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Reciclagem de vidro: uma questão que precisa ser resolvida com urgência
A taxa de reciclagem de vidro ainda é muito baixa no Brasil. Em entrevista exclusiva, Juliana Schunck, CEO da Massfix, mostra caminhos para que isso seja resolvido
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Redação em 20 de março de 2023 4minutos de leitura
Quando os temas sustentabilidade e coleta consciente são abordados, logo vem à mente a urgência na reciclagem do plástico. Contudo, pouco se fala sobre a importância de se fazer o descarte correto do vidro, material que está mais presente na vida das pessoas do que se pode imaginar.
Numa tentativa de introduzir cada vez mais essa pauta na sociedade, a Organização das Nações Unidas (ONU) chegou a declarar 2022 como “O ano internacional do vidro”. De certa maneira, a estratégia parece ter surtido efeito positivo. Em dezembro do mesmo ano, o governo brasileiro criou um decreto para o sistema nacional de logística reversa de embalagens de vidro, que agora faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Para empresas como a Massfix – que está no mercado há 32 anos – a regulamentação trouxe otimismo. “Esperamos que a partir do segundo semestre isso comece a trazer um melhor fôlego para nossa cadeia produtiva”, diz Juliana Schunck, CEO da empresa, ao Habitability.
Reciclagem do vidro traz incentivo à economia circular
Apesar do primeiro passo ter sido dado, a estratégia governamental ainda precisa de uma certa organização e estruturação do sistema para que seja consolidada e passe a ter validade. Comparado a alguns países, o Brasil ainda tem uma taxa de reciclagem de vidro muito baixa, próxima ao limite de 25%. “O vidro é um material que pode ser 100% reciclado, e pode ser reaproveitado infinitas vezes sem perder sua qualidade. Para se ter uma ideia, a cada 1kg de vidro reciclado, é produzido 1kg de vidro novo”, avalia Schunk.
O país produz por volta de 1 milhão e 800 mil toneladas de vidro por ano. As empresas esbarram com questões como a de que o vidro corta, quebra fácil, é de difícil transporte e manuseio. Mas o grande desafio mesmo é financeiro. Enquanto o quilo da latinha de alumínio é comercializado por volta de 7 a 8 reais, o do vidro vale 20 centavos. Ou seja, nesse cenário, a reciclagem do material ainda não fomenta a atratividade econômica.
“O alumínio tem 98% de reciclagem e traz uma renda muito grande. Apesar de ter todo o apelo sustentável, o vidro não tem esse apelo financeiro”, expõe a empresária, pontuando que para mudar essa realidade é preciso alertar as pessoas sobre a importância dos processos de fabricação que usam recursos naturais, com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.
Recursos naturais ajudam a reduzir drasticamente os custos e a emissão de carbono na cadeia produtiva
Para o fabricante, esse processo pode resolver tanto as políticas socioambientais quanto econômicas da empresa. O vidro é composto basicamente de areia (barrilha, óxido de minerais e calcário), material abundante e barato. Então, ao deixar de usar matéria-prima na produção, a empresareduz seu consumo energético no processo de fabricação e, ainda, diminui muito a emissão de carbono. Exemplificando, a cada 6 toneladas de vidro reciclado, a economia de CO2 é de 1 tonelada.
Ainda não existe um processo de reciclagem exclusivo para o vidro. Hoje, a coleta de lixo funciona de maneira unificada, com todos os resíduos sendo descartados para, só depois, serem separados. Esse trabalho, geralmente, é feito por cooperativas e ainda envolve muitos riscos.
Atitudes individuais podem ajudar a coleta de vidro ser mais segura
Uma das iniciativas da Massfix, segundo Juliana, é promover a conscientização da população sobre a importância da coleta seletiva de vidro, além de mostrar boas práticas de manuseio e descarte. Para tanto, além de instalar coletores em alguns municípios, a empresa também oferece treinamento para cooperativas.
“É importante saber, por exemplo, que os vidros não precisam ser separados por cor ou lavados antes do descarte”, explica a executiva. “Outra curiosidade é que não é necessário tirar os rótulos e tampas, geralmente feitos de material orgânico que podem ser facilmente absorvidos no processo de fabricação de um novo vidro em quantidades controladas”, completa.
Além disso, o recomendado é colocar todos os vidros em um único saco, separadamente dos demais materiais recicláveis. No caso de vidros quebrados, deve-se embrulhá-los em uma caixa de papelão ou em um papel mais grosso para diminuir o risco de ferir os catadores da coleta seletiva e a perda de cacos de vidro para reciclagem ou levar em um PEV (ponto de entrega voluntário) específico para vidros.
Já cerâmicas e porcelanas não devem ser descartadas junto do vidro, pois são contaminantes. Quando são derretidas, prejudicam todo o processo de reciclagem, podendo inclusive gerar explosão. Estes tipos de materiais, também, não devem ser incluídos no lixo de recicláveis comuns.
Aliás, nem todo vidro é reciclável. Vidros planos, sejam temperados, laminados ou espelhos, são 100% recicláveis, assim como vidros de embalagens. Mas, outros tipos de vidros dependem de processos e destinações finais especiais.
Vidros específicos, como aqueles resistentes ao calor, refratários ou com chumbo, por exemplo, não podem retornar ao ciclo de produção, dando origem à fabricação de um novo produto. Por isso, devem ser coletados separadamente para uma destinação final específica. Vidros de medicamentos devem ser destinados a logística reversa de medicamentos, já que, apesar de recicláveis, possuem resíduos químicos.
Mais de 1 bilhão de embalagens de vidro são descartadas anualmente no Brasil, muitas vezes sem os cuidados necessários para a separação do resíduo. Isso cria um grave problema urbano, já que o tempo de vida do material, na natureza, é indeterminado, o que além do desperdício, traz uma sobrecarga aos aterros das cidades.
Juliana Schunk avalia que chegou a hora de as pessoas entenderem o processo correto de reciclagem. Em tempo, um dos maiores desafios do Brasil, sem dúvida, é a educação ambiental. “É preciso criar, urgentemente, uma cultura de preocupação com o resíduo, que hoje não é difundida no Brasil. E é necessário estruturar, em um prazo curto, a cadeia do vidro em nível nacional, para que a gente consiga colher os frutos do aumento da taxa de reciclagem e, assim, conseguir chegar em números como existem em outros países, que chegam a 80% do total do vidro consumido sendo reciclado.”
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