Urbanismo sensorial: você sabe o que é?!

Sons e gostos são tão vitais para as cidades quanto as paisagens. É o que mostra o urbanismo sensorial.

Por Redação em 13 de julho de 2022 2 minutos de leitura

O cheiro do churrasco na porta do estádio de futebol, o som dos pássaros passando pela manhã, o aroma dos pinheiros – ou de eucaliptos, o barulho do mar, o gosto do cachorro-quente de rua, a temperatura do asfalto durante o verão. Se tudo isso faz parte da sua memória, também faz parte do cenário das cidades. É nessa intersecção que atua o “urbanismo sensorial”.

Pesquisadores dessa vertente investigam como informações “não visuais” definem a personalidade da cidade e afetam a qualidade de vida nela. Usando métodos como captação de sons, mapa de cheiros, coletas de dados de aparelhos “vestíveis”, esses especialistas estão tentando ir além do viés visual, que entendem como um limitante do planejamento urbano.

Urbanismo sensorial: feche os olhos e escute a cidade

“Só de poder fechar os olhos por 10 minutos dá uma sensação totalmente diferente sobre o lugar”, diz o acadêmico e músico Oguz Oner, em entrevista ao MIT Tech Review. Oner organiza “passeios sonoros” em Istambul. Como funciona o tour sonoro? As pessoas ficam de olhos vendados e precisam descrever o que escutam em vários lugares. A partir disso, Oner conseguiu identificar as localizações onde a vegetação poderia ser colocada para diminuir a poluição sonora do tráfego ou em quais pontos era possível ampliar sons que acalmam, como o do mar. 

Em Berlim, as áreas mais silenciosas da cidade são identificadas pelos cidadãos, que utilizam um aplicativo. Tal app foi incluído no planejamento urbano da cidade e agora o espaço urbano é obrigado a proteger os espaços contra o aumento dos barulhos que podem atrapalhar o dia a dia. Já o projeto “Soundscape Indicates”, do Reino Unido,  tenta criar modelos preditivos sobre como as pessoas vão responder às mudanças sonoras nas cidades. 

Olfato compõe a riqueza do urbanismo sensorial

Liderando o projeto Smelly Maps em Londres, a pesquisadora Daniele Quercia, de Cambride, conectou informações sobre o que as pessoas falavam a respeito de diferentes lugares nas redes sociais com os mapas de qualidade do ar, identificando uma correlação entre a percepção olfativa das pessoas com a qualidade do ar. O cheiro de esgoto, por exemplo, é uma reclamação de moradores que pode indicar um problema de infraestrutura nos bairros.

Os aromas também dizem muito a respeito das mudanças dos bairros. “As percepções sensoriais não são neutras ou simplesmente biológicas; se achamos algo agradável ou não, foi moldado cultural e socialmente”, diz a socióloga cultural urbana da Brunel University London, Monica Montserrat Degen, ao MIT Tech Review.

Degen cita o exemplo de um bairro de Londres onde restaurantes baratos que serviam de ponto de encontro para os jovens locais foram substituídos por cafés da moda. “Costumava cheirar a frango frito”, diz ela, mas os moradores mais novos acharam esse aroma mais desagradável do que acolhedor. “Agora cheira a cappuccinos”.
Dessa forma, o “urbanismo sensorial” também é uma forma de incluir pessoas nas cidades e entender as suas realidades de uma maneira mais completa. Pesquisadores em Londres e Barcelona estão usando a pesquisa para criar “hierarquias sensoriais”, ou seja, descobrir quais são as sensações que mais impactam o dia a dia das pessoas – e como fazer para manter apenas aquelas que têm impactos positivos na qualidade de vida.

Tags