de São Luís. A área levantava sérias preocupações com a segurança pública e carecia de intervenções urbanas que a tornasse atrativa para a população. À medida que problemas semelhantes foram identificados em outras praças da capital maranhense, surgiu a ideia de uma transformação conjunta.

Assim, segurança e acessibilidade foram objetivos centrais alcançados com intervenções na infraestrutura e na estética, mas também levou em consideração maneiras de “devolver” essas áreas para a comunidade.

Terminal como modelo de espaço público integrado e acessível

A reorganização das praças e do terminal adjacente representa uma iniciativa que visa aprimorar a distribuição dos estabelecimentos comerciais e eliminar as barreiras físicas e visuais que antes existiam. O redesenho do espaço teve como objetivo central a criação de pequenas praças equipadas com mobiliário urbano, proporcionando as condições ideais para a formação de um vibrante ambiente público.

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Foto: Meireles Junior/Natureza Urbana

O resultado dessa iniciativa se traduziu na criação de áreas dedicadas à prática de esportes, como uma pista de skate, um parque infantil, ampliação de espaços verdes e áreas voltadas para a educação ambiental, além de uma fonte de água interativa e quiosques para os comerciantes.

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O sistema viário do terminal foi completamente reestruturado e modernizado, com o intuito de melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários. O impacto positivo desse projeto se estendeu também aos comerciantes informais, beneficiando aproximadamente 150 deles, que atuavam nas proximidades do Terminal Rodoviário.

Foto: Meireles Junior/Natureza Urbana

O propósito central do projeto era transformar essa área em um espaço voltado para o lazer e as atividades esportivas, ao mesmo tempo em que enfatizava a importância dos transportes públicos coletivos. Durante o desenvolvimento do projeto, foram meticulosamente planejadas estratégias para reestruturar o sistema de mobilidade na área e seu contexto imediato, incluindo diretrizes para o preenchimento dos espaços urbanos subutilizados na vizinhança.

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Com a colaboração de um especialista em mobilidade, a equipe identificou a viabilidade de remover a rotatória existente e reduzir o número de plataformas do terminal. Essas mudanças não apenas permitiram o redesenho do sistema viário da avenida, mas também abriram caminho para a expansão do espaço público adjacente ao terminal rodoviário. A reconfiguração abrangente do sistema viário priorizou todos os modos de transporte, com ênfase em garantir o conforto e a segurança dos usuários. Isso incluiu melhorias nas calçadas, a criação de novas passagens para conectar fisicamente e visualmente os espaços públicos e equipamentos urbanos, bem como a implementação de uma ciclovia e a proposta de uma faixa exclusiva para ônibus, tudo isso com a finalidade de incentivar o uso do transporte ativo e coletivo.

Terminal e Parque Urbano de São Luís como destaque internacional

O projeto para o Terminal e Parque Urbano em São Luís foi destaque em uma das edições da revista alemã International Magazine for Sports, Leisure and Recreational Facilities. A revista é uma iniciativa da International Association for Sports and Leisure Facilities (IAKS), conhecida por suas publicações bimestrais que celebram uma variedade de projetos de renovação e desenvolvimento de espaços urbanos em todo o mundo.

Nas palavras de Conrad Boychuk, membro honorário da IAKS, o Terminal e Parque Urbano em São Luís se destaca por sua habilidade em integrar atividades ao ar livre com um componente crucial do sistema de transporte da cidade. Além disso, o projeto é notável por reconhecer e respeitar o contexto histórico do território em que se insere, ao mesmo tempo em que fortalece seu caráter como um espaço público de alta qualidade.

Participação da comunidade

Foto: Meireles Junior/Natureza Urbana

A revista ainda destaca o conjunto de ações iniciais que consistiram na aplicação de três diferentes questionários socioeconômicos na área de intervenção. Essa abordagem abrangente tinha como objetivo coletar dados cruciais que serviriam como base para o desenvolvimento do projeto.

O primeiro questionário foi direcionado aos comerciantes que atuavam na região próxima ao terminal, que proporcionou uma visão abrangente das dinâmicas comerciais e das opiniões dos próprios comerciantes em relação ao local onde desenvolviam suas atividades.

O segundo questionário foi aplicado aos ocupantes da área, especialmente aqueles envolvidos em atividades de transporte, como taxistas e mototaxistas. Essa etapa da pesquisa tinha como objetivo compreender as especificidades das atividades de transporte e identificar as necessidades e desafios enfrentados por esses profissionais.

Por último, um terceiro conjunto de questionários foi distribuído aos residentes e comerciantes da vizinhança imediata ao terminal. Esta abordagem tinha como foco identificar as principais demandas e expectativas desses grupos em relação ao ambiente urbano e aos serviços disponíveis na área circundante. 

A compilação minuciosa dos dados provenientes dos questionários foi posteriormente apresentada à população e às secretarias municipais envolvidas no projeto por meio de oficinas participativas realizadas ao longo do processo. Essa abordagem de consulta e feedback proporcionou um importante canal de comunicação entre os envolvidos e permitiu que as decisões relativas ao projeto fossem tomadas de forma colaborativa, sendo um grande exemplo de placemaking para diversas cidades ao redor do globo.