Urbanismo feminista transforma centros urbanos em locais seguros

O urbanismo feminista é um movimento busca tornar as cidades mais democráticas e seguras para todas as pessoas.

Por Redação em 7 de dezembro de 2022 2 minutos de leitura

urbanismo feminista

O modelo dos centros urbanos é produto da Revolução Industrial (1760-1840), na qual as cidades modernas se apoiaram no conceito de família patriarcal, em que cabia ao homem as responsabilidades produtivas e à mulher as reprodutivas. Ou seja, os pais saíam para trabalhar enquanto as mães permaneciam em casa cuidando dos filhos. 

Embora essa ideia não faça mais sentido, as estruturas das cidades ainda carregam em sua arquitetura tais efeitos, fortalecendo o preconceito de gênero na organização, uso e fruição delas. No anos 1980, cientistas como a geógrafa britânica Doreen Massey começaram a questionar essa roupagem, dizendo que lugares não têm identidades únicas, mas múltiplas. 

A partir desse pensamento, a elaboração da arquitetura de gênero e o urbanismo feminista surgiram e, atualmente, vêm ganhando força com iniciativas em várias partes do mundo, incluindo o Brasil. 

O que é o urbanismo feminista?

Em seu livro “A Cidade Feminista: a Luta pelo Espaço em um Mundo Desenhado por Homens”, a geógrafa canadense Leslie Kern aponta que a cidade foi construída para favorecer os papéis convencionais do gênero masculino e estabelecer as experiências dos homens como norma, apresentando barreiras para mulheres e outras populações. 

De modo geral, homens saem de casa para trabalhar e voltam em um movimento pendular. Já as mulheres, normalmente, circulam de modo mais aleatório, pois precisam realizar diferentes atividades ao longo do dia. 

Por isso, o urbanismo feminista busca entender esses movimentos, para que seja possível compor projetos arquitetônicos por meio da ótica de determinados públicos e organizações sociais. 

Segurança nas cidades

A segurança é um dos principais tópicos abordados pelo urbanismo feminista, já que mulheres costumam não se sentirem seguras quando se deslocam por ruas e avenidas à noite, em razão do medo de sofrerem assédio ou outros tipos de violência. 

Com isso, pesquisadoras e planejadoras urbanas do Departamento de Gênero da Prefeitura de Viena, na Áustria, procuraram novas soluções para essas questões, resultando no conjunto habitacional Frauen Werk Stadt, com mais de 350 unidades. A arquiteta Franziska Ullmann projetou um bairro onde os espaços abertos e iluminados favorecem o encontro e a segurança de mulheres e crianças.  

Projetos de urbanismo feminista

Diversas outras ações de urbanismo feminista revelaram-se pelo globo. Em Barcelona, na Espanha, um grupo formado por arquitetas, sociólogas e urbanistas está trabalhando para repensar os espaços domésticos, comunitários e públicos, por meio da perspectiva feminina e social. 

No México, o programa Caminhos seguros, lançado em 2019, repensou os espaços públicos, aprimorando-os e transformando-os em locais seguros, principalmente para mulheres. Já no Brasil, a arquiteta Ester Carro ajudou a transformar um lixão em Paraisópolis (SP) em um parque, chamando-o de Fazendinhando. 

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), mais da metade da população mundial vive em cidades, sendo que até 2050 o índice deve chegar a 70%. Portanto, pensar em incluir e acolher mulheres, minorias e populações vulneráveis em projetos urbanos e arquitetônicos não é apenas um gesto de boa vontade, mas um movimento para garantir a qualidade de vida nas cidades