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Trabalho híbrido: a saga do trânsito nas “novas sextas-feiras”
O trabalho híbrido está reconfigurando o trânsito urbano! Quais estratégias podem melhorar a mobilidade em metrópoles como São Paulo?
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Redação em 25 de outubro de 2023 5minutos de leitura
Antes da pandemia da Covid-19 era comum observar congestionamentos acima da média nas típicas sextas-feiras em São Paulo, principalmente devido ao famoso happy hour com bares lotados pós expediente. No entanto, com a disseminação do modelo de trabalho híbrido, o famoso “sextar” também pode estar presente em outros dias da semana.
De acordo com um estudo divulgado pelo G1 e conduzido pela plataforma de gestão de escritórios Deskbee, aproximadamente 65% das reservas de mesas e salas de reunião, por exemplo, ocorrem nas quartas e quintas-feiras. Essa tendência se deve, em parte, ao fato de muitas pessoas optarem por realizar suas atividades profissionais em casa às segundas e sextas-feiras. A mudança de hábito tem impactos imediatos e visíveis: a terça, quarta e quinta-feira agora apresentam um aumento significativo no tráfego de veículos.
Por um lado, a flexibilidade oferecida pelo home office proporciona maior comodidade e economia de tempo, reduzindo a necessidade de deslocamento nos dias em que se trabalha de casa. No entanto, isso também resulta em uma concentração maior de deslocamentos nos dias de trabalho presencial, o que gera congestionamentos e aumenta a demanda por transporte público. E a pergunta que fica é: como desenvolver estratégias que se adaptem às novas dinâmicas de mobilidade urbana, aproveitando ao máximo os benefícios do trabalho híbrido e minimizando seus desafios?
Trabalho híbrido e o aumento do trânsito em dias presenciais
Conforme dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de São Paulo, análises recentes apontam que as terças, quartas e quintas-feiras sobressaem como os dias da semana com os maiores acréscimos na média de congestionamento do trânsito na cidade. Comparando com o ano anterior, os números revelam que a média de lentidão nas terças-feiras aumentou em 8,9%. Nas quartas-feiras, esse incremento atingiu 9%, enquanto nas quintas-feiras registrou-se um aumento de 5,8%.
Em contrapartida, o início e o término da semana apresentaram variações menos pronunciadas. Nas segundas-feiras, o acréscimo médio no congestionamento foi de 3,8%, indicando uma tendência ascendente, porém mais atenuada. Já nas sextas-feiras, observou-se uma queda de 2,3%, sugerindo uma diminuição relativa da atividade nas vias devido, possivelmente, uma preferência por trabalho remoto nesse dia da semana.
Essa análise revela a complexidade dos padrões de tráfego da cidade e ressalta como a adoção do trabalho híbrido e outras mudanças na rotina da população impactaram diretamente na mobilidade urbana. Isso denota a necessidade de uma abordagem adaptativa e flexível para lidar com tamanhas flutuações.
Trabalho híbrido, a realidade que desafia cidades
O modelo híbrido é agora a preferência da maioria, sendo adotado por 59% das empresas, uma vez que proporciona um equilíbrio entre o trabalho presencial e remoto, otimizando a produtividade e a satisfação dos funcionários. Apenas uma minoria (8%) permanece completamente em regime de trabalho remoto, mostrando que a tendência atual é a busca por um equilíbrio entre os dois modelos para atender às necessidades de empregadores e colaboradores.
Segundo a mais recente pesquisa realizada pela consultoria Robert Half, 38% dos trabalhadores indicaram que começariam a buscar novas oportunidades de emprego caso fossem obrigados a retornar ao trabalho presencial em período integral. Vale destacar que conforme a pesquisa realizada pela Brain Inteligência Estratégica, uma empresa de pesquisa de mercado, 27% dos trabalhadores estavam exercendo suas atividades presencialmente entre 2020 e 2021. Entre 2022 e 2023, esse percentual praticamente dobrou, alcançando 45%.
Os dados demonstram que o modelo de trabalho híbrido ainda resiste e veio para ficar. Cabe, então, às cidades se adaptarem à nova realidade, já que as transformações nas dinâmicas de trabalho têm implicações não apenas para as empresas e seus funcionários, mas também para a infraestrutura urbana e o planejamento das cidades.
Pedágio urbano e “autoestradas” para bikes, as lições de Londres
Aqueles que residem na cidade de São Paulo estão familiarizados com a política de rodízio de carros, uma medida adotada pela prefeitura para mitigar o congestionamento do tráfego, na qual, a cada dia da semana, um grupo específico de veículos é proibido de circular durante os horários de maior movimento. No entanto, é importante notar que, embora essa medida tenha conseguido aliviar em parte o congestionamento, os problemas de trânsito ainda persistem, sem uma melhoria significativa. É necessário uma abordagem multidisciplinar.
Uma estratégia adotada para desencorajar o uso excessivo de carros particulares em algumas cidades do mundo é a implantação da taxa de congestionamento, também conhecida como pedágio urbano. Nesse caso, ao invés de impor restrições rígidas à circulação, o governo estabelece uma tarifa para os motoristas que optam por dirigir nas vias mais congestionadas durante os horários de pico.
O pedágio urbano apresenta duas vantagens: em primeiro lugar, ele não é tão coercitivo quanto outras políticas restritivas, permitindo que os motoristas tomem uma decisão informada sobre o momento e a necessidade de utilizar seus veículos; em segundo lugar, os recursos arrecadados podem ser investidos para promover alternativas de transporte, como o transporte público ou o ciclismo. Um exemplo de sucesso na aplicação dessa medida é Londres, onde há um aumento significativo no número de pessoas adotando o transporte coletivo ou a bicicleta como meio de locomoção, além da diminuição da poluição no centro da cidade.
Londres, aliás, apresenta uma abordagem interessante para aqueles que percorrem longas distâncias: as Cycle Superhighways, que podem ser consideradas as “autoestradas” das bicicletas. Essas vias possibilitam que os ciclistas se desloquem com maior velocidade, utilizando uma infraestrutura exclusiva e dedicada ao modal, sem a necessidade de compartilhar o espaço com veículos automotores.
Transporte público
Com o objetivo de persuadir a população a optar por alternativas mais sustentáveis em detrimento do uso do carro particular, muitas cidades têm adotado uma abordagem positiva, promovendo modais de transporte mais amigáveis ao meio ambiente, com destaque para o transporte coletivo. Investir nessa alternativa tem se mostrado uma das principais soluções para reduzir o número de veículos circulando e, consequentemente, mitigar os persistentes problemas de congestionamento nas vias urbanas.
No Brasil, o Bus Rapid Transit (BRT) emerge como um exemplo de como aprimorar a mobilidade urbana e reduzir os congestionamentos. O modelo implementado com sucesso em cidades como Curitiba, Uberlândia e Goiânia, envolve a utilização de veículos maiores do que os ônibus tradicionais, faixas dedicadas exclusivamente para eles e um sistema de cobrança organizado fora do veículo.
Essa abordagem permite que os passageiros evitem o tráfego congestionado e desfrutem de uma viagem mais eficiente e rápida. Em alguns casos, é possível percorrer um trajeto de 10 quilômetros em cerca de 20 minutos utilizando o BRT, um tempo significativamente inferior ao que um carro levaria para realizar a mesma jornada.
Além de oferecer uma alternativa viável e eficaz para os deslocamentos urbanos, o BRT contribui para a redução do congestionamento ao atrair mais passageiros para o transporte coletivo. Isso, por sua vez, diminui a quantidade de veículos individuais nas ruas, aliviando o tráfego e impulsionando a qualidade de vida nas cidades. Quem sabe assim seja possível “sextar” em qualquer dia da semana, sem pagar o preço do trânsito por isso.
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