Arcologia: prédios do tamanho de cidades serão nosso futuro?

Direto da ficção científica, a arcologia tem proposta de criar prédios gigantescos para abrigar toda a população em um único espaço

Por Redação em 13 de janeiro de 2023 4 minutos de leitura

Um prédio que se estende por uma linha de 170 quilômetros, com capacidade para 9 milhões de residentes. O projeto apelidado de “The Line”, na Arábia Saudita, reacendeu as discussões sobre a arcologia. E levantou uma questão que ronda o planejamento urbano desde os anos 60: no futuro as pessoas poderiam viver em um prédio do tamanho de uma cidade?

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O termo arcologia é emprestado da ficção científica e vem de uma mistura entre as palavras arquitetura e ecologia. Basicamente, ele se refere àquelas cidades fictícias com densidade populacional gigantesca e onde as construções são tão magnânimas que conseguem abrigar todos os serviços urbanos.

Levantado pela primeira vez pelo arquiteto Paolo Soleri no final dos anos 60, o ideal do projeto seria diminuir o impacto das grandes metrópoles a partir da verticalização completa. As pessoas, assim, usariam menos espaço. Além disso, seria necessário o uso de tecnologia de ponta para erguer tais construções. 

Mais do que um arranha céu

arcologia
Divulgação – NEOM

A proposta da Arábia Saudita, The Line, é apresentada como uma enorme cidade inteligente que poderia abrigar nove milhões de pessoas em um único edifício de 200 metros de largura, estendendo-se por 170 quilômetros e 500 metros de altura. A “Linha” seria alimentada com energia solar e turbinas eólicas, mas não seria totalmente autossuficiente, pois alimentos e outros suprimentos ainda seriam necessários para os residentes e teriam que ser fornecidos por fontes externas.

O projeto está em início de construção na Arábia Saudita e tem o objetivo de acomodar milhões de pessoas em uma área de 34 quilômetros quadrados – preservando território e biomas. Para se ter uma ideia, a área é 46 vezes menor do que Londres, cidade que tem uma população parecida com os 9 milhões de habitantes que poderão viver na Linha.  Em entrevista a BBC, o diretor de Urbanismo Vertical do Instituto de Tecnologia de Illinois, Antony Wood, indicou que os super arranha-céus deverão ser considerados para o futuro das cidades. 

“As cidades estão se expandindo maciçamente. Elas não podem ficar na horizontal, porque é insustentável, pelo consumo de terra e pela energia gasta para construir e operar a cidade horizontal. Vai ficar vertical”, argumentou Wood.

Tecnologia para estrutura 

Divulgação – NEOM

As imagens do projeto impressionam, mas será que eles param de pé? A tecnologia terá que ser ainda testada. O que se sabe sobre prédios altíssimos é que existe um efeito do vento que deve ser considerado. 

Outras tecnologias, que não só a de edificação, terão que vir com este tipo de projeto: a de plantações em espaços pequenos e a de transmissão segura de energia limpa. O sistema de abastecimento de água também precisará ser reformulado para fazer o líquido chegar para todos. Ou seja: embora na teoria a arcologia seja possível, na prática existem muitos passos para fazê-la funcionar. 

“O pensamento utópico é importante; ele nos ajuda a desafiar os preconceitos no ambiente construído que geraram resultados convencionais que sabemos contribuir para a degradação ambiental”, afirmou o professor da UNSW Sydey, Philip Odfield, em entrevista ao Dezeen

Arcologia: e a habitabilidade?

Antes mesmo do termo existir, a ideia de prédios lineares para abrigarem boa parte da população já tinha alguns projetos. Um deles foi aqui no Brasil, feito por Le Corbusier para o Rio de Janeiro. O projeto era de um edifício auto-estrada para serpentear entre os morros da cidade. O desenho nunca saiu do papel, como explica o arquiteto André Sette em artigo publicado no site Caos Planejado

Sette critica o projeto do The Line a partir da visão de que uma cidade precisa ter centralidades e que isso seria prejudicado em um espaço completamente verticalizado e linear. A viabilidade econômica dos prédios do futuro também é um ponto a ser considerado, bem como a vivência nesses espaços: viver de maneira permanente em uma área fechada pode não ser agradável para humanos. 

Em entrevista ao Deezer, a urbanista e diretora da C40 Cities, Helene Chartier, levantou os pontos sobre o The Line. “Meu primeiro sentimento foi de que é interessante, porque precisamos de um choque no desenvolvimento urbano para endossar essa ideia de compacidade e tudo ser de uso misto”, disse ela. “Mas, ao mesmo tempo, estou um pouco preocupada que isso crie algumas coisas que no papel parecem interessantes, mas no final são realmente suportáveis de viver.”