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Mobilidade urbana sustentável: O desafio das cidades brasileiras
Com o aumento da motorização individual no Brasil, a mobilidade urbana sustentável é essencial para enfrentar problemas urbanos e ambientais.
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Redação em 12 de dezembro de 2024 9minutos de leitura
Imagem gerada por Inteligência Artificial
A mobilidade é um dos pilares fundamentais da vida nas cidades, mas também uma das principais fontes de poluição do ar, de emissões de gases de efeito estufa, de engarrafamentos constantes, do aumento dos tempos de deslocamento, poluição sonora e sobrecarga na infraestrutura viária das cidades, especialmente em função da predominância da motorização individual – um caminho oposto ao da mobilidade urbana sustentável, que visa equalizar as externalidades.
A presença massiva de carros e motocicletas, em grande parte movidos a combustíveis fósseis, não só contribui significativamente para os problemas ambientais, mas também afeta diretamente a saúde física, mental e o bem-estar das pessoas.
As crescentes taxas de urbanização, as limitações das políticas públicas para o incentivo ao transporte coletivo e a retomada do crescimento econômico compõem o cenário propício para agravamento da situação, impulsionando o aumento expressivo dos automóveis e motocicletas nas vias das grandes metrópoles, além da frota de veículos dedicados ao transporte de cargas. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), as vendas de veículos zero quilômetro no Brasil cresceram 14,1% no acumulado de janeiro a setembro de 2024, totalizando 1,86 milhão de unidades. Setembro foi destaque, com 236,4 mil veículos vendidos, representando um aumento de 19,6% em relação ao mesmo período do ano anterior e o maior registro para o mês de setembro dos últimos dez anos.
Mobilidade e emissão de gases poluentes
O aumento da frota de veículos, a dependência de combustíveis fósseis e a falta de alternativas sustentáveis têm gerado preocupações crescentes sobre a qualidade do ar nas cidades e os impactos na saúde pública e no clima.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,2 milhões de mortes prematuras a cada ano estão relacionadas à poluição do ar e uma parcela significativa dessas emissões provém do setor de transporte. Conforme aponta o relatório Situação Global do Transporte e Mudança Climática, desenvolvido por mais de 40 organizações internacionais voltadas para o transporte sustentável e de baixo carbono, as emissões do setor de transportes aumentaram de 5,8 gigatoneladas de CO₂ em 2000 para 7,5 gigatoneladas em 2016, um crescimento de 29%.
Entre os meios de transporte que mais emitem dióxido de carbono, os carros leves estão no topo, representando 45% do total de emissões. Na sequência, os caminhões contribuem com 21%, enquanto aviões e navios são responsáveis por 11% cada. Já ônibus e micro-ônibus respondem por 5%, triciclos e motocicletas por 4%, e os trens aparecem com 3% das emissões de CO₂ do setor. Diante desse quadro, a mobilidade urbana sustentável se mostra como um caminho para repensar a estrutura de locomoção nas cidades.
Mas, afinal, o que é a mobilidade urbana sustentável?
A mobilidade urbana sustentável refere-se a um sistema de transporte que atende às necessidades de deslocamento das pessoas e bens de maneira eficiente, acessível e ambientalmente responsável. Esse conceito vai além da simples movimentação de veículos; ele abrange a forma como as cidades são planejadas e como as diferentes opções de transporte se integram para criar um ambiente mais saudável e seguro para todos.
O modelo busca equilibrar as necessidades sociais, econômicas e ambientais, garantindo que as futuras gerações também possam usufruir de um ambiente urbano de qualidade. Entre os princípios fundamentais da mobilidade urbana sustentável, destacam-se:
Redução do transporte individual
A mobilidade urbana sustentável promove uma transformação nas dinâmicas de transporte urbano ao incentivar o uso de modos alternativos, como transporte público, bicicletas e caminhadas, visando reduzir a dependência de automóveis particulares. Essa abordagem não só diminui o tráfego nas cidades, mas também contribui para a redução da poluição do ar e do ruído, promovendo um ambiente urbano mais saudável e agradável.
Promover a conexão entre diferentes tipos de transporte, como ônibus, trens, bicicletas e caminhadas é fundamental para facilitar o deslocamento urbano e aumentar a eficiência do sistema de transporte como um todo. Essa integração permite que os usuários transitem de um modal para outro de maneira fluida e conveniente, minimizando o tempo de espera e os custos associados a deslocamentos longos. Com um sistema interconectado, as pessoas podem optar por combinações de transporte que melhor atendem às suas necessidades, como usar a bicicleta para chegar à estação de trem e, em seguida, continuar a viagem de ônibus até o destino final.
Acessibilidade e inclusão
A mobilidade urbana sustentável deve ser um direito universal, atendendo a todas as camadas da população, incluindo pessoas com deficiência e moradores de áreas periféricas, assegurando que todos tenham acesso equitativo a serviços e oportunidades. Isso implica na criação de infraestruturas acessíveis, como calçadas adequadas, transporte público adaptado e sinalização inclusiva, que garanta a segurança e a comodidade para todos os usuários, independentemente de suas condições físicas ou socioeconômicas. Além disso, é fundamental implementar políticas que considerem as necessidades específicas das comunidades mais vulneráveis, promovendo soluções de transporte que sejam viáveis e economicamente acessíveis.
Baixo impacto ambiental e melhora da qualidade do ar
Esse modelo de locomoção visa diminuir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, promovendo o uso de veículos elétricos, sistemas de transporte coletivo eficientes e modos de transporte ativos, como a bicicleta e a caminhada. A transição para veículos elétricos, por exemplo, tem sido debatida como opção para reduzir a poluição gerada pelos automóveis tradicionais, embora a análise do ciclo de vida total deste tipo de veículo traga importantes pontos de atenção, como a forma de produção das baterias, que demanda o uso do lítio, e o descarte desses equipamentos após sua vida útil.
Paralelamente, tem-se o investimento em transporte coletivo de qualidade, que não apenas proporciona uma alternativa acessível e prática ao uso de carros, mas também otimiza o fluxo de pessoas, diminuindo o tráfego e os congestionamentos, enquanto a promoção de bicicletas e caminhadas, além de ser uma estratégia para a redução das emissões, incentiva hábitos de vida mais saudáveis, melhorando o bem-estar físico e mental da população.
Ao priorizar espaços públicos, promover áreas verdes e garantir a segurança dos pedestres, a mobilidade urbana sustentável desempenha um papel importante na melhoria da qualidade de vida nas cidades, tornando-as mais habitáveis e agradáveis para todos os cidadãos. A criação de calçadas largas, praças e parques não apenas proporciona locais de convivência e lazer, mas também incentiva a interação social e o fortalecimento das comunidades. As áreas verdes, por sua vez, contribuem para a purificação do ar, o controle da temperatura, a redução do efeito de ilha de calor e a promoção da biodiversidade urbana.
Além disso, ao implementar medidas que aumentam a segurança dos pedestres, como faixas de travessia bem sinalizadas e iluminação adequada, as cidades se tornam mais acolhedoras e acessíveis, encorajando as pessoas a caminhar ou usar bicicletas em vez de depender de veículos motorizados.
Transportes alternativos para uma mobilidade urbana sustentável
Com o aumento das emissões de gases poluentes e o congestionamento das cidades, a busca por alternativas de transporte urbano tornou-se uma prioridade para diversos países. Algumas soluções são:
1. Bicicletas e ciclovias
O uso de bicicletas é uma das alternativas mais sustentáveis e econômicas. Além de ser uma forma de transporte que não emite gases poluentes, a bicicleta melhora a saúde do usuário e desafoga o trânsito. Cidades como São Paulo e Curitiba vêm investindo em redes de ciclovias, incentivando o uso desse modal com iniciativas como o aluguel de bicicletas públicas.
2. Patinetes e scooters elétricos
Os patinetes e scooters elétricos representam uma nova onda de transporte sustentável nas grandes cidades. Eles ocupam menos espaço, emitem baixíssimos níveis de poluentes e podem ser compartilhados por meio de aplicativos, promovendo uma mobilidade mais flexível e rápida para curtas distâncias.
3. Carros compartilhados
O modelo de carsharing (carros compartilhados, em tradução livre) também contribui para a mobilidade sustentável ao reduzir o número de veículos nas ruas e os custos associados ao transporte individual. Algumas empresas já oferecem plataformas onde o usuário pode alugar um carro por algumas horas, tornando o acesso ao veículo mais democrático e reduzindo a necessidade de possuir um automóvel próprio.
A eletrificação da frota é uma tendência global. Carros, ônibus e até motos elétricas ajudam a reduzir as emissões de gases poluentes e o consumo de combustíveis fósseis. Em algumas cidades, como São Paulo, a implementação de ônibus elétricos já é uma realidade, trazendo benefícios para o meio ambiente e para a qualidade do ar urbano.
5. Transporte público integrado
Outro exemplo de transporte alternativo são os sistemas de transporte público integrados, que promovem uma conexão eficiente entre metrôs, ônibus e outros modais. Cidades como Bogotá, na Colômbia, são exemplos de sucesso com o TransMilenio, um sistema de ônibus rápido (BRT) com faixas exclusivas que oferecem maior agilidade ao transporte coletivo e ajudam a reduzir o uso de automóveis particulares.
Mobilidade sustentável: essencial no combate às mudanças climáticas
Diante dos crescentes impactos das mudanças climáticas, a mobilidade urbana sustentável surge como um componente essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e transformar as cidades em lugares mais habitáveis. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), limitar o aquecimento global a 1,5°C até 2100 depende de uma significativa redução nas emissões de CO₂ até 2030. Para alcançar essa meta, a descarbonização do setor de transportes é uma das frentes mais urgentes.
Para que a mobilidade sustentável avance, é essencial que políticas públicas não só incentivem o uso de transportes coletivos, mas promovam melhorias significativas em sua qualidade, capacidade e eficiência. Isso exige um planejamento estratégico, que inclua a ampliação de linhas de ônibus, metrôs e trens, a implantação de novas rotas e medidas eficazes para reduzir a superlotação, tornando as viagens mais confortáveis e acessíveis.
Investir na segurança dos usuários é igualmente importante, com ações que envolvam a iluminação e a vigilância nos pontos e estações, bem como a modernização dos veículos para torná-los mais seguros e menos poluentes.
Além disso, o transporte individual não motorizado precisa ser estimulado e facilitado com a criação de infraestruturas apropriadas, como ciclovias, pistas para patinetes e calçadas acessíveis. A integração segura e funcional desses meios com o transporte público é fundamental para viabilizar um sistema de mobilidade sustentável completo e atender à população que deseja se deslocar de forma ativa. Esse planejamento deve garantir que bicicletas, skates, patinetes e caminhadas não apenas se tornem alternativas viáveis, mas também práticas e confortáveis, com estações de apoio e segurança ao longo dos percursos. Isso permitirá que as pessoas tenham opções diversificadas de transporte, podendo escolher a que melhor se adapte ao seu trajeto e rotina diários, além de reduzir o impacto ambiental causado pelo uso de veículos motorizados.
Principais desafios de implementar a mobilidade sustentável
Desde o final da década de 1950, o Brasil experimentou uma expansão significativa da indústria automobilística, consolidando o carro particular como o principal meio de transporte. Esse movimento acompanhou um crescimento socioeconômico e transformou o automóvel em símbolo de status e progresso pessoal, favorecendo uma taxa de motorização que não para de subir.
Hoje, com uma frota de mais de 60 milhões de automóveis, o País enfrenta os impactos diretos dessa cultura automobilística, especialmente nas grandes cidades, onde a infraestrutura de trânsito está sobrecarregada. Em São Paulo, por exemplo, o tempo médio de deslocamento pode ultrapassar 2 horas diárias, segundo o IBGE, evidenciando os desgastes físico e psicológico da população.
Para mitigar esses impactos, o Brasil precisa investir em alternativas que priorizem o transporte público e incentivem opções coletivas e não motorizadas, como ciclovias, calçadas amplas e sistemas de aluguel de bicicletas e patinetes. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro têm expandido suas redes de transporte público e introduzido sistemas de corredores exclusivos para ônibus, mas ainda enfrentam dificuldades em atender de maneira eficiente a demanda nas periferias e áreas de difícil acesso, onde o transporte é escasso e o deslocamento cotidiano um desafio.
Além disso, promover uma mudança cultural é fundamental para que a população deixe de ver o carro como uma necessidade. A integração de políticas que valorizem o transporte público e as alternativas sustentáveis depende não só de infraestrutura, mas também de incentivos fiscais, conscientização sobre os impactos do trânsito e das emissões, além de investimentos.
Segundo um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o País precisaria de R$ 295 bilhões em mobilidade urbana até 2042 para atingir padrões semelhantes aos das cidades de Santiago (Chile) e Cidade do México. Esse montante seria direcionado à expansão das redes de transporte, implantação de corredores exclusivos e melhorias na frota de veículos. Um sistema público de transporte eficiente e acessível é essencial para incentivar a população a optar por alternativas ao carro particular, reduzindo o trânsito e as emissões de poluentes nas cidades.
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