A rua mais legal do mundo, o modelo de ruas exclusivas para pedestres e como a cidade canadense faz da escassez do Sol um trunfo para a vida ao ar livre.
Cheguei em Montreal em julho de 2024, no auge do Verão. A cidade é conhecida como a “Capital cultural do Canadá”, devido à sua agitada vida cultural e centenas de museus, galerias de arte, locais históricos, belas construções arquitetônicas, eventos e festivais, além de monumentos famosos.
O multiculturalismo é um elemento-chave para a grandeza de Montreal. Não importa de onde você venha, será difícil se sentir um estranho aqui. A cidade tem uma das maiores pontuações para estudantes, uma notável diversidade de imigrantes e um número crescente de turistas a cada ano.
Ilustrando esse mosaico cosmopolita, a cidade tem duas línguas oficiais: francês e inglês. Mas você frequentemente ouvirá outras línguas estrangeiras, como italiano, árabe, espanhol, polonês, chinês, grego, português, romeno, vietnamita e russo.
Montreal tem um clima diversificado, com verões quentes e úmidos e invernos frios e com neve. Julho é o mês mais quente, quando as temperaturas médias podem chegar a 25°C. A temperatura média em janeiro, que é o mês mais frio, cai para -13°C ou menos. Como a maioria dos lugares no Canadá, o clima de Montreal pode ser bastante variável ao longo de um dia.
Sou um brasileiro que viveu 38 anos no Rio de Janeiro, um local agraciado pelo Sol por todo o ano, com invernos curtos e amenos. Ainda não fiz minha análise do inverno em Montreal – posso retornar com um novo artigo após os 60 dias de neve (média) e 5 meses de frio (com sensações térmicas chegando a -25°).
Hoje, trago uma breve avaliação do que mais me chamou a atenção em Montreal: como a população aproveita o curto tempo de temperaturas amenas, dias mais longos e exposição à luz solar.
Ao chegar em Julho, ouvi de muitos Quebecoises para “aproveitar a luz do Sol enquanto tem”, em uma clara sinalização de escassez. Devido ao trabalho, ainda não consegui seguir essas dicas a fundo, mas tento dar uma escapada após o expediente, aproveitando a claridade que nos dá uma sensação de dias mais longos. Nessas saídas pela cidade, percebi que Montreal é uma cidade que abraça a vida ao ar livre, especialmente no verão.
Assim como no inverno, quando a cidade é preparada e estimula atividades externas entre os moradores, como ação de saúde pública contra o isolamento e depressão – o verão também conta com alguns estímulos governamentais e urbanísticos.
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Os estabelecimentos comerciais passam a ter direito a espaços adicionais nas calçadas, o calendário da cidade se preenche de eventos de diversos portes – desde festivais de comida coreana ao maior festival de jazz do mundo.
Sem dúvidas, a principal iniciativa são as ruas de pedestres. Entre os objetivos da iniciativa estão promover a mobilidade ativa, o comércio local, a vida comunitária e a sustentabilidade.
Outras cidades possuem programas semelhantes, como Paris, Nova Iorque e Barcelona, reforçando o sucesso dessa iniciativa e como ela pode servir de inspiração para cidades brasileiras.
Trata-se de uma iniciativa oficial da prefeitura local onde 11 avenidas são fechadas para circulação de carros e adaptadas para o fluxo exclusivo de pedestres (bicicletas e patinetes são permitidos).
No geral, as ruas pedestráveis funcionam entre maio e outubro, com um calendário específico para cada rua, disponível no site oficial da Prefeitura.
Há um acordo com a associação comercial para o programa das ruas de pedestres para os próximos três anos. Em entrevista, a prefeita de Montreal Valérie Plante reforçou a importância da iniciativa para a sociedade: “elas também criam um senso de comunidade para as pessoas que vivem na área. Elas também se tornam destinos para turistas, visitantes e estudantes.”
A repórter Laura Marchand, em reportagem para a CBC News, entrevistou alguns pedestres e capturou o sentimento sobre as ruas pedestráveis de Montreal . “Eu saía e caminhava e isso me fazia sentir muito melhor”, disse uma entrevistada. “Ter aquela rua na pandemia me ajudou tremendamente”, afirmou outra. A entrevistada disse que via famílias relaxando e tomando sorvete todas as noites. Assim, conheceu novos vizinhos, como uma mulher empurrando dois gatos de raça pura mimados em um carrinho de bebê, treinando-os para estrelar filmes. “Tipo, como você pode não parar e dizer oi?” disse, rindo.
A Rua Wellington, em 2022, foi eleita a rua mais legal do mundo pela revista Time Out. Com uma atmosfera vibrante e familiar, a rua oferece uma combinação única de restaurantes renomados, bares animados, cafés charmosos e uma praia artificial. A Well Street, como é conhecida, abriga mais de 250 estabelecimentos, consolidando-a como um destino imperdível em Montreal, sobretudo quando fechada para pedestres no verão.
Impactado por essa notícia, foi a primeira rua que procurei conhecer. E não me arrependi! Caminhar pela rua Wellington foi agradável, pois ela estimula a vida urbana, inspirando o convívio pacífico entre os pedestres, animais, bicicletas e a relação com a cidade. Tive a sensação de estar em uma manhã de sábado, mesmo sendo uma tarde de terça-feira!
Pelo que entendi lendo diversos artigos sobre a iniciativa, os principais desafios se resumem à necessidade de planejamento e gestão adequados, a garantia de acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida e a comunicação eficiente com os moradores e comerciantes locais.
Destaco ainda a importância da integração das ruas pedestráveis de Montreal a um plano de mobilidade urbana mais amplo, que priorize o transporte público, a bicicleta e a caminhada.
E, é claro, a segurança pública irrestrita é fundamental para que as ruas pedestráveis de Montreal funcione. Como já ouvi por aqui: “You are not in Canada to survive, you are here to live life!” (Você não está no Canadá para sobreviver, mas para viver a vida!)
Os benefícios dessas ruas para os moradores, comerciantes e visitantes são claros. O projeto conta com apoio e aprovação de grande parte da população de Montreal, sendo exemplos inspiradores para a criação de cidades mais habitáveis, saudáveis e sustentáveis.
Bruno Costa é sócio-fundador da Barões Brand Publishing, empresa brasileira especializada em comunicação editorial de marcas. Carioca, morador recente de Montreal, leitor do Habitability e interessado em soluções urbanísticas inteligentes e inclusivas.
