“Ela Faz” promove diversidade na construção

Lívia Viana, CEO do projeto Ela Faz, mostra como tem contribuindo para aumentar a participação feminina na construção civil e o impacto disso na vida das mulheres.

Por Nathalia Ribeiro em 6 de novembro de 2024 12 minutos de leitura

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Foto: Reprodução/ Ela Faz via Instagram

Embora o poder de decisão na compra de um imóvel esteja mais concentrado entre as mulheres, a participação feminina na construção civil ainda é um desafio. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), as mulheres representam apenas 11% dos trabalhadores formais na área, totalizando aproximadamente 300 mil profissionais. Entre os profissionais de Engenharia Civil registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), elas representam apenas 22,9%.

O projeto Ela Faz, liderado pela empresária maranhense Lívia Viana, é uma das iniciativas focadas em mudar essa realidade, contribuindo para a diversidade e inclusão do setor. Formada em Administração e Engenharia Civil, ela fez de sua própria dor e angústia o impulso para dar força à iniciativa, que oferece formação técnica para pedreira, eletricista, pintora e outras profissões da construção civil são meios de transformação de vida das mulheres, servindo como uma alavanca para o resgate da autoestima, da liberdade e da independência, como ela contou na entrevista a seguir para o Habitability.

Como surgiu a ideia de criar a startup focada na inclusão de mulheres em situação de vulnerabilidade social na construção civil? 

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Lívia Viana (Foto: Divulgação)

Lívia Viana: A Ela Faz surgiu em um momento de dor e transformação na minha vida. Enfrentei muitos conflitos em meu casamento e decidi abrir mão da minha carreira na empresa onde trabalhava com meu esposo, na indústria de concreto no Maranhão, em busca de um propósito e liberdade no meu trabalho. Durante um projeto no Sindicato da Construção Civil, em uma visita à Casa da Mulher, ouvi relatos de mulheres que estavam recebendo certificados para cursos de cabeleireira e manicure, mas pediam capacitação em construção civil. Em outra oportunidade, o secretário do trabalho também mencionou a necessidade de mais mulheres na construção civil porque muitas sentiam-se desconfortáveis em receber prestadores de serviço homens em suas casas.

Foi então que começou o projeto?

Lívia Viana: Eu já coordenava um projeto de capacitação para homens e mulheres, mas algo acendeu dentro de mim. A ideia de promover independência para outras mulheres ressoou profundamente, talvez porque eu mesma não conseguia me expressar e me posicionar como desejava e, muitas vezes, me sentia assediada em meu casamento. Me vi naquelas mulheres, em sua busca por liberdade e autonomia.

Essa busca por liberdade e autonomia se refletiu na missão do Ela Faz? 

Lívia Viana: Sim. Esse desejo se tornou um impulso e senti que precisava fazer algo para proporcionar essa liberdade a outras mulheres. Foi assim que decidi colocar em prática um projeto que realmente impactasse essas vidas. Procurei empresas que já atuavam nesse tipo de projeto e encontrei uma iniciativa promissora, que era apenas um projeto sem CNPJ ou endereço fixo. Entrei em contato com a fundadora, uma jovem, e disse que era hora de fazer o projeto crescer. Registrei o CNPJ, criei a identidade visual e comecei a tratar tudo com a disciplina e o profissionalismo de uma empresa real. No entanto, a fundadora ainda via aquilo apenas como um projeto. Nossas visões acabaram divergindo e nossos caminhos se separaram. Fiquei com o Ela Faz, estruturei a empresa, busquei patrocínios e enfrentei a pandemia, o que dificultou a realização de cursos presenciais. Apesar dos desafios, segui em frente e conseguimos formar 100 mulheres.

Ao fundar sua startup, quais lacunas você identificou em relação à participação feminina na Construção Civil? 

Lívia Viana: Lembro-me de um episódio que encaminhei duas mulheres para trabalharem em uma empresa da construção civil. Após uma semana, a encarregada da obra me chamou para dizer que as meninas não pareciam ter o mesmo sonho e disposição para se dedicar à construção civil. Após uma conversa com as alunas, percebi que a encarregada da obra, sendo a única mulher naquele espaço, parecia sentir-se ameaçada ao dividir o protagonismo com outras mulheres. Com isso, decidi que não continuaria enviando mulheres para empresas que ainda não valorizam essa inclusão e que não estivessem prontas para acolhê-las adequadamente.

A rivalidade entre mulheres representa um obstáculo para o aumento da participação feminina na Construção Civil?

Lívia Viana: Sim, um dos maiores obstáculos é a falta de união entre as próprias mulheres. Este é um momento em que elas precisam se apoiar, se acolher e lutar juntas. Infelizmente, existe uma competição entre as mulheres que é, em parte, cultural. Hoje, ainda é comum ver rivalidade em vez de união, seja por beleza, posições ou conquistas. Esse comportamento dificulta que mulheres se estabeleçam em posições de destaque. Essa encarregada da obra de quem falei antes não acolheu as novas colegas nem as incentivou a desenvolver suas habilidades. Ao contrário, parecia ver as outras mulheres como ameaças, em vez de aliadas.

Ou seja, o ambiente também precisa estar preparado para que a participação feminina na Construção Civil seja uma realidade?

Foto: Reprodução/ Ela Faz via Instagram

Lívia Viana: Esse episódio me fez perceber que, antes de qualquer coisa, a empresa precisa estar preparada, de modo que as mulheres se sintam acolhidas e valorizadas, especialmente em um ambiente tradicionalmente masculino. Muitas vezes, as mulheres em situação de vulnerabilidade buscam a construção civil como um caminho para serem vistas e valorizadas, e a autonomia financeira vem como consequência. Além disso, quando falamos de mudança cultural dentro de uma organização, não estamos apenas focando nas práticas internas. As empresas que patrocinam essas iniciativas também contribuem para um impacto social positivo, ajudando a transformar a cultura organizacional e a sociedade como um todo.

Como o projeto tem colaborado nesse sentido?

Lívia Viana: Decidi formar minha própria equipe de reforma. Além de garantir uma qualificação constante, aprovei um projeto pelo programa Centelha. Assim, conseguimos contratos, inclusive com o Estado, para reformas importantes, como a restauração de um casarão indígena tombado.

Esse trabalho demandou mais que a capacitação técnica?

Lívia Viana: Para que elas fossem bem treinadas e apoiadas, selecionei homens que tinham habilidade, paciência e empatia para ensiná-las. Também incluí uma assistente social para acompanhá-las e escutá-las, entender suas necessidades e registrar os principais desafios que enfrentavam. Passamos a formar relatórios detalhados para identificar o perfil ideal da mulher para esse ambiente de trabalho.

Foi então que entendemos que, além de intermediar a mão de obra feminina, nossa missão era também atuar como consultoria para as empresas, ajudando-as a criar um ambiente acolhedor e receptivo para essas profissionais. Essa mudança de cultura é fundamental para que as mulheres se sintam realmente valorizadas e integradas nas organizações e para que a participação feminina na Construção Civil seja uma realidade.

E como você percebe a resistência masculina em relação à participação feminina na Construção Civil? 

Lívia Viana: Com os homens o obstáculo é o ego. Em alguns casos, eles percebem que estarão ali “ajudando” a mulher ou direcionando o trabalho e acabam apoiando. Para uma mulher se destacar e ganhar espaço em ambientes como a construção civil, é essencial usar a sabedoria, mostrando-se uma parceira de trabalho e não alguém que queira sobressair. Estar ali exige compromisso com a qualidade e a entrega de resultados, sem vaidade. Precisamos cultivar um ambiente de respeito mútuo e valorização dos direitos humanos.

Dos 422.385 profissionais de Engenharia Civil registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), 96.643 são mulheres. Ou seja, apenas 22,9%. Quais estratégias podem ser mais eficazes para superar essa sub-representação e incentivar mais mulheres a se inserirem nas áreas de engenharia?

Lívia Viana: É importante observarmos que existem políticas públicas que incentivam a entrada das mulheres no mercado de trabalho da construção civil. Algumas empresas estabelecem metas, como a de ter 30% de mulheres na equipe e o CREA exige que haja uma representação de 15% de mulheres no setor. Essas iniciativas que visam à participação feminina na Construção Civil são fundamentais para ajudar as empresas a implementar uma cultura que promova a igualdade de gênero e a paridade dentro da organização. Um dos aspectos que poderia contribuir significativamente seria a realização de processos seletivos em que a avaliação não se baseie na aparência, permitindo que tanto homens quanto mulheres possam demonstrar suas habilidades e potencialidades.

O problema da baixa participação feminina na Construção Civil não se restringe ao setor. Apenas 42% das mulheres estão no mercado de trabalho, em contraste com 90% dos homens. A que se deve esse cenário?

Lívia Viana: Esse desafio se deve, em grande parte, à responsabilidade materna. Muitas mulheres precisam de tempo para cuidar dos filhos e da casa. A falta de crédito e de escolas em tempo integral também dificulta a situação. Durante a pandemia, muitas mulheres enfrentaram retrocessos significativos, pois tiveram que se adaptar a novas condições. Os julgamentos sociais muitas vezes dificultam o avanço das mulheres, que se veem em um dilema entre priorizar a família, os filhos ou o trabalho. Muitas mulheres abrem mão de suas aspirações em favor das obrigações familiares, enquanto a falta de valorização por parte dos parceiros gera frustração. Para fortalecer a presença feminina no mercado de trabalho é importante promover uma cultura inclusiva nas organizações e desenvolver programas de conscientização que incentivem os homens a refletir sobre o tratamento que gostariam que suas próprias familiares recebessem em uma sociedade que enfrenta um aumento da violência contra mulheres.

De acordo com o Censo 2020, as mulheres representam apenas 37% dos concluintes do curso de engenharia, mas como vimos com os dados do Confea, há uma discrepância significativa entre esse número e a quantidade que realmente exerce a profissão. Quais fatores você acredita que contribuem para essa lacuna?

Lívia Viana: Ao se formar em Engenharia, é comum que você não entre imediatamente na profissão. Muitas vezes, as organizações exigem experiência prévia. No meu caso, tive a oportunidade de vivenciar todo o processo na minha empresa, desde a elaboração até a aplicação dos produtos. No entanto, ao observar a realidade de muitas mulheres, percebo que é fundamental acreditar em si mesmas e se dispor a enfrentar os desafios que surgem no ambiente de trabalho. Não adianta tentar impor mudanças à força, especialmente em um ambiente predominantemente masculino.

Em uma equipe composta por 60 homens, por exemplo, uma mulher precisa saber se posicionar e exigir respeito para poder colaborar, sem criar conflitos. Muitas vezes, as mulheres hesitam em confrontar. Por isso, é essencial que as organizações cultivem uma cultura de inclusão. Quando uma mulher entra na empresa, ela não apenas abre espaço para mulheres, ela abre espaço para pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, quebrando estigmas, mostrando que todos podem contribuir e somar. Para isso, é fundamental que elas se sintam seguras em suas escolhas e preparadas para enfrentar os desafios. Elas precisam acreditar em seus sonhos e ter coragem, persistência e adaptabilidade. 

Apesar dessa sub-representação, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgou que entre 2003 e 2013 houve um aumento de 132,2% de mulheres nos cursos de Engenharia. Quais fatores você acredita que contribuíram para esse crescimento?

Lívia Viana: Acredito que as discussões sobre a importância das mulheres em cargos de liderança e em outras funções são essenciais, pois oferecem sonhos, coragem e fé para aquelas que desejam aproveitar essas oportunidades. O fortalecimento da presença feminina em cargos de liderança tem avançado, especialmente através de iniciativas da Organização das Nações Unidas (ONU) e políticas públicas que promovem oportunidades para mulheres. Cada vez mais, as organizações estão realizando processos seletivos específicos para mulheres, o que gera uma perspectiva positiva de que elas terão espaço e serão valorizadas por suas competências no mercado de trabalho.

Além disso, vejo um crescimento no apoio a startups lideradas por mulheres, especialmente aquelas que representam comunidades marginalizadas, como mulheres negras e de periferias. Essa mudança cria mais oportunidades e destaca a importância de oferecer espaços para que as mulheres possam se destacar e fazer a diferença. 

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Como maranhense e fundadora da Ela Faz, como você avalia o ambiente no Maranhão para iniciativas voltadas à inclusão de mulheres na construção civil? Quais desafios você enfrentou ao desenvolver seu projeto na região?

Lívia Viana: Na verdade, aqui não temos uma iniciativa acolhedora nesse sentido. Embora as pessoas reconheçam que nosso trabalho é bonito, a realidade é diferente. No início, fomos para as obras para entender o que acontecia e garantir a entrega de um bom trabalho, independentemente de sermos mulheres. Por exemplo, em um projeto no Porto do Itaqui, assentei 10 mil metros quadrados de piso, combinando mão de obra masculina e feminina. Apesar de enfrentarmos dificuldades e termos perdido muito dinheiro, sempre acreditei que precisamos arriscar e demonstrar resultados antes de sermos reconhecidos.

E chegou esse momento de reconhecimento?

Lívia Viana: Levamos quatro anos para alcançar um faturamento de cerca de um milhão, e a jornada foi repleta de desafios. Trabalhamos sob chuva e enfrentamos muitas adversidades no canteiro de obras. Nunca realizamos projetos para o governo do estado do Maranhão, exceto pelas incentivos do Governo Federal, como as da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA). Buscamos apoio no sindicato dos trabalhadores da indústria da construção civil, onde nos informaram que apenas 2% da força de trabalho eram mulheres. Essa informação nos motivou a iniciar um trabalho focado em aumentar essa participação. Hoje, conseguimos elevar esse número para 7%.

Poderia compartilhar histórias de mulheres que transformaram suas vidas através de sua iniciativa? 

Lívia Viana: Muitas mulheres vivem em condições extremamente precárias, frequentemente dividindo pequenos espaços com até sete pessoas e sem banheiro em casa. Ao conhecer histórias de mulheres que não comemoravam os aniversários dos filhos por vergonha de chamar os amiguinhos, senti nosso propósito se fortalecer. Por exemplo, em uma visita à casa de uma aluna, encontrei um ambiente organizado, mas com sérias limitações, como a falta de paredes e portas nos quartos, onde três crianças dormiam em uma única cama.

Ao pedir para ver o banheiro, descobri que havia apenas um sumidouro no fundo da casa. Perguntei à aluna  o que ela gostaria de melhorar naquela casa e a resposta foi surpreendente para mim: “Eu colocaria uma parede e uma porta no meu quarto para ter privacidade com meu marido.” Essa frase me fez refletir sobre o impacto que a falta de privacidade pode ter nas crianças e como essa vulnerabilidade pode aumentar o risco de abusos e traumas. Essa experiência reforçou a importância do nosso trabalho em busca de melhorias significativas na vida dessas mulheres e suas famílias.

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Que resultados essas mulheres alcançaram e como isso afetou as comunidades nas quais elas vivem?

Foto: Reprodução/ Ela Faz via Instagram

Lívia Viana: Nosso foco, acima de qualquer troféu ou reconhecimento, é o impacto positivo que causamos na vida das mulheres que qualificamos e ajudamos a entrar no mercado de trabalho. Não se trata apenas de empregabilidade, mas também de fortalecer essas mulheres. Recentemente, enquanto eu estava esperando para tomar um café, uma funcionária do estabelecimento me abordou e agradeceu, dizendo que, graças ao nosso projeto, ela havia redescoberto sua capacidade e transformado sua vida. Reformou sua casa, melhorou sua autoestima e mudou seu relacionamento com o mundo à sua volta. Esses momentos são os que realmente mostram o impacto que podemos ter.

Acredito que nossa contribuição para a sociedade é significativa quando as mulheres assumem papéis de liderança, especialmente em famílias chefiadas por mães solteiras. Muitas vezes, essas mulheres acabam buscando novos parceiros apenas para obter apoio financeiro. Então, trata-se de oferecer dignidade e criar uma base para uma geração futura mais igualitária, com uma cultura mais saudável, tanto social quanto mentalmente.

A Ela Faz tem se destacado por sua abordagem inovadora em capacitar mulheres para o mercado de trabalho, oferecendo cursos práticos que vão além da formação técnica. Você pensa em agregar outras vertentes para aumentar a participação feminina na Construção Civil?

Lívia Viana: Com o objetivo de qualificar mulheres para o mercado de trabalho, sempre busquei facilitar a conexão entre elas e as empresas, orientando-as sobre como poderiam ser contratadas. Essa estratégia gerou resultados positivos, e atualmente estamos desenvolvendo um banco de dados que contém informações sobre todas essas profissionais. Estamos em processo de lançamento de um site onde esse banco de dados estará disponível, permitindo que empresas encontrem facilmente pintoras, soldadoras, azulejistas e outras profissionais capacitadas.

Como você estabelece parcerias com empresas dos setores da Indústria e da Construção Civil? Quais critérios você considera ao selecionar parceiros para garantir que eles estejam alinhados com os valores de inclusão e diversidade?

Lívia Viana: Sempre busco entender as necessidades das empresas em relação à contratação de profissionais, o que me permite alinhar a formação das turmas às suas demandas. Muitas empresas não apenas desejam cumprir projetos sociais, mas também impactar positivamente a comunidade. 

As empresas que realmente apostam no nosso trabalho são, em sua maioria, multinacionais com uma visão atenta às necessidades do mercado. Elas compreendem que a sustentabilidade não se resume a questões sociais, mas também deve estar alinhada com o sucesso dos negócios. Dada a realidade do mercado, em que 90% da população economicamente ativa são compostas por homens e apenas 40% são mulheres, é fundamental que as empresas reconheçam a importância de diversificar sua mão de obra para alcançar uma produtividade que impulsione o crescimento econômico.

Falando em parcerias, a MRV&CO é uma das parceiras do Ela Faz, com o projeto Elas Transformam. Como se concretizou essa parceria?

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Foto: Reprodução/ Ela Faz via Instagram

Lívia Viana: A parceria começou em Curitiba/PR, onde identificamos um forte interesse da empresa em incluir mulheres na operação, especialmente em uma comunidade com muitos desafios sociais. Essa conexão inicial foi essencial para nós, porque nos deu confiança para expandir nosso trabalho para outros estados.

O modelo de negócios da MRV foi determinante nesse processo, pois a empresa não estava apenas interessada na contratação de mulheres, mas também em promover uma mudança cultural na valorização da mão de obra feminina. Nosso trabalho foi além da qualificação profissional, tendo um impacto social relevante. Ficamos satisfeitos em ver que cada aspecto do que entregamos, incluindo relatórios de diagnóstico da comunidade, era valorizado pela empresa. Esses diagnósticos nos permitiram coletar dados importantes sobre a demografia e as condições econômicas da comunidade, fornecendo à MRV uma visão clara das necessidades locais.

Qual o papel desses diagnósticos?

Lívia Viana: Esse levantamento de dados é importante não apenas para a empresa, mas também para compreender como suas ações podem fortalecer a autonomia econômica e financeira das famílias. Ao desenvolver empreendimentos habitacionais, a empresa oferece moradia e também contribui para o crescimento da comunidade, participando ativamente de cada etapa do desenvolvimento e criando oportunidades que têm um impacto positivo na vida das pessoas.

Que conselho você daria para outras empreendedoras que desejam iniciar iniciativas sociais voltadas para a inclusão ou para mulheres que queiram se inserir na construção civil?  

Lívia Viana: Primeiramente, é essencial que você identifique qual problema deseja resolver. Em seguida, pense na disposição e na energia que você vai empregar para abordar essa questão. É importante ter determinação, fé e persistência. É fundamental ouvir as necessidades dos outros e estar disposto a modificar sua condução para encontrar a melhor solução, uma habilidade primordial no processo de aprimoramento contínuo.

A adaptabilidade, junto com o comprometimento em estudar e entregar soluções diferenciadas, é o que realmente abre mercados. Muitas vezes, o cliente não está sendo atendido de forma adequada e nosso trabalho deve focar em entender suas dores. Mantenha uma postura de humildade e proatividade durante o processo. Essa mentalidade não só melhora a qualidade do nosso trabalho, mas também enriquece nossa experiência.