Cidades sustentáveis: o que são e como funcionam?

As cidades sustentáveis integram uma série de diretrizes para melhorar a gestão das zonas urbanas e prepará-las para o futuro

Por Redação em 26 de dezembro de 2022 6 minutos de leitura

Os cidadãos, empresas e líderes políticos estão cada vez mais preocupados com o impacto que as ações humanas têm no meio ambiente. O debate sobre como construir cidades sustentáveis vem ganhando força à medida que entende-se o tamanho das consequências do consumo exacerbado de recursos naturais e emissões de carbono no futuro do planeta e do ser humano.

De acordo com o relatório “Perspectivas da Urbanização Mundial”, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, 55% da população mundial vive em áreas urbanas e a perspectiva é que esta proporção aumente para 70% até 2050. Esses dados indicam que o modelo atual não irá suportar o adensamento populacional previsto para as próximas décadas.

Se não houver uma mudança significativa no funcionamento das cidades, a vida e a convivência em comunidade serão insustentáveis, expondo as populações a crises energéticas, hídricas e de combustíveis fósseis. 

Por isso, as cidades sustentáveis não são vantajosas apenas do ponto de vista econômico e social, mas também ambiental, se mostrando como uma opção para a preservação da natureza e desenvolvimento socioeconômico. 

O que são cidades sustentáveis?

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As cidades sustentáveis são aquelas que adotam uma série de práticas inteligentes para o aprimoramento da qualidade de vida da população e preservação do meio ambiente. Ao invés de incentivar um crescimento e consumo desordenado, optam por iniciativas e programas de políticas públicas eficientes que reverberam positivamente na sociedade e no ecossistema, prezando pela sustentabilidade. 

O foco principal é reordenar o funcionamento dos centros urbanos para evitar o esgotamento dos recursos naturais, a destruição da flora e da fauna, conter a crise climática e garantir todos os benefícios que os moradores atuais possuem, mas mantendo as cidades habitáveis para as gerações futuras. Para isso, as políticas públicas devem contemplar as áreas da educação, trabalho, saúde, lazer, assistência social, meio ambiente, cultura, moradia e transporte.  

Dessa maneira, além de assegurar o funcionamento futuro dos centros urbanos, as cidades sustentáveis propiciam espaços públicos apropriados e estratégicos, promovendo saúde, felicidade, produtividade, facilidade de acesso a recursos básicos, além de impulsionar o investimento em desenvolvimento econômico e sustentabilidade. 

Quais são as principais características das cidades sustentáveis? 

Não existe necessariamente um padrão pré-estabelecido de práticas para as cidades sustentáveis, mas é fundamental que haja uma atuação contínua em prol da sustentabilidade, alinhando com o sucesso ambiental, social e econômico. Para que isso seja possível, algumas medidas são indispensáveis.

Políticas públicas

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O poder público não é o único responsável pela criação da cidade sustentável, mas possui um papel fundamental nessa jornada. Os líderes têm o poder de elaborar ideias, leis, iniciativas e programas que coloquem as pessoas, empresas e organizações no caminho da sustentabilidade. Além de atuar com mecanismos de incentivo a boas práticas e/ou sanções para procedimentos que prejudicam as comunidades e o meio ambiente.  

Desenvolvimento planejado

Diversas cidades crescem de modo irregular e caótico, passando por cima de áreas de encostas de morros, rios e vegetação nativa. Essa postura pode provocar acidentes, como enchentes e deslizamentos. 

No caso das cidades sustentáveis, há um planejamento para seguir com o desenvolvimento, incluindo demandas ambientais e sociais no projeto. Dessa forma, reduzem-se as chances de surgirem irregularidades em locais de risco. Não é à toa que o planejamento urbano é tido como fundamental para a construção das cidades do futuro. 

Arquitetura e urbanismo

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Além do desenvolvimento planejado, a cidade sustentável pensa na disposição das construções e elementos como se fossem um organismo vivo. A maneira como os edifícios são construídos é importante, assim como o número de árvores nas ruas e parques no centro urbano, evitando que a cidade tenha apenas asfalto e cimento, fato que eleva o calor e o risco de enchentes

Nesse ponto, além de planejamento, as tecnologias são grandes aliadas. Como exemplo prático, tem-se as edificações de Tóquio, no Japão, que possuem materiais e design pensados exclusivamente para conferir flexibilidade e mitigar os efeitos de terremotos, evento climático comum na região. Técnicas de construção sustentável, design urbano, uso de materiais sustentáveis, como o concreto verde, e até soluções inspiradas na natureza, como um tipo de mofo, podem contribuir para uma cidade sustentável.   

Mobilidade e acessibilidade

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Veículos que utilizam combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, são grandes problemas para a sustentabilidade, já que as emissões de carbono e outros gases de efeito estufa colaboram com o aquecimento global. Sendo assim, as cidades sustentáveis  buscam investir em infraestrutura para o transporte público, com o objetivo de influenciar as pessoas a optarem por essa alternativa, além do destaque para os meios alternativos como o uso de bicicletas e caminhadas. Nesse sentido, mais uma vez, a própria estrutura urbana tem papel estratégico, a exemplo da cidade de 15 minutos e, mais um vez, integrar tecnologia  e planejamento pode fazer a diferença, como o desenvolvimento e acesso ao carro elétrico.

Áreas verdes

A urbanização devastou matas e florestas. Os centros urbanos têm que conviver com os impactos dessa prática. Solos e rios ficaram desprotegidos, sendo degradados facilmente. A falta de áreas verdes dificultou a captação da água da chuva, propiciando problemas como enchentes e alteração no ciclo da água, causando secas. 

Por isso, a arborização e conservação da vegetação nativa fazem parte da agenda das cidades sustentáveis a fim de restabelecer as chuvas constantes e uma melhor qualidade do ar para os habitantes. Afinal, as consequências do desrespeito ao equilíbrio mostra que, definitivamente, a biodiversidade também é tema para as cidades.

Produção e consumo energético

Cortar desperdícios e diminuir o consumo de energia elétrica é fundamental para reduzir a poluição do ar e o efeito estufa. Sob este prisma, as cidades sustentáveis procuram promover a mudança na produção energética, alternando sua matriz e priorizando energia sustentável, bem como energia solar e eólica, as quais se enquadram na categoria de energias limpas e renováveis.

Exemplos de cidades sustentáveis no Brasil e no mundo

Existem diversos rankings que mostram exemplos de cidades sustentáveis no exterior e no Brasil, mas algumas cidades sempre aparecem em todas as listas. Cada uma delas se destaca por ações diferentes. 

Zurique, na Suíça, é considerada a cidade mais sustentável do mundo, pois é referência em reciclagem e reaproveitamento de lixo. A cidade também se tornou um exemplo em mobilidade urbana, já que 32% dos deslocamentos são feitos nos transportes públicos e 42% é a pé ou em bicicletas. 

Já Estocolmo, na Suécia, desponta devido às transformações promissoras, como a renovação de espaços urbanos antes ocupados por indústrias, transformando Hammarby Sjjöstad em um distrito ecológico, instalando circuitos fechados que fornecem eletricidade e água. 

Curitiba – Paraná

No Brasil, a cidade de Curitiba, no Paraná, ficou em primeiro lugar no ranking de cidades mais sustentáveis do País. As práticas sustentáveis da cidade focaram no transporte público, diminuindo a emissão de poluentes, além de investimentos na gestão de resíduos e reciclagem do lixo.

Enquanto João Pessoa, na Paraíba, tem aplicado o plano de ação sustentável que assegura a preservação dos recursos naturais, desenvolvimento em segurança, habitação, mobilidade e urbanização.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Neste cenário da criação de cidades sustentáveis ao redor do globo, a sustentabilidade se tornou alvo dos países que integram a ONU. Em 2015, a Organização apresentou aos países-membros uma agenda para o desenvolvimento sustentável com o intuito de estabelecer metas, prazos e compromissos para o enfrentamento dos principais problemas climáticos mundiais.

O acordo deu origem aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estipulando o ano de 2030 como prazo para atingir os compromissos assumidos. Divididos em 17 tópicos, os ODS estão ancorados em 5Ps: 

  • Pessoas: trabalhar com a intenção de acabar com a pobreza e a fome no mundo;
  • Planeta: compromisso com a preservação ambiental, através do consumo e produção sustentáveis e gestão sustentável dos recursos naturais;
  • Prosperidade: garantir a realização pessoal de todos, contribuindo para o progresso econômico, tecnológico e social em harmonia com os ecossistemas;
  • Paz: promoção de sociedades pacíficas, inclusivas e justas;
  • Parceria: os ODS devem ser buscados por meio de parceria entre nações, governos, organizações da sociedade civil, empresas e cidadãos.

Tais metas requerem ações em nível global, regional e local para que sejam atingidas. As demandas locais precisam incluir estratégias de desenvolvimento sustentável para as cidades, favorecendo a vida em harmonia com a natureza, sem deixar de lado o progresso e a inclusão social. 

Ao divulgar os conceitos dos ODS, as cidades sustentáveis ajudam a impedir os efeitos nocivos da exploração do meio ambiente, enquanto originam uma sociedade mais consciente e colaborativa.