Falta de CEP prejudica a vida de milhões de brasileiros

Falta de registro oficial de endereço de CEP prejudica acesso de cidadãos a serviços básicos e à inovação urbana.

Por Redação em 7 de julho de 2023 2 minutos de leitura

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A falta de Código de Endereçamento Postal (CEP) prejudica o dia a dia de milhares de brasileiros. O Código é muito mais do que apenas um conjunto de oito números. E mais que o localizador oficial de endereços no Brasil. Ele é o número que coloca casas (e pessoas) no mapa! 

De acordo com os Correios, existe um pouco mais de 1,24 milhão de CEPs registrados no Brasil. Não há informações oficiais sobre a falta dos Códigos Postais, mas pesquisas mostram que áreas rurais e bairros de periferia de grandes centros não têm esse registro.

Segundo pesquisa feita pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva, cerca de 36,2 milhões de pessoas em favelas brasileiras não recebem suas compras e têm acesso limitado a serviços essenciais devido à falta de CEP. Muitas das regiões sem os códigos são chamadas de “áreas de risco”, o que amplia ainda mais a dificuldade de acesso.

Falta de CEP e serviços

A questão tem até nome: “cidadania postal“.  “Para você pedir um emprego ou fazer matrícula numa instituição de ensino, é preciso de um CEP. E, sim, num mundo capitalista, para ter acesso a compras e serviços, também”, disse Eduardo de Rezende Francisco, chefe do Departamento de Tecnologia e Data Science da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), em entrevista à revista PB.

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Segundo Francisco, não ter o CEP invisibiliza comunidades. Muitos serviços essenciais, como a criação de contas no banco e a entrada em bancos de emprego, precisam do comprovante de endereço – que tem como base o código postal. 

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A compra online, que deve movimentar R$ 185,7 bilhões neste ano no Brasil, ganha barreiras pela falta de CEP. Sem o comprovante oficial do endereço, não há maneiras de se completar o processo de entrega de produtos. Algumas companhias, como a naPorta e a Favela Xpress, foram criadas pensadas exatamente para resolver o problema do delivery em lugares periféricos com falta de endereçamento oficial.

De acordo com pesquisa feita pela Outdoor Social Inteligência, o potencial de compra dos moradores de favela no Brasil é de R$ 9,9 bilhões. Atualmente, 38% dos moradores de periferia fazem compras regulares por este meio.

Apagão de dado das pessoas sem CEP

Por não ter um CEP, bairros periféricos podem ficar de fora dos dados mais importantes do Brasil: o Censo Demográfico. A ausência de endereços oficiais tem sido um desafio para os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que não conseguem contabilizar áreas e acessá-las. 

 “A favela já é um território claramente invisibilizado e ficar fora do Censo seria aumentar esse cenário, além de não possibilitar que políticas públicas que atuam na redução da pobreza e promoção de oportunidades cheguem nesse território”, disse o fundador do Data Favela, Renato Meirelles, em entrevista para a Agência Brasil.

Os dados do Censo ditam políticas públicas e são usados para calcular o volume de dinheiro que áreas recebem do governo. Ou seja, impacta diretamente a cidade. Pesquisa feita pelo Data Favela mostrou que há mais de 13 mil favelas no Brasil, uma estimativa de 5,8 milhões de domicílios e 17,9 milhões de moradores. O CEP não pode tirar essas pessoas do mapa.