Algoritmo faz futurologia contra mudanças climáticas

Análise e projeção de diferentes cenários são viabilizadas por algoritmo e ajudam a entender os efeitos das mudanças na floresta amazônica.

Por Redação em 18 de julho de 2023 4 minutos de leitura

algoritmo

Em um contexto marcado pela preocupação com o futuro da Floresta Amazônica, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um algoritmo que tem a capacidade de projetar cenários futuros, antecipando as transformações que poderão ocorrer na vegetação devido às mudanças climáticas em curso. O objetivo da pesquisa é aprofundar o conhecimento acerca do impacto das modificações na vegetação amazônica, especialmente no que se refere à captação de CO2. 

O algoritmo possibilita a análise e a projeção de diferentes cenários, permitindo aos pesquisadores entender como a floresta amazônica poderá se comportar e responder às mudanças climáticas. A análise da interação entre a vegetação, o carbono e outros fatores ambientais, como temperatura e precipitação, oferece uma compreensão mais aprofundada das possíveis consequências para a floresta, seus ecossistemas e, consequentemente, para as cidades.

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Foco do algoritmo é o reservatório natural de carbono

A capacidade da Amazônia de capturar e armazenar grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2) é de extrema importância para manter o equilíbrio climático global. Nesse sentido, foi desenvolvido o algoritmo CAETÊ, pioneiro em sua categoria, para concentrar-se na análise do papel crucial da floresta como um “reservatório natural” de carbono, o que já rendeu à floresta o apelido de pulmão do mundo.

O estudo, realizado por meio do algoritmo, revelou que um clima mais seco na Amazônia, com uma redução de 50% na quantidade de chuva, poderia ter impactos significativos na vegetação da região. Embora essa mudança climática possa resultar em um aumento na diversidade de estratégias de sobrevivência das plantas, os índices de captação de CO2 seriam menores.

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A pesquisa mostrou que, nessas condições de clima seco, a maior parte do dióxido de carbono seria armazenada nas raízes das plantas, em vez de ser absorvida pelas folhas e troncos, que têm maior capacidade de acumular carbono. Desse modo, os cientistas calcularam que a captação de CO2 poderia ser entre 57,48% e 57,75% menor em comparação com condições climáticas normais.

Essas informações fornecem uma estimativa da capacidade de armazenamento de carbono da floresta, permitindo determinar o ponto em que a vegetação nativa não consegue mais se recuperar e absorver normalmente. De acordo com Bianca Rius, doutora em ecologia pela Unicamp e autora principal do artigo, essa mudança pode desencadear uma série de consequências, uma vez que amplifica os efeitos das mudanças climáticas.

“Essa intensificação poderia desencadear um declínio irreversível na floresta tropical e afetar negativamente os padrões climáticos em escala global. A redução da capacidade de estocar carbono pode ter impactos socioeconômicos significativos, como perda de meios de subsistência e insegurança alimentar para comunidades que dependem da floresta”, afirma.  

No entanto, os cientistas ressaltam que ainda são necessários estudos adicionais para compreender se de fato a Amazônia pode atingir um ponto de não retorno e quais seriam as implicações globais dessa transformação.

Impacto nos reservatórios de água em outras regiões

Conforme ressaltado por Bianca, as implicações das mudanças climáticas extrapolam a redução na capacidade de captação e armazenamento de carbono na Amazônia. Processos fundamentais, como a transpiração das plantas, desempenham um papel crucial na manutenção do equilíbrio climático e podem ser prejudicados. Mas o que isso significa para os centros urbanos? A taxa de transpiração das plantas na região amazônica exerce uma função direta na formação de nuvens e nos padrões de precipitação, abarcando não apenas a própria região, mas também o território brasileiro e a América do Sul como um todo.

Essas mudanças nos padrões de chuva acarretam diferentes consequências nas áreas urbanas. Alguns locais podem enfrentar precipitações intensas, o que resulta em inundações e desafios relacionados à drenagem urbana. Em contrapartida, outros lugares podem vivenciar uma diminuição na quantidade de chuva, impactando a disponibilidade de água nas bacias hidrográficas e a qualidade do ar.

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Dessa forma, a redução na capacidade de captura de CO2 pela floresta amazônica, aliada à diminuição da evapotranspiração, pode desencadear efeitos prejudiciais, intensificando o aquecimento global e agravando as mudanças climáticas. Tais impactos reverberam diretamente no clima das áreas urbanas, refletindo-se também em um aumento das temperaturas e na ocorrência de eventos climáticos extremos.

Portanto, os pesquisadores acreditam que o CAETÊ possui o potencial de se tornar uma ferramenta que ofereça dados fundamentais para embasar a tomada de decisões e a formulação de políticas públicas relacionadas ao mercado de carbono.

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Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), o Brasil assumiu o compromisso de reduzir em 50% as emissões de carbono do País até 2030 e atingir a neutralização dessas emissões até 2050. Nesse contexto, o algoritmo pode desempenhar um papel relevante ao fornecer informações precisas, possibilitando que as autoridades e os responsáveis pela formulação de políticas tomem decisões mais assertivas e eficientes acerca das emissões.