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Cidades subterrâneas podem ser solução para resiliência climática
Projetos pelo mundo acendem uma possibilidade para a vida urbana, que resiste às mudanças climáticas: cidades subterrâneas
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Redação em 7 de fevereiro de 2023 4minutos de leitura
Há milhares de anos, os túneis das montanhas e do subsolo da Capadócia eram cheios de vida. Vida humana. Mais de 20 mil habitantes andavam, moravam, produziam e trocavam produtos 85 metros abaixo da superfície. No século 21, alguns projetos querem retomar o conceito das cidades subterrâneas, com um viés de sustentabilidade.
Mas, se há centenas de anos as construções foram feitas para proteger o povo anatólio nos rochedos da região, a batalha travada no nosso século é outra: contra a mudança climática e os seus impactos na população. A ideia é também usar o espaço do underground para produzir infraestrutura para a cidade, sem precisar poluir ou ocupar metros que podem ser voltados para matas nativas ou prédios.
Túneis e estradas
Em Cingapura, uma série de túneis extensos estão sendo escavados no solo, a cerca de 60 metros de profundidade – abaixo de shoppings subterrâneos e até mesmo do metrô da cidade. Originalmente concebido em meados da década de 1990, o Deep Tunnel Sewerage System (DTSS) é uma “superestrada” subterrânea que poderia fornecer um projeto para outras cidades ao redor do mundo. Tudo faz parte de um plano para conservar dois recursos preciosos: espaço e água.
“Enfrentamos os desafios de uma população crescente e também de desenvolvimentos crescentes para as indústrias”, disse Woo Lai Lynn, engenheiro-chefe do projeto, administrado pela PUB, a agência nacional de água de Cingapura, em entrevista à CNN. “Com essa demanda adicional, não poderíamos continuar contando com a expansão da infraestrutura de esgoto existente. Tínhamos que encontrar uma solução que fosse mais sustentável e que nos desse maior resiliência para o nosso abastecimento de água.”
O projeto DTSS completo liberará cerca de 150 hectares de terra acima do solo, de acordo com o PUB. A agência implementou uma nova tecnologia com base no que aprendeu durante a primeira fase – incluindo um tipo especial de concreto que é resistente à corrosão induzida por agentes microbiológicos, disse Woo, e incorporando cabos de fibra ótica dentro do revestimento do túnel para monitorar a integridade estrutural, sem a necessidade de enviar o máximo de tripulações para o subsolo.
Casas e igrejas abaixo da terra
Na Finlândia o projeto de levar a cidade para o subterrâneo foi para além de levar os serviços, mas de fato, criar um ambiente possível de se viver. Tudo isso para que o local se tornasse um abrigo para a população de Helsinki se abrigar contra o frio extremo e também em caso de guerras (mais especificamente, invasões russas).
Helsinque há muito tempo é pioneira na vida subterrânea – a Igreja Temppeliaukio, projetada pelos arquitetos Timo e Tuomo Suomalainen foi afundada no distrito de Toolo da cidade em 1969 e, em 1993, o Itakeskus Swimming Hall – um grande centro de recreação que pode atender 1.000 clientes em um dia normal e se converte em um abrigo de emergência com capacidade para 3.800 pessoas – também passou pelo mesmo processo.
A vida subterrânea oferece uma alternativa para enormes blocos de torres e populações crescentes. Asmo Jaaksi, sócio do escritório de arquitetura JKMM de Helsinki e arquiteto-chefe do Museu Amos Rex subterrâneo da cidade, disse à Wired que viver no subsolo conserva o calor e pode, para alguns, ser um dos lugares mais seguros, à medida que a emergência climática aumenta.
No Canadá, existem grandes redes de espaços para pedestres e passagens subterrâneas que têm mais de 30 quilômetros. E, para mostrar que o conceito não está apenas em países frios, no México foi lançado o projeto “The Earthscaper”. Literalmente o oposto de arranha-céu, talvez um “arranha-pedra”: uma pirâmide de 300 metros de altura no subsolo da principal praça da Cidade do México, sendo resistente a terremotos.
Cidades subterrâneas: a ciência
A conservação de energia é uma das grandes atrações do subsolo para os planejadores urbanos, de acordo com Dale Russell, professor de Engenharia de Design de Inovação no Royal College of Art. “Construir no subsolo economiza espaço e, em última análise, energia”, explicou Russell à Wired.
“A própria topografia pode gerar energia, as rochas absorvendo o calor do sol no verão para manter a cidade fresca, liberando-o no inverno, como radiadores gigantes para aquecer os arranha-céus. Dentro dessas cidades, até 2069, podemos imaginar uma viagem totalmente independente e um ecossistema subterrâneo, usando sistemas de cultivo hidropônico com luz artificial para aumentar o suprimento de alimentos da própria cidade”.
“Se você construir no subsolo, em lugares muito quentes, como Dubai, ou muito frios, como as regiões nórdicas, seu projeto custará menos no longo prazo – a temperatura é estável, então o custo de ventilação ou aquecimento é reduzido”, disse Gunnar Jenssen, chefe do subsolo na organização de pesquisa escandinava SINTEF.
O desafio fica para a outra parte (a mais importante) das cidades: as pessoas. Os planejadores urbanos finlandeses tiveram que conectar os espaços subterrâneos a prédios e praças conhecidas para criar a identificação cultural. Com relação ao bem-estar, o sol e a entrada de luz de fora foram privilegiados nos projetos subterrâneos.
Talvez a saída seja uma mistura, como propõe o engenheiro Peter Stones, responsável pela análise da segunda fase do projeto subterrâneo de Cingapura. Em entrevista à CNN, ele indicou que acha difícil que as pessoas morem embaixo da terra, mas que a infraestrutura e os serviços da cidade podem muito bem operar por ali. “Eu imagino um futuro onde a superfície é priorizada para as pessoas, para a ecologia, para a natureza – e o espaço subterrâneo pode atender à superfície por meio de infraestrutura e outros usos.”
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