O poder transformador da reforma

Reformas podem mudar a vida para além de muros das casas, acredita o cofundador da Vivenda Fernando Assad.

Por Redação em 15 de agosto de 2022 4 minutos de leitura

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Em uma tarde, dona Ana, moradora de uma pequena casa em um bairro periférico de São Paulo, resolveu varrer a calçada em frente ao seu imóvel. Naquele dia específico, a vontade de limpar a viela falou mais alto, e lá se pôs a senhora a varrer o ambiente público em que ela convivia com os vizinhos. O que levou a mãe de família a cuidar de uma parte – pequena – do bairro veio de dentro de sua casa: dona Ana tinha acabado de fazer uma reforma em seu banheiro!

“A gente nunca tinha visto ela varrer a viela. Perguntamos por que ela estava se preocupando com aquilo e ela respondeu: agora que estou com o banheiro limpinho, você acha que vou deixar alguém entrar com o pé sujo dentro de casa?”, conta Fernando Assad, cofundador da Vivenda – startup que financia e gerencia obras para famílias de baixa renda. Dona Ana marcou a memória de Assad não só por essa atitude que “levou a obra para fora de casa”, mas também porque ela foi a primeira das mais de 4 mil reformas que a Vivenda fez.

O impacto nas cidades começa a partir da resolução de um problema que parece individual, mas é coletivo. As obras da Vivenda têm como objetivo reduzir a insalubridade das casas de pessoas de renda mais baixa no País, que convivem com situações como tetos mofados, banheiros sem encanamento ou chão sem piso. No Brasil, além do déficit habitacional quantitativo, que fica em torno de 6 milhões de residências, existe também o déficit habitacional qualitativo de inadequação, atualmente em 25 milhões de casas, aponta Assad. “A maior parte do déficit habitacional é de inadequação do que já é construído”, comenta.

Minha obra, minha vida

“Quando a gente começa a operar com obra, percebe que a obra não é o fim, ela é o meio”, explica Assad ao citar as diversas famílias que sentiram a melhoria de vida no dia a dia depois das reformas viabilizadas pela Vivenda. Situações como familiares que pararam de brigar entre si, crianças que passaram a estudar mais e grupos de pessoas que se reuniram com mais frequência, já que tinham um espaço dedicado a isso, foram identificadas em pesquisas realizadas pela empresa.

Existe uma relação entre a inadequação do ambiente e a forma com que a família convive. “Tem tudo a ver com qualidade de vida, de desenvolvimento, felicidade. E essa é a função da casa, não é? Criar um espaço seguro e confortável que nos estimule a nos desenvolvermos. A casa é o nosso segundo universo”, acrescenta o executivo.

Ciclo virtuoso da reforma começa com a transposição de barreiras

Os efeitos são positivos, a vida melhora, mas não dá para deixar de lado um grande porém: reformar a casa é custoso. Para ter matéria-prima de boa qualidade e serviço especializado custa dinheiro, além de ser uma atividade que leva tempo (ou seja, outro fator que entra para a conta). Combine essa situação ao baixo acesso a financiamentos, mesmo em quantias menores, e já dá para visualizar as barreiras que milhões de brasileiros têm de transpor para derrubar as paredes e mudar o ambiente em que vivem.

“Muitas vezes, as pessoas fazem as próprias obras, o que pode sair bem mais caro”, lembra Assad. Nesse sentido, a Vivenda atua em dois caminhos: o da profissionalização da mão-de-obra de construção civil e no do microcrédito para os moradores de bairros de baixa renda conseguirem realizar as obras. A primeira parte é essencial para a segunda funcionar, explica Assad, já que estruturar o mercado é o que gera longevidade.

“A construção civil sempre foi um fomento para a retomada da economia”, aponta o executivo. Na Vivenda, há opção por sempre utilizar mão-de-obra local, constituída de pessoas que vivem próximo a quem faz as obras. O que acaba também gerando um “engajamento” entre pedreiros, mestres de obras e empreiteiros, que querem finalizar a reforma das casas de seus vizinhos. “É um lado muito bonito, o impacto do mercado da melhoria habitacional é maior do que só a moradia, é um valor maior. Desenvolve todo o local”, comenta. 

A casa e a cidade

A casa pode ser um universo particular e o banheiro da dona Ana pode não ter mudado a vida de todos no bairro. Mas fizeram parte de uma transformação entre os moradores. De acordo com Assad, vários vizinhos quiseram fazer uma reforma em suas cozinhas e banheiros ao ver o resultado do banheiro de dona Ana. “A cidade do futuro tem as casas das pessoas no centro. É uma cidade que possibilita ter uma boa moradia e fomenta a relação entre as pessoas. E também precisa ser um espaço eficiente energeticamente”, diz o executivo. 

“As cidades hoje são lugares de pouca conexão, de pouca borda. Precisamos de mais borda porque é nela que acontece a transformação. Se você não encontra o teu vizinho na rua, você perde a conexão com as pessoas. Perde o desenvolvimento”, fala Assad. O cofundador da Vivenda espera que a companhia continue expandindo a sua ação, principalmente no microcrédito, para que mais pessoas reformem seus banheiros, cozinhas e quartos. Para, depois, fazer uma “reforma” na cidade. 

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