Florestas urbanas resgatam cidades do calor abrasador
Do Paquistão ao Brasil, iniciativas de florestas urbanas ajudam a enfrentar ondas de calor, proporcionando alívio nas cidades.
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Redação em 24 de janeiro de 2024 5minutos de leitura
“Rio 40 graus”, como diz a canção originalmente composta e gravada por Fernanda Abreu, virou coisa do passado. Durante a onda de calor em novembro de 2023, a sensação térmica em Irajá, localizado na Zona Norte da cidade, atingiu 50,5 graus Celsius. Outras regiões do Brasil também testemunharam recordes de temperatura durante o mesmo período. Em dezembro, outra onda de calor elevou novamente os termômetros em todo o país, que já tinham testemunhado recorde em julho. Se a urbanização é um dos fatores que contribuem para o fenômeno global, mas é inevitável, porque não trazer para ela justamente os elementos de sua antagônica? Esse é o propósito das florestas urbanas.
Árvore a árvore, elas visam amenizar os efeitos do calor intenso no meio ambiente e, consequentemente, na segurança e na saúde das pessoas. Uma resposta ao estilo ‘se não pode contra, junte-se’, cujo foco é adaptar as áreas urbanas a um clima em constante transformação.
De uma onda de calor que assolou Karachi, a maior metrópole do Paquistão, nasceu a ideia da primeira floresta urbana da região. Em 2015 os termômetros da cidade chegaram a 45 °C. Em um país marcado pela desigualdade, quem tinha o privilégio do acesso ao ar-condicionado, recorreu a ele. O saldo foi a perda de 1,2 mil vidas.
Diante desse cenário e da pouca efetividade dos sistemas de climatização para um evento de tamanho proporção, seja pela sua inviabilidade para diversas camadas sociais, como também por agravar ainda mais a urgência do aquecimento global devido a emissões de gases de efeito estufa, o empreendedor Shahzad Qureshi adotou uma abordagem inovadora. Em vez de depender de soluções tradicionais, ele apostou na criação de florestas urbanas.
Por meio de um financiamento coletivo, em 2016 Qureshi liderou a criação da primeira “floresta urbana” de Karachi no parque público de Clifton. O projeto foi concebido com um enfoque voltado para a sustentabilidade a longo prazo, visando proporcionar benefícios para a comunidade local. Na área onde a floresta urbana foi implantada, anteriormente dominada por uma montanha de lixo, agora é possível ouvir o cantar dos pássaros entre as árvores.
Desde então, a ONG liderada por Qureshi traçou um caminho de transformação, criando oito pequenas florestas em Karachi e duas em Lahore por meio do inovador método Miyawaki, baseado em plantar florestas ultradensas e biodiversas apenas de espécies nativas. Como está escrito na apresentação da instituição, trata-se de uma ”estratégia exclusiva para construir biodiversidade, resiliência climática e bem-estar”, que, atualmente, reúne os chamados ”Forest Makers”, ou ‘fazedores de florestas” – pessoas e comunidades engajadas em criar florestas urbanas mundo afora. Até 2023 já haviam sido mapeadas 226 florestas com mais de 330 mil espécies nativas plantas, em 24 países, incluindo o Brasil.
O método demanda uma preparação minuciosa do solo, seguida pelo plantio densamente planejado de uma variedade de plantas florestais nativas, benéficas para a vida selvagem, em áreas geralmente comparáveis ao tamanho de uma quadra de tênis.
Dentre os objetivos delineados, destaca-se a missão de reverter as crescentes ilhas de calor, fenômeno desencadeado pela substituição da cobertura natural do solo por superfícies que absorvem e retêm calor, como pavimentos e edifícios.
Diversas cidades do Brasil estão embarcando nessa jornada verde, reconhecendo a importância de integrar a natureza ao cotidiano agitado das áreas urbanas. São Paulo, por exemplo, com suas vastas extensões de concreto, tem liderado esse movimento, com iniciativas como o Parque Cantareira, que se transformou em um pulmão verde para a metrópole. O Rio de Janeiro também possui florestas urbanas, sendo a maior delas o Parque Estadual da Pedra Branca, além de pleitear o título de sede da maior horta urbana do mundo.
Na área intraurbana de Curitiba, cientistas brasileiros conduziram uma pesquisa para avaliar o impacto das florestas urbanas nas variações termo-higrométricas. Os resultados indicam que, ao longo do dia, os parques aquecem de maneira mais gradual em comparação com as regiões urbanas.
A análise demonstrou que áreas da cidade com maior presença de espaços permeáveis, concentração de remanescentes florestais e espaços verdes públicos registraram temperaturas mais amenas e um aumento na umidade relativa do ar. Essas descobertas destacam a importância estratégica de áreas verdes na regulação térmica urbana e corroboram a ideia de que o planejamento urbano que valoriza esses elementos contribui para ambientes mais saudáveis e equilibrados. Ou seja, para além de sua função como reservatórios de carbono, essas áreas verdes auxiliam na atenuação dos impactos do aquecimento global, proporcionando também benefícios significativos para a saúde e a qualidade de vida.
Verde além do olhar
Contudo, especialistas como Wan-YU Shih, professor no departamento de planejamento urbano na Universidade de Ming-Chuan, em Taiwan, advertem que simplesmente aumentar a presença de áreas verdes, sem considerar as condições locais, pode resultar em uma eficácia limitada na redução do aquecimento urbano.
Conforme destacado por ele em artigo ao Eco-Business, em muitas situações, a eficácia dessas áreas verdes mal se faz perceber a uma distância superior a 100 metros. O professor ressalta que as formas topográficas e geométricas do entorno desempenham um papel crucial na determinação da extensão em que o ar frio pode penetrar, visto que fontes de calor e estruturas físicas podem servir como barreiras que bloqueiam o fluxo de ar.
Em ambientes urbanos densamente povoados, onde o espaço disponível é limitado, compreender essas condições se torna fundamental para desenvolver estratégias eficazes na criação de áreas verdes que verdadeiramente combatam o aumento da temperatura nas cidades.
Para ele, embora grandes áreas verdes sejam desejáveis para criar ilhas de resfriamento estáveis, nem todas as cidades têm a capacidade de implementá-las integralmente. Ainda assim, mesmo pequenos aglomerados de espaços verdes podem ser importantes na distribuição de ar frio e na redução do calor urbano.
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